domingo, 30 de novembro de 2008

Balaio de Idéias: Contra a Pirataria Etnocultural


Cleidiana Ramos
Marco Aurélio Martins | AG. A TARDE
O advogado Samuel Vida discute Direito Autoral

Samuel Vida

Laroyê! As transformações contemporâneas que redesenham o mundo colocam o Direito Moderno numa encruzilhada. A reconstrução identitária dos povos e comunidades tradicionais impõe nova agenda protetiva e desafia a teoria jurídica formulada na modernidade, evidenciando a obsolescência dos aparatos normativos clássicos para a efetivação dos Direitos Humanos, num contexto de efetiva multiculturalidade.


Nas Constituições recentes, verifica-se uma crescente inclusão de dimensões outrora ignoradas. Organismos internacionais apresentam recomendações e normas para o atendimento destas novas demandas. O Direito ocidental moderno constituiu-se em torno das referências civilizatórias européias, expressando, sustentando e legitimando as formas culturais, ideológicas, políticas e econômicas do Velho Mundo. Naturalizou e institucionalizou a inferioridade civilizatória dos outros povos, instrumentalizou a dominação e facilitou a montagem das engrenagens perpetuadoras das desigualdades.


Serviu aos interesses da acumulação capitalista desenfreada, beneficiadora das elites eurodescendentes, e deslegitimou-se como referência para a regulação social em sociedades com diversidade cultural. Os conceitos e as normas jurídicas relacionadas ao Direito Autoral e à Propriedade Intelectual revelam os limites contemporâneos da juridicidade monocultural, herdada da modernidade. O paradigma jurídico liberal-individualista-normativista constituiu um entendimento de Direito Autoral exclusivamente mercadológico, destinado a proteger o patrimônio do autor e regular as condições de circulação e apropriação das obras.


A legislação brasileira sobre o tema – Lei 9610/98 – é um bom exemplo de tais limites. Ao tratar dos Direitos do Autor e demais Direitos Conexos, não inclui a tutela dos conhecimentos e produções culturais dos povos e comunidades tradicionais, frustrando os avanços conquistados na Constituição Federal de 1988, que delineou as diretrizes do reconhecimento e afirmação da natureza multicultural da sociedade brasileira, especialmente nos artigos 215 e 216.


Tal omissão oportuniza a continuidade da pilhagem do etnoconhecimento e da etnocultura. A produção de sofisticados conhecimentos, artefatos e expressões artístico-culturais pelas comunidades de matrizes africanas enfrenta sistemático processo de "pirataria cultural", representada por expropriações, falsas representações, degradações e profanações, praticadas à luz do dia pelos "novos corsários": artistas-empresários que apropriam-se indevidamente de músicas, símbolos e outras expressões tradicionais, assim como das vantagens econômicas geradas pela comercialização. A persistência da falta de tutela à Propriedade Cultural e Intelectual dos Povos e Comunidades Tradicionais ameaça a integridade moral e material da produção civilizatória de matriz africana, bem como sua continuidade.

Samuel Vida, advogado, professor de Direito da Ufba e coordenador do Programa Direito e Relações Raciais da Ufba

segunda-feira, 24 de novembro de 2008

Carta de Salvador – Ações futuras para o povo-de-santo


Segue abaixo a carta tirada na IV Caminhada do Povo-de-Santo, onde importantes organizações nacionais que atuam no segmento religioso, firmam compromisso de cooperação e ação conjunta. (Marcio A.)


Carta de Salvador – Ações futuras para o povo-de-santo

Nós sacerdotisas, sacerdotes, vivenciados e simpatizantes da tradição de matriz africana, reunidos nesta cidade entre os dias 20, 21, 22 e 23 de novembro, para participar da IV Caminhada pela Vida e Liberdade Religiosa e do Seminário Direitos Humanos e Liberdade Religiosa, sobre as bençãos de Olorum, Nzambi, Mawu lisa, Deus vimos de público afirmar que:

- Devido à importância político-social que hoje representa a Caminhada pela Vida e Liberdade Religiosa e sua confluência na proposição organizativa das comunidades tradicionais de norte a sul, leste a oeste do país, decidimos por maioria torná-la oficialmente a "Caminhada Nacional pela Vida e Liberdade Religiosa, podendo a mesma abrigar todos os segmentos da tradição de matriz africana no território nacional, passando sua organização para o coletivo de entidades signatárias desta carta;

- Devido à importância político-social do recenseamento a ser realizado em território nacional pelo IBGE em 2010 e ao fato de nunca ter sido dada a devida importância ao segmento afro-brasileiro, buscando de fato o estabelecimento do perfil qualitativo e quantitativo da nossa população, definimos pela realização de uma campanha de ação afirmativa nacional protagonizada pelas entidades negras representativas da tradição de matriz africana em parceria com as demais entidades do movimento social negro, elaborada e criada a partir da realidade vivenciada nas comunidades de tradição. Para esta campanha buscar-se-ão as necessárias parcerias com os órgãos governamentais em todas as instâncias.

- Que as organizações signatárias desta carta aberta, têm em comum a luta contra toda e qualquer forma de discriminação, de intolerância religiosa e pressuposto do reconhecimento da humanidade do outro e de seus direitos civis e sociais; estando as mesmas, unidas pelo mesmo objetivo em todo território nacional, exigindo do estado o cumprimento do seu papel, em relação aos seus direitos.

