segunda-feira, 9 de junho de 2008

tradução v. censura


A tradução incorreta das palavras de Condoleezza Rice sobre a indicação de Obama como candidato do Partido Democrático - efetivamente tornando-o o primeiro negro norte-americano com uma excelente chance de ser eleito Presidente dos Estados Unidos - me lembrou de um fato parecido, ocorrido nos idos de 1987, quando o regime do Apartheid ainda assolava na África do Sul.

O Bispo - agora Arcebispo - Desmond Tutu fez um discurso no Largo do Pelourinho, em inglês, com tradução consecutiva. Quando falava "blacks" (negros), o interprete traduzia como "as pessoas". Quando falava "whites" (brancos), foi novamente traduzido como "as pessoas". Só que o intérprete/censor se deu mal quando o bispo concluiu que "as pessoas" também eram prisioneiras do Apartheid - presas por trás dos muros erguidos para se proteger do crime e da violência gerados pela repressão "das pessoas". Com o fim do Apartheid, "as pessoas" poderiam sair de suas "prisões domiciliares".

Em outras palavras, a mensagem de paz e reconciliação proferida por um religioso foi deturpada por um ato consciente de censura. Naturalmente, o interprete teve que voltar atrás e falar de "negros" e "brancos". Ninguém me falou - eu presenciei.

2 comentários:

Lourdes Teodoro/Brasilia disse...

A observação quanto à má tradução da fala do bispo Desmond Tutu é muito importante. Observe-se que com frequência testemunhamos essas traições, mas nem sempre tornamos pública a percepção do voluntário equívoco. Parabéns!

Lourdes Teodoro/Brasilia disse...

A observação quanto à má tradução da fala do bispo Desmond Tutu é muito importante. Observe-se que com frequência testemunhamos essas traições, mas nem sempre tornamos pública a percepção do voluntário equívoco. Parabéns!