quinta-feira, 27 de maio de 2010

quarta-feira, 26 de maio de 2010

Apresentação sobre Manuel Querino no III Seminário Preconceito na Fala, Preconceito na Cor

No dia 27, na Casa de Angola, a partir das 14h, Sabrina Gledhill coordenará uma mesa redonda durante o  III Seminário Preconceito na Fala, Preconceito na Cor e proferirá uma apresentação intitulada “Este Negro Não Se Enxerga”: Manuel Querino e a luta contra o preconceito

III Seminário: Preconceito na fala, preconceito na cor

Atenção!!!
Professores  e estudantes de graduação e pós-graduação, professores da rede pública estadual e municpal, membros de associações e movimentos negros, irmandades e o público em geral...
INSCRIÇÕES PARA OUVINTES ATÉ OS DIAS DO SEMINÁRIO !!!!
Período: 26, 27 e 28 de maio de 2010.
Local: Casa de Angola - Ba
Valor: 35,00.
Obs. Só terão os certificados aqueles que obtiverem frequencia integral.
Até lá!!!!

quinta-feira, 13 de maio de 2010

Proibidos cursos sobre minorias étnicas no Arizona (EUA)

 
A governadora do Arizona, Jan Brewer, que recentemente aprovou uma lei polêmica criminalizando os imigrantes ilegais, deu mais um passo controverso nesta quarta-feira ao assinar outra lei, desta vez proibindo escolas de darem cursos específicos sobre o papel das minorias étnicas na história e cultura dos EUA.
A decisão foi tomada horas depois de especialistas em direitos humanos da ONU (Organização das Nações Unidas) condenarem a medida. 
O secretário de Educação do Estado, Tom Horne, disse ontem que o programa da escola do distrito de Tucson promove "chauvinismo étnico" e ressentimento racial contra os brancos, ao mesmo tempo em que segrega os alunos por raça.
A medida proíbe aulas que promovam solidariedade étnica, que tenham como principal alvo os alunso de uma raça particular ou que promovam ressentimento contra um certo grupo étnico.
O programa do Distrito Escolar Unificado de Tucson oferece cursos especializados em estudos sobre afro-americanos, mexicano-americanos e americanos nativos, com foco em história e literatura, e que incluem informações sobre a influência de um grupo particular.
Por exemplo, no programa de estudos mexicano-americanos, um curso de história americana explora o papel dos hispânicos na guerra do Vietnã (1959-1975), e um curso de literatura focado em autores latinos.
No distrito, 56% da população é de origem hispânica, com cerca de 31 mil alunos latinos.
Cerca de 1.500 alunos em seis escolas de Ensino Médio no distrito estão matriculados nos cursos.
 
Motivos alegados
 
Horne disse acreditar que o programa de estudos mexicano-americanos ensina alunos latinos que eles são oprimidos pelos brancos. Escolas públicas não deveriam encorajar alunos a se ressentirem de uma raça particular, alega ele.
Republicano concorrendo a promotor geral, Horne vinha tentando restringir o programa de estudos étnicos desde que soube que a ativista hispânica de direitos civis Dolores Huerta disse a alunos em 2006 que "Republicanos odeiam latinos".
"O governo acredita que alunos de escolas públicas deveriam ser ensinados a tratar e valorizar aos outros como indivíduos e não serem ensinados a se ressentirem ou odiarem outras raças ou classes de pessoas", disse o porta-voz da governadora, Paul Senseman.
Jan Brewer assinou a lei menos de um mês depois de ter assinado a lei mais dura dos EUA contra a imigração ilegal --uma atitude que disparou críticas mundiais, acusando-a de encorajar a discriminação racial dos hispânicos.
 
Defesa
 
Autoridades do distrito defenderam que o programa não promove ressentimento, e acreditam que estaria de acordo com a nova lei.
Sean Arce, diretor do programa de Estudos Mexicano-Americanos, disse no mês passado que alunos vão melhor na escola se eles veem no currículo pessoas que se parecem com eles.
"É um programa atraente, e é uma pena que a lei estadual possa ir tão longe a ponto de censurar essas aulas", disse.
Seis especialistas em direitos humanos da ONU divulgaram um comunicado nesta terça-feira expressando preocupação sobre a medida. Todas as pessoas têm o direito de aprender sobre sua própria herança cultural e linguística, disseram.
A lei não proíbe aulas que ensinam sobre a história de um grupo étnico particular, desde que o curso seja aberto a todos os alunos e não promova solidariedade étnica ou ressentimento.
Com Associated Press e Efe