· Coletivo de Entidades Negras – CEN

· Instituto de Tradições da Cultura Afro-Brasileira - INTECAB

· Movimento Nação Bantu - MONABANTU

· Federação Nacional de Culto Afro-brasileiro - FENACAB

· Associação de Preservação da Cultura Afro e Ameríndia - AFA

· Centro de Tradições Religiosas Afro- Brasileira - CETRAB

· Centro de Desenvolvimento das Religiões Afro-Brasileira - CEDRAB

· Rede Ecumênica do Nordeste

· Conselho Nacional de Juventude/CONJUVE

· Rede Religiões Afro–Brasileiras e Saúde

· Centro Nacional de Africanidade e Resistência Afro-brasileira - CENARAB

· Centro de Integração da Cultura Afro-Brasileira - CIAFRO

Diminuem manifestações de preconceito e racismo "assumido" entre brasileiros

ANTÔNIO GOIS
da Folha de S. Paulo, no Rio

Seja por mero pudor ou realmente por uma questão de consciência, os brasileiros, hoje, se mostram menos preconceituosos do que há 13 anos. Ao repetir neste ano perguntas feitas em 1995, o Datafolha identificou que caiu significativamente o grau de concordância da população com frases como "negro bom é negro de alma branca" ou "se Deus fez raças diferentes, é para que elas não se misturem".

O que não mudou de lá para cá foi a constatação, aparentemente contraditória, de que o brasileiro reconhece o preconceito no outro, mas não em si mesmo. Ou, como já definiu a historiadora da USP Lilia Moritz Schwarcz, "todo brasileiro se sente como uma ilha de democracia racial, cercado de racistas por todos os lados".

Para 91% dos entrevistados, os brancos têm preconceito de cor em relação aos negros. No entanto, quando a pergunta é pessoal, só 3% (excluindo aqui os autodeclarados pretos) admitiram ter preconceito.

Foi igualmente alto (63%) o percentual de entrevistados que afirmaram que negros têm preconceito em relação a brancos, mas somente 7% (excluindo os brancos) dizem ter, eles mesmos, algum preconceito.

Também caiu (de 22% para 16%) a proporção de brasileiros que se sentiram discriminados por sua cor. Esse percentual, no entanto, chega a 41% entre autodeclarados pretos.

Para Schwarcz, o que mudou de 1995 para 2008 foi a popularização do discurso politicamente correto. Ela, no entanto, demonstra algum ceticismo com relação ao menor percentual de concordância com afirmações preconceituosas.

"As coisas mudaram, mas nem tanto. As pessoas reagem mais às frases preconceituosas, como se já estivessem vacinadas. É positivo ver que há maior consciência, mas é preocupante constatar que a ambivalência se mantém. Parece que os brasileiros jogam cada vez mais o preconceito para o outro. 'Eles são, mas eu não'."

Também historiador, Manolo Florentino, da UFRJ, tem opinião semelhante. "O que cresceu foi sobretudo o pudor. Para tanto deve ter colaborado, em alguma medida, a disseminação da praga politicamente correta. Se for este o caso, estaremos mais uma vez frente à constatação de que nosso racismo é envergonhado, que, afora casos patológicos, o brasileiro só expressa seu preconceito racial através de carta anônima."

Constrangimento

O sociólogo Marcos Chor Maio, da Fiocruz, faz leitura mais otimista. O fato de os brasileiros só admitirem preconceito nos outros -o que pode ser visto como hipocrisia-, para ele, é um valor: "As pessoas têm vergonha de parecerem racistas, cria-se um constrangimento enorme. Isso é ótimo".

Fulvia Rosemberg, pesquisadora da Fundação Carlos Chagas e coordenadora do programa de bolsas da Fundação Ford, vê na ampliação do debate sobre a questão racial, provocado principalmente pela discussão das cotas em universidades, uma das causas para a queda do preconceito.

"Isso não acirrou a oposição branco/negro e parece ter desenvolvido maior consciência e atenção às relações raciais."

A socióloga Fernanda Carvalho, do Ibase e uma das coordenadoras do movimento Diálogos Contra o Racismo, concorda: "Não deixamos de ser um país com forte racismo, mas evoluímos. Não se discutia tanto a questão do negro. Hoje, as pessoas estão compreendendo melhor o tema e têm mais consciência de que o preconceito é um valor negativo".
Yvonne Maggie, antropóloga da UFRJ, tem opinião diferente sobre o racismo no país.

"Os pretos se sentem mais discriminados, mas são eles também os que mais acreditam no esforço pessoal. Somos uma sociedade que tem optado por não marcar o sentimento da vida a partir da raça", diz ela, citando o dado de que 71% dos pretos concordam que, se um pobre trabalhar duro, melhorará de vida. Entre brancos, o percentual é de 67%.

Maggie diz também que o aumento da escolaridade nos últimos anos deve ter contribuído para a queda no preconceito. "Pode até ser que o debate sobre raça tenha influenciado, mas não é possível concluir isso com base na pesquisa. O que temos de concreto nesses últimos anos foi que houve uma melhoria radical do sistema educacional no Brasil", diz a antropóloga.

Segundo o Datafolha, quanto maior a escolaridade, menor a manifestação de preconceito. Entre a população com nível superior, apenas 5% concordam que negros só sabem fazer bem música e esporte. Entre os que não passaram do fundamental, a proporção é de 31%.

A idade do entrevistado também influencia. Entre os que têm 41 anos ou mais, 27% concordam com a frase sobre negros na música e esporte. Entre os mais jovens (16 a 25), a proporção cai pela metade: 13%.

Leia mais

Do Atabaqueblog - Cultura Negra - Política Afrobrasileira - Afrodescendente

"Pelé e as criancinhas 39 anos depois"


Após fazer seu milésimo gol Pelé beija a bola, sua razão de viver, seu passaporte para o sucesso, seu álibi para ocultar-se de um papel mais ativo como cidadão negro que servisse de referência para as criancinhas que hoje são os pais das criancinhas que ainda o incomodam (leia abaixo)

No dia em que Pelé comemorava os 39 anos do seu milésimo gol no último 19 de novembro de 2008 estávamos na véspera do dia da Consciência Negra - 20 de Novembro - e "o Brasil de chuteiras" lavava a alma com a seleção brasileira de futebol ganhando de 6 x 2 sobre Portugal.

