Vitória de candidato negro é vista como um exemplo de
ação afirmativa a ser seguido
ação afirmativa a ser seguido
Flávio Novaes
A pele negra do senador Barack Obama, anunciado na última terça-feira candidato do partido Democrata à presidência dos EUA, representa a cor de uma virada histórica, na opinião de intelectuais baianos. Segundo eles, é a vitória de uma séria e contínua política de ações afirmativas americanas que, após décadas de pequenas conquistas, chega ao ápice com a alvissareira notícia. O próximo passo – esperam – é comemorar a posse do 44º líder da maior potência do mundo, no dia 20 de janeiro de 2009.Ainda que o assunto tenha grande destaque no noticiário das oito e em todos os telejornais, jornais, rádios e sites possíveis, o tema parece ainda bem mais próximo dos baianos. Obama é neto de quenianos e aqueles traços que se destacam em meio à claque de maioria branca são o sinal de novos tempos na política internacional. “Isso (a candidatura) deverá influenciar cidades de população predominantemente negras como Salvador, São Luiz e Rio de Janeiro”, acredita o advogado João Jorge Rodrigues, professor de Direito Público da Universidade de Brasília (Unb) e presidente do grupo Olodum. “É um conjunto de impactos difícil de ser analisado agora, mas é uma decisão fulminante contra quem não resolveu apostar nas políticas de ações afirmativas”, completa.
O bloco afro dirigido por Rodrigues está sempre viajando em turnê pelos Estados Unidos. Já tocou com os músicos Paul Simon e Michael Jackson e tem boas relações com o cineasta Spike Lee. E é lá que vai buscar o título de doutorado, comparando as mesmas ações públicas desenvolvidas no Brasil e na terra de Obama. “Se ele ganhar as eleições, nosso país, com essa grande população negra, vai ficar constrangido, em uma saia-justa, por jamais ter conseguido colocar um candidato negro nessas condições”, afirma ele.
É agora - “Our moment is now” (nosso momento é agora, em português), estampava a página eletrônica da campanha de Obama, no dia seguinte à confirmação da candidatura, vaticinando a nova ordem mundial que pretende implantar. Change – mudança, em nosso idioma – é o cartaz empunhado pelos eleitores. “Um negro concorrendo à presidência traz um significado muito grande internamente nos Estados Unidos”, avalia a socióloga Luiza Bairros, consultora para diversas agências das Nações Unidas no Brasil.
A experiência de morar no estado de Michigan, no Centro-Oeste do país – onde fez a pós-graduação entre os anos 1993 e 1998 – proporciona uma análise detalhada do olhar político americano. De acordo com Luiza, os Democratas trabalham com uma agenda social mais avançada, enquanto que os republicanos, principais adversários, adotam uma política que prejudica os mais pobres. E as ações públicas afirmativas, como o incentivo à inclusão ao mercado de trabalho e ao ensino universitário, explicam parte do sucesso de Obama. “Além disso, ele integra o contexto de um profundo desencantamento nacional. Há uma crise econômica profunda, uma guerra perdida (Iraque) e um crescente processo de perda da hegemonia”, explica ela, mestre em sociologia pela Ufba.
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Vítimas do Katrina esperaram cinco dias
O furacão Katrina, que destruiu parte da cidade de New Orleans, sul dos EUA, no final de agosto de 2005, é usado como exemplo da discriminação nos Estados Unidos. Luiza Bairros lembra bem que os moradores esperaram até cinco dias pelo socorro do governo.
Ela esteve na Califórnia, no oeste do país, 15 dias depois da tragédia e, pela TV, acompanhou os debates que falavam da atuação do governo, além de presenciar a reação dos americanos nas ruas. “Ali, ficou evidenciada a forma como os republicanos tratam os negros”, afirma, referindo-se ao partido do atual presidente, George W. Bush, e ao descaso no atendimento aos moradores da cidade.
Obama surgiria, portanto, como uma espécie de super-herói, pronto para resolver os problemas raciais que afligem o país? “A candidatura desafia a sociedade a levar às últimas conseqüências, o que tem sido feito nos últimos anos. O surgimento do seu nome não aparece como algo fora do lugar”, responde Luiza.
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Campanha sem conotação racial
As referências às políticas afirmativas como sustentação do surgimento da candidatura Obama são vistas com bastante cuidado por alguém bem especial: o próprio Obama. Na convenção Democrata que consagrou John Kerry como candidato em 2004, o então senador disse que “Não existem uma América negra e uma América branca e uma América hispânica e uma América asiática – o que existe são os Estados Unidos da América.”
Em 2006, quando já era apontado como um futuro candidato, escreveu The audacity of hope (A audácia da esperança), e lá defende políticas universalistas. Mas não esquece um problema que está diante dos seus olhos. “Programas de ação afirmativa, quando estruturados corretamente, podem abrir oportunidades de outra maneira impossíveis para minorias com qualificação, sem diminuir as oportunidades para alunos brancos.” E também defende uma ação mais ampla. “A ênfase em programas universais, e não em programas de cunho racial, não é apenas uma boa política; é também uma boa ação política”.
Para o antropólogo Roberto Albergaria, famoso pela língua afiada, Barack Obama não é produto das ações afirmativas. “Ele é, sim, produto do melting-pot (mistura racial) norte-americano, filho de uma antropóloga branca com um muçulmano negro”, contesta. “Ele não é do gueto, foi criada por família branca e mostra que o sucesso independe da cor.”
A forte miscigenação da nova elite emergente americana é apontada por Albergaria como a responsável natural pelo fenômeno. “Ele é o novo americano, é o americano pós-negro”, diz.A socióloga Luiza Bairros contesta. Para ela, é impossível ser negro nos Estados Unidos e não se beneficiar dessa política. “No livro, ele também reconhece as questões raciais”, afirma. “E a tônica da sua campanha foi no sentido de não privilegiar a questão racial para não acirrar esses sentimentos”, finaliza.
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Oportunidade de ascensão socialO fator Obama é discutido há tempos em Salvador, considerada a “Roma Negra” brasileira. O surgimento de uma referência internacional de epiderme negra remete ao advogado Edvaldo Brito e ao bispo Márcio Marinho, soteropolitanos que assumem papéis de coadjuvantes na sucessão municipal de outubro. Mas a questão não se resume à política partidária. Obama representa bem mais do que facções em busca de poder.
“A cidade gostaria de ter um projeto nessa direção, de afirmação da negritude, não da forma que hoje se apresenta só tocando tambor e fazendo folclore, em sua maioria, mas no sentido de mudar esse perfil na economia, na saúde, na educação, com um projeto vigoroso e diferenciado, questionou há quase dois meses o jornalista Tasso Franco em sua coluna no site bahiaja.com.br. João Jorge responde. “Fatalmente as pessoas verão nele a possibilidade de também ascender socialmente, o que vai gerar uma transformação na sociedade”, acredita ele, que conheceu o candidato em 1991, quando esteve em Washington com um grupo de ativistas afro-brasileiros.
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Um comentário:
MUITO BOM ESSE ASSUNTO VER SE BOTA MAIS ASSUNTOS SOBRE NEGROS BAIANOS QUE SE DESTACARAM NA ARTES NA PINTURA E VARIAS OUTRAS COISAS QUE PUDER!!!
AMEI ESSE ASSUNTO CONSEGUI FAZER M TRABALHO QUE EU JA TAVA ESQUENTANDO A CABEÇA DE NAO CONSEGUI FOI QUANDO EU CHEGUEI AQUI CONSEGUI!!
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