quarta-feira, 12 de maio de 2010

Seminário sobre o Museu Digital da Memória Afro-Brasileira

Convidamos todos os interessados a participar do Primeiro Seminário do projeto de Museu Digital da Memória Afro-Brasileira que se realiza no CEAO nos dias de 10 e 11 de Junho com o apoio do Programa Pró-Cultura da Capes, que une o PPG em Estudos Étnicos e Africanos da UFBA(programa coordenador do projeto), o PPG em Antropologia da UFPE e o PPG em Ciências Sociais da UFMA. Participam deste seminário, entre outros, Sérgio Ferretti e Carlos Benedito (UFMA), António Motta (UFPE), Myrian Santos (UERJ) e pesquisadores de outras instituições de Pernambuco, Rio de Janeiro e Bahia. Neste seminário visamos debater os desafios e as possibilidades proporcionados pelo processo de construção do Museu Digital da Memória Afro-Brasileira, um projeto de abrangência nacional que já dispõe de bases em S.Luis, Recife, Salvador e Rio de Janeiro e recebeu apoio de diferentes entidades (Finep, Prins Claus Foundation, Capes, Faperj, Fapesb e CNPq) e que conta com a colaboração de importantes arquivos no exteriro (Smithsonian, Melville Herskovits Library, UNESCO). Nosso Museu Digital está agora filiado á Rede da Memória Virtual da Fundação Biblioteca Nacional, pretende se cadastrar na lista de museus digitasi mantida pelo Insttuto Brasileiro do Museu (IBRAM) e escolheu a Biblioteca Nacional para ser nosso depositário digital (é lá que será quardada cópia de todos os documentos em formado de alta definição).
Pela manhã o encontro é reservado aos pesquisadores júnior e sénior que já integram as equipes do projeto. Duas sessões do seminário estão abertas ao público, nas tardes de quinta e sexta feiras dia 10 e 11 de Junho.

Programação:
Qunta feira dia 10:
9-12.30 h: sessão de trabalho sobre o sistema de arquivação

14.30-18h : Sessão publica: Como funciona nosso Museu Digital? Apresentação do trabalho das equipes no Maranhão, Pernambuco, Bahia e Rio de Janeiro


Sexta feira dia 11 de junho:
9-12.30 h: segunda sessão de trabalho dedicada ao termos de cessão e responsabilidade digital.

14.30-18h : Sessão Pública: Politica e prática de um museu digital da memória afro-brasileira.

18.hs Coquetel de lançamento do Museu Digital da Memória Afro-Brasileira.


Os interessados em participar podem se inscrever por Email no fabrica@ufba.br ou pelo telefone 71-33226813.


Aqui segue uma breve descrição de nosso projeto, cuja homepage, ainda em consntrução, é www.arquivoafro.ufba.br. O propósito do primeiro Museu Digital da
Memória Afro-Brasileira é disponibilizar e intercambiar cópias de documentos por
internet, reunindo num só acervo documental digital os fundos de arquivo relativos aos Estudos Afro-Brasileiros que hoje se acham dispersos em várias instituições e coleções privadas, tanto nacionais como internacionais.
Este projeto se inicia como uma iniciativa de pesquisa e extensão do Programa Fábrica de Idéias, hoje lotado no Centro de Estudos Afro-Orientais/CEAO da UFBA, em parceria com outras universidades nacionais (sobretudo UFPE, UFMA, UERJ e UEFS) e estrangeiras, bem como com arquivos e fundos documentais tanto nacionais quanto internacionais. Para tal, conta ainda com a participação de pesquisadores de outras unidades e instituições, a exemplo da Faculdade de Educação da UFBA, da Universidade Federal do Recôncavo Baiano /UFRB, do Arquivo Histórico de Moçambique (AHM) e o apoio da Associação Brasileira de Antropologia/ABA.
Propor a construção de museu totalmente virtual para resgate da memória afrobrasileira é também uma estratégia para fomentar a relação entre a Universidade,
museus físicos, os centros de pesquisa e a sociedade. Em um sentido mais geral,
nosso objetivo é também a criação de melhores condições para a institucionalização e o fortalecimento em nível de pesquisa dos Estudos Étnico-Raciais.

Nossos propositos são:
1.      Digitalizar documentação, acervos particulares, inventariar memórias vivas das
culturas afro-descendentes;
2. Estimular a produção de tecnologias sociais; e ferramentas interativo-colaborativas
que possibilitam ampliar a construção de novas bases de dados e fontes para
pesquisadores interessados na temática dos estudos étnicos e africanos e áreas afins;
3 Desenvolver em parceria com diversos arquivos e pesquisadores um
ambiente/plataforma, (posteriormente um software para fins educativos) para a
preservação de arquivos no Brasil e na África (sobretudo, em Moçambique, Cabo Verde, Guiné Bissau, Angola e Senegal).