Há 39 anos atrás Pelé ao completar seus mil gols pediu em público que o poder cuidasse das criancinhas, isto ocorreu em 1969 em plena ditadura militar quando se torturava e matava em nome da "democracia" e soou muito estranho. Para os críticos e ativistas contra o regime militar era uma forma de não encarar as questões políticas que o país enfrentava, esperava-se que Pelé, já considerado o maior jogador de futebol do mundo, se pronunciasse de maneira contundente contra a falta de democracia ou sobre alguma outra questão política mais crucial naquele momento delicado da vida política do Brasil.


Com o prestígio nas alturas Pelé era requisitado por autoridades internacionais em visita ao Brasil em nenhum momento Pelé ousou desafiar a ditadura militar. Na foto recebe em meio a um banho interrompido o senador Ted Kennedy, na foto ao lado com a Rainha da Inglaterra

A polêmica prossegue até os dias de hoje e muito se tem dito sobre este episódio. Ainda não li o livro recém-lançado da jornalista Angélica Basthi sobre Pelé mas ela me disse ter abordado a questão e acho que seria interessante confrontar sua interpretação por ser ela uma profissional de mídia engajada nas questões raciais.


No dia do jogo da seleção brasileira contra Portugal em que se deu a tal comemoração do milésimo gol, ocorreu uma nova declaração de Pelé ainda mais surpreendente agora junto ao locutor esportivo Galvão Bueno que se derramava em elogios ao Rei do futebol e críticas aos críticos de sua famosa declaração. Disse Pelé naquele momento: "quando eu falei não entenderam, hoje aquelas crianças, estão aí, são os pais e os seus filhos as criancinhas de agora que estão nos causando estes problemas".

Pelé depois de trinta e nove anos ainda não entendeu que não são as criancinhas que causam problemas. Como na época da ditadura e também antes e ainda depois é a falta de políticas públicas que não atendem a todas as crianças como deveriam e que as expulsa de casa pela miséria eas impedem de frequentarem uma escola em tempo integral.

Tanto em 1969 quanto agora, Pelé não consegue se exprimir adequadamente, e tentando atualizar o que disse à realidade atual ele comete novamente a mesma canelada, serão elas, as criancinhas que estão nos causando problemas?

Às véspera do dia da Consciência Negra, Pelé ainda não conseguiu verbalizar corretamente o drama que persiste há um tempo bem maior do que aquele transcorrido até seus mil gols e que perdura até hoje: a falta de assistência à infância pobre que tem em sua maioria crianças negras.

Pelé não sabe o que Zumbi dos Palmares representa, não conhece ou ignora as lutas do Movimento Negro e continua flutuando nos campo gramados se fazendo de bola, tanto entra no gol como bate na trave.

domingo, 23 de novembro de 2008

Curso Irê Ayó tem início na segunda-feira, 24

O Curso Irê Ayó acontece de 24 de novembro a 5 de dezembro, no Hotel Vila Velha. Aula inaugural terá exibição do documentário 'Mbondo', filmado entre Angola e Salvador.

O curso Irê Ayó, parceria entre a Secretaria de Cultura e o Instituto Anísio Teixeira/SEC, terá início nesta segunda-feira (24/11), às 8h, no Hotel Vila Velha, com a exibição do documentário 'Mbondo - nossas raízes africanas', dirigido por Ricardo Carvalho.

O Irê Ayó é um curso presencial de 120 horas/aula, que acontece até 5 dezembro, com o objetivo de contribuir para a formação de educadores na implementação da lei 11.645/08 (que obriga o ensino da história dos povos indígenas e das culturas afro-brasileiras nos estabelecimentos de ensino fundamental e de ensino médio, públicos e privados).

Os 160 alunos do curso, professores graduados da Rede Estadual de Ensino, vão ter aulas de princípios para a construção de identidades, auto-estima e convivência solidária, com especialistas como o doutor de Educação Pedro Abib (UFBA), o arte-educador André Mustafá, o cineasta Ricardo Carvalho e os historiadores Henrique Cunha Jr. (UFCE) e Marcelo Cunha (Museu Afro da UFBA).

Uma das finalidades do Irê Ayó é a ressignificação da história, da memória ancestral e da civilização africana na contemporaneidade, além da valorização da auto-estima.

sábado, 22 de novembro de 2008

Para líder religiosa, estudo pode ajudar a preservar cultura afro- brasileira


Agência Brasil - Mariana Jungmann

Brasília - Quando Beatriz Moreira Costa, a ialorixá Mãe Beata, de 78
anos, procurou a Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro
(PUC-RJ) para propor um estudo sobre religiões de matriz africana, o
principal objetivo era ajudar as comunidades de terreiros a resolver
problemas estruturais – de saneamento básico, saúde e educação, por
exemplo – e a preservar a cultura negra nesses espaços. "Essa nação
nos deve muito, por toda a segregação, por todo o martírio que o meu
povo passou", afirma.

Segundo ela, essas religiões são "cultura que se passa oralmente" e
precisam ser preservadas. "Eu quero mostrar que dentro das casas de
candomblé, umbanda, catimbó etc. existe cultura, existe saber, que as
pessoas que estão lá precisam ser respeitadas, precisam de saúde",
ressalta. "Nosso papel não é ficar trancado em casa esperando",
acrescenta.

Ao citar o problema da falta de respeito, Mãe Beata se refere a um
tipo de perseguição que as comunidades de terreiro dizem sofrer por
parte de religiosos e de seguidores de outras crenças, que, na
opinião dela, "não entendem os ensinamentos milenares das religiões
de matriz africana".

"Eu não gosto da palavra intolerância. É falta de respeito mesmo.
Ninguém é obrigado a nos tolerar. É obrigado, sim, a nos respeitar",
afirma Mãe Beata, que nasceu numa encruzilhada, no município de
Cacheiras do Paraguaçu – no Recôncavo Baiano – e é semi-analfabeta.
Ela conta que propôs à PUC a elaboração do estudo para que a questão
religiosa fosse superada em função da preservação cultural.

Lei de cota racial na Prefeitura do Rio entra em vigor

Agencia Estado
A lei que determina o sistema de cotas raciais em cargos de confiança na administração municipal do Rio de Janeiro já está em vigor após sua publicação, ontem, no Diário Oficial do município. A Câmara Municipal derrubou o veto do prefeito Cesar Maia (DEM) ao Projeto de Lei 1. 268/2007, que determina que 20% dos cargos comissionados em todos os órgãos da prefeitura sejam destinados a afro-descendentes, pardos ou descendentes de índios. A lei também vale para as empresas vencedoras das disputas dos contratos para prestação de serviço com o município.

O texto especifica que 10% das vagas sejam para negras e outros 10% para negros nas nomeações e contratações. De acordo com a assessoria de imprensa da equipe de transição, o prefeito eleito Eduardo Paes (PMDB) deverá se pronunciar sobre o assunto apenas na segunda-feira. "Espero que ele não faça nada contra a lei, que é afirmativa. Trata-se de uma contribuição do Estado para a sociedade atingir a igualdade racial", disse o vereador Roberto Monteiro (PCdoB), autor do projeto.

Monteiro explica que as empresas vencedoras de licitações agora devem obedecer a lei na hora da contratação dos funcionários terceirizados. "No caso das cotas em universidades, a questão é o mérito do aluno. Com a nova legislação, a questão será a indicação, ou seja, promover os negros capacitados para exercerem estas atividades", disse o vereador.

Em seu veto, o prefeito Cesar Maia alegou que a lei "denota notória interferência, não autorizada pela Constituição" e que "acatar a obrigatoriedade de reserva de cotas seria o mesmo que impedir a livre nomeação para tais cargos


Ademir Santos
Membro do Conselho de Desenvolvimento da Comunidade Negra - CDCN
Coordenador de Ação Social do Coletivo de Entidades Negras - CEN
tel.: (71) 91423132

10 filmes essenciais


Para lembrar o Dia da Consciência Negra, selecionamos dez filmes essenciais com diferentes abordagens políticas sobre a figura do negro na sociedade. Confira a lista:
  • Veja a galeria de fotos
    Adivinhe quem Vem Para Jantar, 1967
    Nos EUA, a década de 60 é marcada pelos assassinatos de Malcolm X (1965) e Martin Luther King Jr. (1968) e da criação do Partido das Panteras Negras (1967).
    O filme, de 1967, apresenta um casal branco, supostamente progressista, que tem lidar com o novo namorado da filha: bonito, elegante, bem sucedido, bons modos. O único "problema": ele, interpretado por Sidney Poitier, é negro. No Brasil, Nelson Pereira dos Santos utilizou o mesmo tema em "Tenda dos Milagres", com as características específicas da Bahia.
    Manderley, 2005
    Las Von Trier traz elementos do Dogma 95 para discutir as amarras invisíveis em "Manderlay". Com um não-cenário, o filme se aproxima de uma comunidade de negros americanos mantidos em escravidão em pleno século XX. Com a chegada de uma jovem branca, vinda de Dogville, as correntes que seguram os moradores podem se quebrar.
    Barravento, 1962
    Já em seu primeiro longa, Glauber Rocha apresentaria elementos que viriam a marcar seus filmes. "Barravento", de 1961, se passa em uma comunidade de ex-excravos formada por pescadores explorados. Firmino (Antônio Pitanga, em atuação memorável) era um deles, mas foi para Salvador e tomou consciência política. Na volta, tenta apresentar seus novos valores ao grupo ligado ao misticismo e conduzi-los ao "barravento", a revolta.
    Duelo de titãs, 2000
    O esporte é o futebol americano, uma das mais tradicionais modalidades nos EUA. Porém, o objetivo de "Duelo de Titãs" é dialogar a partir das dificuldades encontradas por um técnico negro. O filme se concentra no duelo de Herman Boone (Denzel Washington) para treinar um time universitário que não aceita, de maneira alguma, receber ordens de um negro. O final, porém, é positivo, pregando a tolerância.
    Filhas do Vento, 2005
    Joel Zito Araújo é um cineasta que começou fazendo uma pesquisa acadêmica do retrato do negro nas telenovelas. "Filhas do Vento" reúne um elenco competente (Ruth de Souza, Léa Garcia, Taís Araújo, Milton Gonçalves) que interpreta dois núcleos da mesma família. Um, concentrado na figura de Ruth, representa o progresso alcançado com uma nova posição do negro. O outro, encabeçado por Léa, é o rastro de pobreza que ainda predomina entre os negros.
    Quase dois irmãos, 2004
    Se na Argentina, o radiógrafo da classe média é Daniel Burmann, no Brasil, Lúcia Murat ocupa esse posto. Em "Quase Dois Irmãos", ela parte de um tema político, a prisão de ilha grande na ditadura militar, para chegar a outro ponto: o encontro, na mesma penitenciária, de presos políticos (brancos) e autores de crimes comuns (negros). O discurso de esquerda e o seu alvo, frente a frente. Pessimista e realista, Murat, filha da classe média, mostra as limitações entre teoria e aplicação.
    Orfeu negro, 1959
    Inegavelmente romântico, "Orfeu Negro", do francês Marcel Camus, ganhou Oscar em 1960. Baseado na peça "Orfeu da Conceição", transpõe o mito de Orfeu e Eurídice para os morros cariocas. A música-tema, composta por Luís Bonfá e interpretada por Agostinho dos Santos, é um capítulo à parte. Mas, o olhar francês à realidade brasileira não deixa de acreditar que "tudo se resolve no carnaval".
    Xica da Silva, 1976
    Xica da/Xica da/Xica da Silva/a negra. Na música composta para a trilha de "Xica da Silva" (1976), de Cacá Diegues, Jorge Ben resume o olhar da sociedade colonial. Século XVIII, uma negra atrevida encontra na ascensão social e na sua sensualidade a única forma de respeito. Zezé Motta, a Xica, tem a melhor atuação de sua carreira e uma das melhores do cinema nacional.
    Madame Satã, 2002
    Marginal, sensual, boêmio, discriminado, pobre, homossexual, capoeirista. A lista é extensa para definir João Francisco dos Santos, mais conhecido como Madame Satã. No filme homônimo, de Karin Aïnouz, lançado em 2002, Lázaro Ramos absorve a áurea de um ícone às avessas e apresenta um retrato de um dos personagens mais famosos do Rio de Janeiro.
    Caché, 2005
    Georges Laurent (Daniel Auteuil) acaba de prestar queixa na delegacia. Na saída, tromba com um rapaz negro em uma bicicleta. A quizumba está armada, com o francês fazendo diversas ofensas. Uma cena. Apenas uma cena foi necessária para condensar a xenofobia e o racismo que parte da sociedade francesa ainda conserva. De resto, o filme serve como reflexão da "paranóia delirante" de Georges e discussão do papel da imagem.