Nosso Lema
Generosidade digital, isto é, a idéia de um museu sem dono;
Repatriação digital, ou seja, incentivo a que os arquivos retornem a seus locais de origem;
Doação digital e preservação da Memória das populações subalternizadas.

Aos interessados em participar da construção do nosso acervo através de sugestões e/ou doações de documentos de qualquer tipo, é possível fazê-las mediante
contato via e-mail (arquivoafro@ufba.br) ou telefone (71) 3283-5509.

Coleções on line
Alguns catálogos e acervos já se encontram digitalizados. Demos preferência neste
momento incial do projeto em reunir os fundos de arquivo correspondentes ao
período 1930-1960 com trabalhos produzidos por antropólogos e etnólogos. Será possível ver também documentos do Arquivo Histórico de Moçambique, um dos nossos parceiros no desenvolvimento de novas técnicas e abordagens, bem como registros de áudio.

Acervo:
Já estão on line algumas coleções, entre outras:
Ruth Landes
Franklin E. Frazier
Melville Herskovits
Donald Pierson
Arquivo Histórico de Moçambique (AHM)
Luiz Cleber Moraes Freire
UNESCO – Projeto UNESCO no Brazil e Declaração sobre a Raça
Áudio (gravações de M. Herskovits e L. Turner)

Já se encontram digitalizadas e, em breve,estarão on line outras coleções, a exemplo
de:
Fundos de Arquivo de outros membros doProjeto UNESCO;
Fundos de arquivo de outros cientistas sociais que atuaram na Bahia (1930-60).

segunda-feira, 10 de maio de 2010

Inscrições abertas

    Estão abertas as inscrições
                 para os cursos de                                                     

Inglês, Yorùbá, Gramática Portuguesa e Matemática Básica e Raciocínio Lógico
No Centro de Cultura e Idiomas Mário Gusmão 
As inscrições podem ser feitas de segunda à sexta das 14:00 às 18:30 h,
Edf. Themis 2º andar – sala 215, Pça da Sé, nº398 – Centro Histórico, Salvador – Ba.
Tel.: 3497-2845/8885-3857
                                           Turmas de Inglês ou Yorùbá (língua africana oriunda da Nigéria), Nível iniciante ou intermediário em diversos horários.
                                               Matemática Básica, às terças e quintas e Gramática Portuguesa, ás sextas (com vídeo aulas e duração de três meses).

quinta-feira, 6 de maio de 2010

Convite - Mini-Curso

Literatura afro-colombiana em diálogo com a literatura afro-brasileira com a professora Drª Maria Cândida Ferreira (Profesora Departamento de Humanidades y Literatura -Universidad de los Andes)


Onde: CEAO (Largo 2 de Julho, Salvador - BA)


Quando: de 17, 18, 19, 20 e 24 de maio de 2010


Horário: 18hrs-20hs (exceto na quinta-feira que será entre 14-18 horas)

Mentira tem perna curta

A revista *Veja*  desta semana (ano 43 nº 18, de 05/05/2010) publicou
uma matéria intitulada "A farra da antropologia oportunista", na qual
denunciava a (suposta) forma como vêm sendo realizadas demarcações de terra
destinadas a populações indígenas e remanescentes quilombolas no Brasil,
afirmando que a inadequabilidade dos critérios e a leniência dos órgãos
responsáveis estariam resultando em uma "indústria da demarcação" na qual
ONGs, antropólogos, missionários, etc., incitariam populações a "se dizerem"
índios por motivos escusos, buscando benefícios ecônomicos, ou simplesmente
por serem "opositores do progresso". De acordo com os jornalistas, esta
"farra" é mais um dos muitos entraves para o desenvolvimento do Brasil já
que resultaria na imobilização de um grande percentual de terras (a revista
fala em 77,6%) que poderiam de outra forma ser utilizada para atividades
agrícolas.

A reportagem, entretanto, se baseia em uma série de inverdades, com números
fraudulentos e depoimentos falsos, além de uma leitura equivocada sobre a
Constituição Brasileira no que tange ao assunto. Escrita em um tom sardônico
e generalizando episódios relatados de maneira interessada e parcial, ela só
reproduz e alimenta uma série de preconceitos, além de prestar um verdadeiro
"serviço de desinformação". É, para dizer o mínimo, um exemplo de mau
jornalismo.

Discordo, por princípio, da posição da revista (de que a garantia de
direitos de minorias seria um entrave para o desenvolvimento do Brasil tanto
quanto discordo que a "solução" para o Brasil seja o agronegócio) mas
defendo de bom grado o direito de qualquer pessoa de expressar opiniões
diferentes da minha, e inclusive propor debates sobre estas questões que
acredito, extremamente relevantes. Mas isto precisa ser feito de maneira
minimamente responsável e honesta. Definitvamente não é este o caso.

Mas enquanto a Veja é uma revista de ampla circulação, que pode ser lida em
qualquer sala de espera do Brasil, as inúmeras respostas geradas pela
reportagem (inclusive dos antropólogos que tiveram afirmações falseadas),
provavelmente circularão em redes mais ou menos restritas, ou se muito,
terão espaço em uma nota de desagravo.

Justamente por isso, reproduzo abaixo o texto do colega Rafael Barbi que se
prestou a comentar a reportagem reunindo alguns dados que desmentem
facilmente as estatísitcas apresentadas pela Veja, além de apresentar as
respostas e tréplicas dos antropólogos envolvidos.

Peço que leiam e repassem, por favor.

Tainah



A farra do jornalismo
oportunista?< http://faire-savoir.info/2010/05/04/a-farra-do-jornalismo-oportunista/ >
maio
4, 2010

A revista Veja dessa semana publicou uma matéria intitulada “*A farra da
antropologia oportunista*”. Aparentemente os jornalistas Leonardo Coutinho,
Júlia de Medeiros e Igor Paulin desejavam denunciar o que seria uma espécie
de “esquema” entre ONGs internacionais, antropólogos e o Governo Federal
para extinguir a propriedade privada de imóveis rurais no Brasil através da
demarcação de terras indígenas e terras de quilombo, além da criação de
unidades de conservação.

Comento a matéria aqui sem entrar no mérito de outras questões mais
profundas, comento dois aspectos da reportagem que são absolutamente
hediondos para os padrões de qualquer tipo de jornalismo.
A falácia

Os repórteres abrem a matéria com a seguinte afirmação:

*Áreas de preservação ecológica, reservas indígenas e supostos antigos
quilombos abarcam, hoje, 77,6% da extensão do Brasil.*

Qualquer alma com dois dedos de bom senso questionaria essa afirmação. Uma
vez que as terras indígenas correspondem a 13% da área do país, sobretudo na
região amazônica. Coloco aqui dados do Instituto Socioambiental acerca dessa
extensão:

O Brasil tem uma extensão territorial de 851.196.500 hectares, ou seja,
8.511.965 km2. As terras indígenas (TIs) somam 653 áreas, ocupando uma
extensão total de 110.500.556 hectares ( 1.105.006  km2). *Assim, 13% das
terras do país são reservados aos povos
indígenas.*< http://pib.socioambiental.org/pt/c/terras-indigenas/demarcacoes/localizacao-e-extensao-das-tis >

*A maior parte das TIs concentra-se na Amazônia Legal: são 409 áreas,
108.720.018 hectares, representando 21.67% do território amazônico e 98.61%
da extensão de todas as TIs do país. O restante, 1.39%, espalha-se pelas
regiões Nordeste, Sudeste, Sul e estado do Mato Grosso do
Sul.*< http://pib.socioambiental.org/pt/c/terras-indigenas/demarcacoes/localizacao-e-extensao-das-tis >

Agora vejamos um mapa onde essas terras estão representadas:

< http://fairesavoir.files.wordpress.com/2010/05/mapa_4-6.png>

Digamos então, que o restante dessa porcentagem absurda levantada pelos
jornalistas, agora 64,6%, estivesse relacionado às terras de quilombo ou às
unidades e conservação. Ainda assim os números parecem não bater, já que
segundo o “Atlas da Questão Agrária
Brasileira< http://www4.fct.unesp.br/nera/atlas/index.htm>”,
organizado pela UNESP, as áreas unidades de conservação federais e estaduais
em 2007

totalizavam *99,7 milhões de hectares*, sendo *98 milhões referentes às
unidades de conservação em ambientes terrestres.* Dessas unidades, 310 (41,5
milhões de ha) são de proteção integral e 286 (58,2 milhões de ha) de uso
sustentável. Entre 1997 e 2007 foram criadas 251 unidades de conservação e
acrescidos 51,35 milhões de hectares de unidades em ambientes terrestres. A
distribuição territorial das unidades de conservação é desigual e a maior
parte está no bioma amazônico, que concentra 74,2 milhões de hectares –
75,7% do
total.< http://www4.fct.unesp.br/nera/atlas/configuracao_territorial.htm#ucs >

Lembrando “o Brasil tem uma extensão territorial de 851.196.500 hectares”,
os 98 milhões de hectares, já que estamos excluindo as unidades de
conservação oceânicas, corresponderiam a aproximadamente *11,71% *do
território nacional. Lembrando que boa parte dessas terras não é
“improdutiva”, mas são as chamadas “áreas de uso sustentável” que seguem
regras especiais para a exploração, como demonstra o mapa abaixo.