  • Ademir Santos
    Membro do Conselho de Desenvolvimento da Comunidade Negra - CDCN
    Coordenador de Ação Social do Coletivo de Entidades Negras - CEN
    tel.: (71) 91423132

    Vozes da África ecoam na AL no Dia da Consciência Negra


    Diário Oficial de Sexta-feira - Nº 19854 - 21/11/2008 - Ano XCIII

    Um evento tão grandioso que não coube em si mesmo. Assim pode ser definida a sessão especial que homenageou o Dia da Consciência Negra, realizada ontem na Assembléia Legislativa, que teve como tema a luta pela vida e a liberdade religiosa. Depois de aberta pelo presidente Marcelo Nilo (PSDB), e feitos os dois primeiros discursos, foi a vez da saudação aos alabês: representantes das diversas nações apresentaram seus cantos e seu discurso, ao som dos atabaques e palmas e ginga da platéia. "Declaro aberta a presente sessão", anunciou Mãe Eunice, referindo-se ao mundo das matrizes africanas.
    A ocasião era de comemoração de conquistas e de homenagem aos líderes negros, mas o deputado Bira Corôa (PT), proponente da sessão, fez questão de lembrar as origens, quando famílias africanas inteiras foram desgarradas e desintegradas para facilitar a opressão nas colônias. Neste contexto, avaliou, o sincretismo religioso se configurou como uma forma de sobrevivência e preservação dos valores culturais. "A Bahia é o estado mais negro do país e Salvador é a terceira cidade mais negra do mundo, só ficando atrás de duas outras africanas", enfatizou. Ele também elogiou o presidente Marcelo Nilo, cuja ação, segundo ele, fez da AL realmente uma Casa do povo, propiciando acesso a todos.
    O subsecretário federal de Promoção e Defesa dos Direitos Humanos, Perly Cipriano, definiu que "o Brasil só será uma nação quando não houver mais nenhuma forma de discriminar". Ele disse que as religiões de matrizes africanas foram grandes quilombos de resistência e foi uma das primeiras a ter sacerdotisas. Mas ele defendeu que é preciso que essas religiões busquem sua identidade para poder dialogar com as demais. "Não queremos nem mais nem menos direitos", disse, afirmando que, se uma crença pode ter acesso a hospital ou presídio para prestar assistência, todas devem ter, assim como o direito a exercer capelania. Com isso, arrancou aplausos da platéia.

    EQUILÍBRIO

    Quem esperava que a vitória de Barack Obama, nas eleições do Estados Unidos, ia ser a tônica dos pronunciamentos se enganou: ela foi citado por muitos, mas o ex-presidente da África do Sul, Nelson Mandela, não só foi lembrado tal e qual, como também suas idéias foram citadas. O deputado Yulo Oiticica ocupou a tribuna para dizer que, como católico, se via representado pela imagem do Cristo no plenário e que deveria haver imagens de outras religiões para que todos abençoassem o Parlamento. A defensora Pública Geral, Teresa Cristina Almeida, se disse extasiada "com tudo que a gente tem que aprender com vocês".
    O promotor de Combate ao Racismo Almiro Sena ocupou a tribuna para pedir ajuda espiritual para manter o equilíbrio entre o ímpeto da irresponsabilidade e a acomodação da covardia, dizendo empunhar "a espada desenbainhada da justiça e o arco de Oxóssi". Ele vislumbrou também que não está distante o dia que uma negra ou um negro chegará ao poder político e econômico no país e no estado, lembrando o "Yes, we can" (sim, nós podemos), de Obama. A deputada Fátima Nunes (PT), presidente da Comissão da Igualdade Racial, falou sobre o Estatuto da Igualdade Racial, que está tramitando na AL.
    Foram muitos e quase incontáveis pronunciamentos na tarde/noite de ontem. Vendo o plenário se esvaziar e avisado de que o horário regimental encerrava-se às 18 horas, o representante do Coletivo das Entidades Negras, Marcos Rezende, ocupou a tribuna para pedir paciência e solidariedade aos presentes. Para ele, resistir ao cansaço de algumas horas de sessão não se compara ao sofrimento histórico de uma raça. A conclamação valeu, pois o local voltou a ficar cheio e os presentes, entusiasmados e participativos.
    Aplaudiram o mestre Curió de capoeira angola, que afirmou que "sempre que o negro quer se expressar, a hora está defasada", sobrando tempo para quem domina o sistema. "O chicote da caneta é pior e chega mais rápido", definiu. José Raimundo Troccoli, sacerdote umbandista, disse ter sofrido discriminação de órgãos da prefeitura de Salvador ao promover a comemoração dos cem anos da umbanda. Representante da Luta Contra a Intolerância Religiosa, a ialorixá Jaciara de Oxum definiu que "não tem uma religião melhor do que a outra. A melhor religião é aquela que faz as pessoas se sentirem melhor". Jaciara é filha de mãe Gilda de Ogum, cuja morte por enfarte em 2000 foi atribuída às perseguições religiosas que sofreu. A sessão acabou com a concessão pela Assembléia Legislativa de 23 placas honoríficas a 23 personalidades do movimento negro e dos terreiros religiosos, por contribuições significativas à sociedade.