< http://fairesavoir.files.wordpress.com/2010/05/mapa_4-5.png>

Então, temos 24,7 1% do Brasil dedicado a terras indígenas e unidades de
conservação, correto? Não necessariamente. Se sobrepusermos os dois mapas é
possível perceber que há sobreposição de áreas de unidades de conservação e
terras indígenas em vários pontos do país, o que diminuiria esse percentual.
Mas, vamos supor que há 24% do território nacional, sobretudo na Amazônia
Legal, dedicado a unidades de conservação e terras indígenas.

< http://fairesavoir.files.wordpress.com/2010/05/mapa-verdade.jpg >

Para chegar então aos 53,6% restantes (77,6% – 24%) seria necessário que as
terras de quilombo abarcassem estrondosos 459 milhões de hectares… o que não
é verdade. Segundo a comissão Pró-Índio de São Paulo

*Em setembro de 2008, os territórios quilombolas titulados somavam 1.171.213
hectares. Até essa data, o Pará continuava como o estado com a maior
extensão titulada: 628.674,7 hectares, o que corresponde a cerca de 54% do
total já
regularizado.< http://www.cpisp.org.br/terras/html/pesquisa_porque_placar.asp>
*

[Para os mais interessados, aqui há uma
tabela< http://www.cpisp.org.br/terras/ASP/terras_tabela.asp>
onde estão
os nomes, localização, e área de todas as comunidades.]

Logo, temos 1.171.213 hectares em terras de quilombo tituladas, o que
corresponde a, vejam só,  0,13% do território nacional. E as maiores terras
também estão na área da Amazônia Legal – novamente desconsiderando
sobreposições com unidades de conservação.

*Com base nesses dados, a porcentagem de 77,6% alegada na reportagem da
revista Veja é não se sustenta sob qualquer argumento.* Além disso, a
matéria dá a entender que basta requerer a terra para se ter acesso a ela,
ou mesmo que o governo em exercício estaria sendo uma espécie de facilitador
do processo. Isso não se sustenta no caso das terras de
quilombo< http://www.correiobraziliense.com.br/app/noticia182/2010/01/25/brasil,i=168796/CONCESSAO+DA+POSSE+DE+TERRAS+QUILOMBOLAS+E+400+MENOR+NO+GOVERNO+LULA+EM+RELACAO+A+GESTAO+FHC.shtml >e
nem das terras indígenas, uma vez que o governo em exercício demarcou
e
homologou *menos terras (em extensão e quantidade) *do que o governo
anterior!

A matemática exotérica dessa reportagem parece estar baseada numa alegação
da Senadora Kátia
Abreu< http://oglobo.globo.com/economia/miriam/posts/2010/05/02/contra-os-fatos-288007.asp >,
de que “90% do território brasileiro estaria congelado e inacessível ao
‘progresso’, como terras indígenas, quilombos, parques, cidades e
infra-estrutura”.< http://cienciaemdia.folha.blog.uol.com.br/arch2010-05-02_2010-05-08.html#2010_05-03_15_50_23-129493890-28 >A
Senadora disse ter encomendado uma pesquisa junto à Embrapa que
provaria
isso… espero que os pesquisadores em questão saibam soma, subtração e
porcentagem.
A fraude

A reportagem é escrita como se fosse um conto, uma peça de ficção, parte de
um panfleto, não havendo fonte citada para qualquer uma das informações
presentes. Também parece-me estranho que uma reportagem com uma denúncia tão
severa, que basicamente implica o fim da propriedade privada de imóveis
rurais no Brasil, não conte com qualquer tipo de mobilização contrária por
parte de geógrafos, agrônomos, professores ou políticos. Não haveriam
centenas de pessoas contra tamanha mudança na questão fundiária brasileira?
Essas pessoas não dariam sua opinião à Veja? Essa ausência de opiniões
contrárias parece justificada pela suposição da reportagem de que a
demarcação de terras indígenas e terras de quilombo seria parte de um
“esquema” do qual a população em geral e até setores do Estado não saberiam
– o que é absolutamente inverossímil.

A reportagem traz, no entanto, duas supostas afirmações de antropólogos
conhecidos no Brasil. Uma seria de Eduardo Viveiros de Castro, professor do
Museu Nacional, e outra de Mércio Pereira Gomes, ex-presidente da FUNAI e
professor da Universidade Federal Fluminense. *Ambos se manifestaram dizendo
que não foram entrevistados pela revista, e que esta distorceu suas
palavras.*

Reproduzo as frases aqui:

- Frase atribuída a Mércio Gomes

“*Diante desse quadro, é preciso dar um basta imediato nos processos de
demarcação*“, como já advertiu há quatro anos o antropólogo Mércio Pereira
Gomes, ex-presidente da Funai e professor da Universidade Federal
Fluminense.