    Metade da população do país, negros continuam em situação marginal na mídia

    Henrique Costa - Observatório do Direito à Comunicação
    20.11.2008


    O dia 20 de novembro, Dia da Consciência Negra, que celebra a morte de Zumbi dos Palmares em 1695 como símbolo de resistência à escravidão, é tradicionalmente marcado por marchas e protestos realizados pelo movimento negro. Este momento, utilizado para dar visibilidade ao debate sobre a igualdade racial no Brasil, é válido também para uma reflexão sobre como esta questão é retratada nos meios de comunicação, das notícias às novelas, e qual é a influência que estes conteúdos geram no imaginário popular em nosso país.


    Um dos exemplos mais gritantes é a afirmação de estereótipos existente na teledramaturgia brasileira. Resistem na TV as velhas situações de inferioridade impostas aos negros e negras: a doméstica, a mulata sambista, o malandro delinqüente. Mais recentemente, o político corrupto da novela "A Favorita" da Rede Globo surgiu para "comprovar" a doutrina da emissora de que a ascensão social pela iniciativa individual é possível, mas que mau-caratismo não tem cor, mesmo que um só exemplo baste.


    É, de qualquer maneira, sintomático que os rostos vistos nos telejornais e programas de auditório sejam quase sempre brancos. "O dado é que existe uma invisibilidade do negro nos meios de comunicação", afirma Márcio Alexandre Gualberto, militante do Coletivo de Entidades Negras do Rio de Janeiro. A resposta das emissoras – que operam em regime de concessão pública, nunca é demais lembrar – à demanda dos negros e negras, quase metade da população do país, refere-se a casos de integrantes deste segmento em posição de destaque, como os jornalistas Glória Maria e Heraldo Pereira, trajetórias que podem ser consideradas como exceções que servem apenas de confirmação à regra.


    Segregação simbólica


    Para Dennis de Oliveira, professor da Escola de Comunicações e Artes da USP e membro do Núcleo de Pesquisas e Estudos Interdisciplinares sobre o Negro, há no país uma "segregação simbólica", ou seja, tolera-se a presença do negro em atividades lúdicas como esporte, dança e música como uma forma de compensação por sua ausência em outros espaços. "O resultado é justamente a criação de estereótipos", diz o docente.


    "Quem entrega a pizza na propaganda é sempre um negro. Queremos que todos sejam tratados iguais", afirma Gláucia Matos, militante da Fala Preta! - Organização de Mulheres Negras. Segundo ela, o conteúdo dos personagens negros tem uma tendência à desvalorização, sobretudo no caso das mulheres. "Nas crônicas policiais, o branco é sempre retratado como classe média, enquanto o negro é visto como marginal", concorda Márcio Gualberto. "Além disso, na TV, quando a vitima é negra, sua reação é sempre pela vitimização ou pela superação, mas nunca a denúncia", acrescenta Dennis de Oliveira.


    Esta segregação tem tamanho poder que atinge a imagem que os negros têm de si próprios. Em 1932, Castro Barbosa cantava a marchinha "O teu cabelo não nega", composição de Lamartine Babo até hoje executada nos blocos carnavalescos. "Mas como a cor não pega, mulata, mulata eu quero teu amor" é a mensagem passada pela música. Desde então, as piadas pejorativas relativas ao cabelo crespo típico da raça negra não cessaram. Gualberto conta que é comum que os negros passem em algum momento pela "crise do cabelo".


    Isso acontece, diz ele, porque a idéia de belo reproduzida pela mídia é justamente o padrão europeu. "É como o negro que fica rico e se casa com uma loira. Esta é a lógica do vencedor imposta pelos meios de comunicação". Gláucia Matos conta que o movimento negro inclusive já processou a marca de palhas de aço Assolan por associar seu produto ao cabelo crespo de maneira pejorativa.


    Preconceito velado


    No último dia 2 de novembro, o inglês Lewis Hamilton não ganhou a etapa de São Paulo da Fórmula 1, mas levou o título do campeonato vencendo justamente um brasileiro. Primeiro negro a conquistar a principal categoria do automobilismo mundial, Hamilton e familiares sofreram um racismo que não acreditavam encontrar por aqui. As manifestações foram exaustivamente reproduzidas pela imprensa européia, mas no Brasil a repercussão foi quase nula, revelando a omissão da mídia nativa em denunciar o preconceito de seus cidadãos.


    Para Márcio Gualberto, para além da presença física na teledramaturgia ou na publicidade, existe nos meios de comunicação em geral, sobretudo no jornalismo, "incapacidade, indiferença e má vontade" para lidar com a questão do preconceito racial. Gláucia Matos acredita que este cenário se refere ao papel da mídia em manter o preconceito. "Existem inúmeros casos de racismo nos tribunais. Os jornais também não dizem que a maioria dos jovens assassinados no país são negros", afirma.


    Admissão de culpa


    O sociólogo brasileiro Florestan Fernandes dizia que a característica mais marcante do racista brasileiro é a de não se considerar racista. A melhor tradução prática dessa afirmação surge em "Não Somos Racistas", livro de Ali Kamel, diretor-executivo de jornalismo da Rede Globo. "Ao mesmo tempo em que admite que existem diferenças, diz que é preciso ignorá-las para não criar uma divisão no país. É algo paranóico", comenta Gualberto.


    Na avaliação de Dennis de Oliveira, a mídia insiste que o racismo no Brasil não tem um caráter sistêmico, abordando a questão sempre pela ótica individual. "A ação da mídia é sempre no sentido de minorar a questão, tirando-lhe a seriedade para que não entre na agenda [pública]."