- Resposta de Mércio Gomes

Denego-lhe o falso direito jornalístico de atribuir a mim uma frase
impronunciada e um sentido desvirtuante daquilo que penso sobre a questão
indígena
brasileira.< http://merciogomes.blogspot.com/2010/05/resposta-materia-da-veja-farra-da.html >

- Frase atribuída a Viveiros de Castro

Casos assim escandalizam até estudiosos benevolentes, que aceitam a tese dos
“índios ressurgidos”. “*Não basta dizer que é índio para se transformar em
um deles. Só é índio quem nasce, cresce e vive num ambiente de cultura
indígena original*“, diz o antropólogo Eduardo Viveiros de Castro, do Museu
Nacional, no Rio de Janeiro.

- Resposta de Eduardo Viveiros de Castro

Na matéria “A farra da antropologia oportunista” (Veja ano 43 nº 18, de
05/05/2010), seus autores colocam em minha boca a seguinte afirmação: “Não
basta dizer que é índio para se transformar em um deles. Só é índio quem
nasce, cresce e vive num ambiente cultural original*”. Gostaria de saber
quando e a quem eu disse isso, uma vez que (1) nunca tive qualquer espécie
de contato com os responsáveis pela matéria; (2) não pronunciei em qualquer
ocasião, ou publiquei em qualquer veículo, reflexão tão grotesca, no
conteúdo como na forma.* Na verdade, a frase a mim mentirosamente atribuída
contradiz o espírito de todas declarações que já tive ocasião de fazer sobre
o tema. Assim sendo, cabe perguntar o que mais existiria de “montado” ou de
simplesmente inventado na matéria. A qual, se me permitem a opinião, achei
repugnante.
< http://colunistas.ig.com.br/luisnassif/2010/05/02/direito-de-resposta-7/ >

A Veja respondeu no dia 03/05/2010 afirmando

O antropólogo Eduardo Viveiros de Castro enviou a VEJA uma carta - divulgada
amplamente na internet - sobre a reportagem *“A farra antropológica
oportunista” **[sic]*, publicada nesta edição da revista. Na carta, Viveiros
de Castro diz: “(1) nunca tive qualquer espécie de contato com os
responsáveis pela matéria; (2) não pronunciei em qualquer ocasião, ou
publiquei em qualquer veículo, reflexão tão grotesca, no conteúdo como na
forma”.

Sua primeira afirmação não condiz com a verdade. No início de março, VEJA
fez contato com Viveiros de Castro por intermédio da assessoria de imprensa
do Museu Nacional do Rio de Janeiro, onde ele trabalha. Por meio da
assessoria, Viveiros de Castro recomendou a leitura de um artigo seu
intitulado “No Brasil todo mundo é índio, exceto quem não é”, que
expressaria sua opinião de forma sistematizada e autorizou VEJA a usar o
texto na reportagem de uma maneira sintética.

Também não condiz com a verdade a afirmação feita por Viveiros de Castro no
item (2) de sua carta. *A frase publicada por VEJA espelha opinião escrita
mais de uma vez em seu texto* (“Não é qualquer um; e não basta achar ou
dizer; só é índio, como eu disse, quem se garante” e “pode-se dizer que ser
índio é como aquilo que Lacan dizia sobre ser louco: não o é quem quer. Nem
quem simplesmente o diz. Pois só é índio quem se garante”).

O antropólogo Viveiros de Castro pode não corroborar integralmente o
conteúdo da reportagem, mas concorda, sim, como está demonstrada em sua
produção intelectual, que a autodeclaração não é critério suficiente para
que uma pessoa seja considerada indígena.

O texto em questão se encontra disponível
aqui< http://sites.google.com/a/abaetenet.net/nansi/abaetextos/exceto-quem-n%C3%A3o-%C3%A9-eduardo-viveiros-de-castro >e
foi integralmente
reproduzido pela revista Veja com algumas partes negritadas que supostamente
corroborariam que o ponto de vista do pesquisador era condizente com o da
publicação< http://veja.abril.com.br/noticia/brasil/brasil-todo-mundo-indio-quem-nao-555649.shtml >.
Não entrando no mérito da interpretação do texto, é possível afirmar que
houve, no mínimo, má fé por parte do trio de jornalistas responsáveis pela
reportagem. Não sou jornalista e não sei nada acerca da política de ética da
revista Veja, mas aspas são aspas! Se você não entrevistou alguém ou não
está fazendo uma citação *ipsis litteris* de um conteúdo elas não valem. Não
adianta dizer que a frase “espelha” a opinião do professor (ainda que ela
não o faça), isso não torna a suposta citação menos fraudulenta.

O professor Viveiros de Castro respondeu
novamente< http://colunistas.ig.com.br/luisnassif/2010/05/04/direito-de-resposta-a-veja-2/ >
:

Aos Editores da revista Veja:

Em resposta à mensagem que enviei à revista Veja no dia 01/05, denunciando a
imputação fraudulenta de declarações que me é feita na matéria “A farra da
antropologia oportunista”, o site Veja.com traz ontem uma resposta com o
título “No Brasil, todo mundo é índio, exceto quem não é”. Ali, os
responsáveis pela revista, ou pela resposta, ou, pelo jeito, por coisa
nenhuma, reincidem na manipulação e na mentira; pior, confessam cinicamente
que fabricaram a declaração a mim atribuída.

Em minha carta de protesto inicial, sublinhei dois pontos: “(1) que nunca
tive qualquer espécie de contato com os responsáveis pela matéria; (2) que
não pronunciei em qualquer ocasião, ou publiquei em qualquer veículo,
reflexão tão grotesca, no conteúdo como na forma”.

Veja contesta estes pontos com os seguintes argumentos:

(1) “Sua primeira afirmação não condiz com a verdade. No início de março,
VEJA fez contato com Viveiros de Castro por intermédio da assessoria de
imprensa do Museu Nacional do Rio de Janeiro, onde ele trabalha. Por meio da
assessoria, Viveiros de Castro recomendou a leitura de um artigo seu
intitulado “No Brasil todo mundo é índio, exceto quem não é”, que
expressaria sua opinião de forma sistematizada e autorizou VEJA a usar o
texto na reportagem de uma maneira sintética.”

Respondo: é falso. A Assessoria de Imprensa do Museu Nacional telefonou-me,
talvez no início de março (não acredito mais em nada do que a Veja afirma),
perguntando se receberia repórteres da mal-conceituada revista, a propósito
de uma matéria que estariam preparando sobre a situação dos índios no
Brasil. Respondi que não pretendia sofrer qualquer espécie de contato com
esses profissionais, visto que tenho a revista em baixíssima estima e
péssima consideração. Esclareci à Assessoria do Museu que eu tinha diversos
textos publicados sobre o assunto, cuja consulta e citação é, portanto,
livre, e que assim os repórteres, com o perdão da expressão, que se
virassem. Não “recomendei a leitura” de nada em particular; e mesmo que o
tivesse feito, não poderia ter “autorizado Veja” a usar o texto,
simplesmente porque um autor não tem tal poder sobre trabalhos seus já
publicados. Quanto à curiosa noção de que eu autorizei a revista, em
particular, a “usar de maneira sintética” esse texto, observo que, além de
isso “não condizer com a verdade”, certamente não é o caso que esse poder de
síntese de que a Veja se acha imbuída inclua a atribuição de sentenças que
não só se encontram no texto em questão, como são, ao contrário e
justamente, contraditas cabalmente por ele. A matéria de Veja cita, entre
aspas, duas frases que formam um argumento único, o qual jamais foi
enunciado por mim. Cito, para memória, a atribuição imaginária: “Não basta
dizer que é índio para se transformar em um deles. Só é índio quem nasce,
cresce e vive num ambiente cultural original” . Com isso, a revista induz
maliciosamente o leitor a pensar que (1) a declaração foi dada de viva voz
aos repórteres; (2) ela reproduz literalmente algo que disse. Duas
grosseiras inverdades.

Veja contesta o segundo ponto com o argumento:

(2) “Também não condiz com a verdade a afirmação feita por Viveiros de
Castro no item (2) de sua carta. A frase publicada por VEJA espelha opinião
escrita mais de uma vez em seu texto (“Não é qualquer um; e não basta achar
ou dizer; só é índio, como eu disse, quem se garante” e “pode-se dizer que
ser índio é como aquilo que Lacan dizia sobre ser louco: não o é quem quer.
Nem quem simplesmente o diz. Pois só é índio quem se garante”).” Ato
contínuo, a revista dá o texto na íntegra, repetindo que eu a autorizei a
usar o texto “da forma que bem entendesse”.

(Veja o link para meu texto:
http://pib.socioambiental.org/files/file/PIB_institucional/No_Brasil_todo_mundo_%C3%A9_%C3%ADndio.pdf
).