    O professor aponta que a única forma de superação do preconceito nos meios de comunicação seria o movimento negro se organizar para construir mídias alternativas. Gláucia Matos afirma que existem conquistas por conta da atuação do movimento, que tem monitorado e denunciado com maior rigor. "Mas no que depender da mídia", diz ela, "ainda falta muito."

    Carta Aberta a Todos os Povos da América Latina



    Afirmo que Somos todos Heroicos.*

    Licença a todos os presentes, amigos, irmãos, mestres dos saberes,
    pesquisadores da cultura e das diversas áreas do conhecimento humano.

    Trago comigo um orgulho que se evidenciou muito desde que cheguei do
    Brasil em 15 de novembro para o X Festival Internacional de Poesia em
    Cartagena de Índia, Bolívar, Colômbia, América Latina: me refiro ao
    orgulho de sentir o coração da cidade e fazer parte de suas ruas por
    onde circulam vidas unidas por uma força historicamente heróica. Força
    igual a da cidade de Cachoeira, no Recôncavo baiano, Brasil, onde vivo
    e cresci com minha família materna, que trás no sangue a cultura
    espanhola, indígena, africana. Esses mesmos africanos que chegaram em
    diversas partes do mundo, em especial no Brasil e Caribe, na condição
    de escravos, e hoje, sim, e hoje, onde estão a grande maioria de
    Índios e afrodescendentes, na lista de excluídos ? A Heróica
    Cachoeira, no Recôncavo baiano, Brasil e a Heróica Cartagena de
    Índias, nos permitem sentir na pele um gosto histórico de Vitória e um
    outro sabor amargo, oferecido a nossa frente, em diversas ruas, para
    onde olharmos, ou em índices de pesquisas reveladoras da injusta
    distribuição de riquezas e suas catastróficas conseqüências.

    De acordo com dados do relatório a Situação da Infância Brasileira
    publicado em 2001 pela Unicef, 53,94% dos pais que matricularam seus
    filhos em escolas públicas de Cachoeira, têm no máximo três anos de
    estudo formal. Em Cartagena, segundo publicação do jornal El Universal
    dos últimos dias, 60,9% da população estão abaixo da linha de pobreza.

    Estes dados não diminuem a nossa história de povos guerreiros que
    lutaram pela independência de nosso país com unhas e dentes. Todavia,
    nos apresenta a necessidade de olhar nossas realidades históricas e
    distintas: Somos patrimônios culturais evidenciados para toda
    humanidade através de conquistas heróicas, um patrimônio também
    exporto a uma condição humana indigna de viver, falo da maioria dos
    atores sociais que fazem pulsar acidade e estão excluídos.

    Em verdade, somos todos Heróicos.

    O desejo de compartilhar uma sociedade cada vez mas justa, sem
    maquiagem, sem medo de olhar nossas diferenças esquecidas nas diversas
    partes de nossas heróicas comunidades é que nos faz estar dispostos a
    lutar heroicamente por manter o sonho de viver em uma sociedade mais
    justa.Por esse desejo coletivo é que a Oficina de Criação Literária
    Siembra e seus irmão apoiadores, realizam e organizam o Festival
    Internacional de poesia, plantando o futuro literário dos próximos
    escritores; Que as pesquisas da Universidade de Cartagena se revertem
    em contribuições sociais, a Fundação Cultural Afro-Caribe, o Rotory
    Club Internacional de Cartagena, o Grupo de Apoio ao Menor Gotas de
    Esperanças, a Casa de Barro Ações culturais, o Ponto de Cultura
    Terreiro Cultural, Pouso da Palavra, e tantas outras instituições que
    desenvolvem ações socioculturais, são necessárias para a construção de
    uma América Latina digna.

    Assim, falo para vocês, atenção: Somos todos heróicos, somos todos
    heróis. Unidos por uma sociedade melhor, a qual cada um de nós temos a
    missão de contribuir para um mundo mais justo, pois somos todos
    Heróicos, somos todos heróis, Brasileiros, Colombianos, Cubanos,
    Venezuelanos, Heróis em Guatemala, Panamá. Por toda parte do mundo,
    América, África, Europa, somos heróis, e podemos transformar
    realidades.Por uma América Latina mais justa e digna, Viva a Poesia,
    Viva a Arte, Viva a cultura, Viva todas políticas para melhorar o
    desenvolvimento sociocultural.

    Atentamente,

    João de Moraes Filho.
    Poeta, Professor de Literatura Brasileira, Gestor Cultural,
    co-fundador da Casa de Barro Ações Culturais (em Cachoeira, Bahia,
    Brasil).

    *Carta Aberta lida no X Festival Internacional de Poesía en Cartagena
    de India. Aula Máxima de Derecho en la Universidad de Cartagena de
    Índias – Colômbia 01 de diciembre de 2006

    www.joaodemoraesfilho.blogspot.com
    www.pedraretorcida.blogspot.com

    quinta-feira, 20 de novembro de 2008

    quarta-feira, 19 de novembro de 2008

    Defendendo os terreiros de Candomblé


    Sinopse: As ações violentas executadas pela Prefeitura de Salvador através da demolição do Terreiro Oyá Onipo Neto conduzido por Mãe Rosa da Avenida Jorge Amado, surpreenderam negativamente por configurar um ato de intolerância Religiosa.
    Salvador, a capital da Bahia é uma das cidades que tem o maior número de templos religiosos de todo o mundo, incluindo igrejas católicas e evangélicas, centros espíritas, casas de umbanda e terreiros de candomblé. É também a cidade que possui a maioria dos seus habitantes negros, mas onde o racismo em sua diversidade e sutileza acaba tendo ações devastadoras. Da educação e moradia, até o emprego e religiosidade sem esquecer o genócidio da população negra. O estado tem uma função fundamental na manutenção de tudo isto.
    Se o Brasil é o país mais aberto do mundo a todas as religiões e crenças, Salvador é a expressão máxima desta qualidade principalmente pela forte influência e presença das tradições oriundas da África. Nada justifica nos dias atuais ações como esta que causaram danos muito sérios a toda uma construção espiritual de muitos anos e que tiveram então a resposta enérgica e necessária do povo de candomblé. Oxalá vai a Guerra, e todo o Povo de Axé também, sempre que for necessário!