Pela ordem. Em primeiro lugar, essa resposta da revista fez desaparecer,
como num passe de mágica, a frase propriamente afirmativa de minha suposta
declaração, a saber, a segunda (Só é índio quem nasce, cresce e vive em um
ambiente cultural original”), visto que a primeira (Não basta dizer que é
índio etc.) permanece uma mera obviedade, se não for completada por um
raciocínio substantivo. Ora, o raciocínio substantivo exposto em meu texto
está nas antípodas daquele que Veja falsamente me atribui. *A afirmação de
Veja de que eu a autorizara a “usar” o texto da forma que ela “bem
entendesse” parece assim significar, para os responsáveis (ou não) pela
revista, que ela poderia fabricar declarações absurdas e depois dizer que
“sintetizavam” o texto. Esse arrogamente “da forma que bem entendesse” não
pode incluir um fazer-se de desentendido da parte da Veja.*

Reitero que a revista fabricou descaradamente a declaração “Só é indio quem
nasce, cresce e vive em um ambiente cultural original”. Se o leitor tiver o
trabalho de ler na íntegra a entrevista reproduzida em Veja.com, verá que eu
digo exatamente o contrário, a saber, que é impossível de um ponto de vista
antropológico (ou qualquer outro) determinar condições necessárias para
alguém (uma pessoa ou uma coletividade) “ser índio”. A frase falsa de Veja
põe em minha boca precisamente uma condição necessária, e, ademais, absurda.
Em meu texto sustento, ao contrário e positivamente, que é perfeitamente
possível especificar diversas condições suficientes para se assumir uma
identidade indígena. Talvez os responsáveis pela matéria não conheçam a
diferença entre condições necessárias e condições suficientes. Que voltem
aos bancos da escola.

A afirmação “só é índio quem nasce, cresce e vive em um ambiente cultural
original” é, repito, grotesca. Nenhum antropólogo que se respeite a
pronunciaria. Primeiro, porque ela enuncia uma condição impossível (o
contrário de uma condição necessária, portanto!) no mundo humano atual;
impossível, na verdade, desde que o mundo é mundo. Não existem “ambientes
culturais originais”; as culturas estão constantemente em transformação
interna e em comunicação externa, e os dois processos são, via de regra,
intimamente correlacionados. Não existe instrumento científico capaz de
detectar quando uma cultura deixa de ser “original”, nem quando um povo
deixa de ser indígena. (E quando será que uma cultura começa a ser original?
E quando é que um povo começa a ser indígena?). Ninguém vive no ambiente
cultural onde nasceu. Em segundo lugar, o “ambiente cultural original” dos
índios, admitindo-se que tal entidade exista, foi destruído meticulosamente
durante cinco séculos, por epidemias, massacres, escravização, catequese e
destruição ambiental. A seguirmos essa linha de raciocínio, não haveria mais
índios no Brasil. Talvez seja isso que Veja queria dizer. Em terceiro lugar,
a revista parte do pressuposto inteiramente injustificado de que “ser índio”
é algo que remete ao passado; algo que só se pode ou continuar (a duras
penas) a ser, ou deixar de ser. A idéia de que uma coletividade possa voltar
a ser índia é propriamente impensável pelos autores da matéria e seus
mentores intelectuais. Mas como eu lembro em minha entrevista original
deturpada por Veja, os bárbaros europeus da Idade Média voltaram a ser
romanos e gregos ali pelo século XIV — só que isso se chamou “Renascimento”
e não “farra de antropólogos oportunistas”. Como diz Marshall Sahlins, o
antropólogo de onde tirei a analogia, alguns povos têm toda a sorte do
mundo.

E o Brasil, será que temos toda a sorte do mundo? Será que o Brasil algum
dia vai se tornar mesmo um grande Estados Unidos, como quer a Veja ? Será
que teremos de viver em um ambiente cultural que não é aquele onde nascemos
e crescemos? (Eu cresci durante a ditadura; Deus me livre desse ambiente
cultural). Será que vamos deixar de ser brasileiros? Aliás, qual era mesmo
nosso ambiente cultural original?



Além disso, a reportagem dá a entender que a elaboração de relatórios
técnicos de delimitação e identificação seriam “lucrativos” para os
antropólogos. Prezados, as contas são abertas, podem verificar a modesta
quantia que é paga aos profissionais e depois se informem sobre o montante
absurdo de trabalho que é uma empreitada dessas.

Mentira tem perna curta.



seguem ainda links para outras respostas e comentários à reportagem

http://www.abant.org.br/conteudo/002PRINCIPAL/Documento01_Veja.pdf

http://cienciaemdia.folha.blog.uol.com.br/arch2010-05-02_2010-05-08.html#2010_05-03_15_50_23-129493890-28

http://merciogomes.blogspot.com/2010/05/resposta-materia-da-veja-farra-da.html

http://napraticaateoriaeoutra.org/?p=6061