    Lançamento: Dia 21 de novembro às 18:30h na antiga Faculdade de Medicina.


    Entrada Franca!

    Afro-Ásia n.º 37-2008

    Autores diversos

    Editores: Luis Nicolau Parés, Renato da Silveira e Valdemir Zamparoni

    ISBN 0002-0591

    2008, 304 p., R$ 30,00

    www.afroasia.ufba.br

    O periódico Afro-Ásia será lançado no dia 03 de dezembro, quarta-feira, no Centro de Estudos Afro-Orientais a partir das 19 horas. Entretanto, a trigésima sétima edição da revista já está à venda e pode ser encontrada nas livrarias filiadas à Editora da Universidade Federal da Bahia.

    A revista Afro-Ásia é uma publicação semestral do Centro de Estudos Afro-orientais da Faculdade de Filosofia e Ciências Humanas da UFBA. Única publicação dedicada por inteiro a temas afro-brasileiros, africanos, e, secundariamente, a temas asiáticos no estado. Reflete, também, o processo de construção das identidades baiana e brasileira dentro dos inúmeros conflitos das relações raciais. A revista, dividida em artigos e resenhas, evidencia estes conflitos através de relatos e histórias, além de discutir temas da contemporaneidade.

    O quê: Lançamento da revista Afro-Ásia

    Quando: 03 de dezembro, quarta-feira.

    Onde: Centro de Estudos Afro-Orientais

    Praça Inocêncio Galvão, 42

    Largo Dois de Julho

    Horário: A partir das 19 horas

    Você pode encontrar e adquirir exemplares da revista Afro - Ásia nos seguintes pontos:

    Livraria EDUFBA (Editora da Universidade Federal da Bahia)

    Bairro: Canela

    Tel: 71 32837075

    Livraria EDUFBA (Editora da Universidade Federal da Bahia)

    Biblioteca Central no Campus de Ondina

    Tel: 71 32836165

    Livraria do CEAO (Centro de Estudos Afro-Orientais)

    Largo 2 de Julho, Centro.

    Tel: 71 33226742

    terça-feira, 18 de novembro de 2008

    Mãe Stella de Oxóssi: "Candomblé não é brincadeira"



    Tira os sapatos, senta-se numa cadeira da Casa de Xangô. Uma mulher. Em silêncio reverente, aguarda a presença de Mãe Stella de Oxóssi, a ialorixá do Ilê Axé Opô Afonjá. Enrosca as mãos sobre o colo, olha as fotografias das mães-de-santo que fizeram a história de um dos mais respeitados terreiros da Bahia, em São Gonçalo do Retiro, Salvador.
    Na parede, as senhoras dos orixás, símbolos do matriarcado que pisou no Palácio do Catete, e nas ruas e roças da "Cidade da Bahia" - como Salvador é chamada pelos que ainda reservam nostálgico lirismo -, para afirmar o Candomblé como religião de origem africana, não uma seita submissa aos símbolos da Igreja Católica.
    Olhos negros, pele mourisca, a mulher contempla os retratos de mãe Aninha - fundadora do Opô Afonjá, em 1910 - a mãe Stella, última na linha sucessória, que sai do peji (altar) de Xangô e atravessa a sala de espera.
    - Como eu me dirijo a ela? - pergunta, docilmente, a visitante. - Quero apenas agradecer.


    Stella de Oxóssi já está em outra sala, numa cadeira de balanço. Ouve um filho-de-santo contar as últimas histórias dos homens e da cidade, pedir conselhos, oferecer cuidados. Longo papo.
    Por instantes, ele sai da casa - "ainda não acabei" - e a indecisa baiana pede licença, toma a mão de Stella e pede a bênção. Sem nome, registra somente o agradecimento.
    O homem de branco volta a assumir sua cadeira e presenteia a ialorixá com uma cesta de manga-rosa. "O que a senhora quiser, minha mãe, é só pedir". Sábado de manhã.
    A cena pode se repetir em outros sábados e manhãs, nos domínios do Opô Afonjá. Brasileiros anônimos e famosos - entre estes, Jorge Amado, Dorival Caymmi, Carybé e Gilberto Gil -, encontraram em Mãe Stella a clarividência de conselheira. Há 31 anos à frente do terreiro, ela agora lança o livro de "Provérbios" (Òwe), alguns em iorubá, outros em português castiço.
    Com doses de razão, a propaganda do livreto informa: "O que todo brasileiro queria: ter sempre mãe Stella por perto".
    Filha de Oxóssi, Stella é descrita por Jorge Amado, em Bahia de Todos os Santos, como "prudente e forte, flexível e intransigente, capaz e firme, sentada no trono que já lhe era devido por destino e por escolha."
    Oxóssi, segue Jorge, "Deus da caça, das úmidas florestas, com o ofá (arco-e-flecha) abate os javalis, as feras, é o invencível caçador".
    Stella, prudência de Oxóssi, põe os óculos antes de iniciar a entrevista.
    Nascida em 1925, escolhida ialorixá em 1976, sua liderança religiosa marcou a história do Candomblé. Em 1983, na II Conferência Mundial da Tradição dos Orixás e Cultura, em Salvador, Stella articulou a elaboração de uma carta que rejeitava os cultos sincréticos, a submissão a outras religiões.
    "Não podemos pensar nem deixar que nos pensem como folclore, seita, animismo, religião primitiva", dizia o documento, também assinado por Mãe Menininha do Gantois e Olga de Alaketo.
    Ainda hoje, na entrevista a seguir, mãe Stella insiste:
    - Candomblé não é brincadeira.
    Consolidada a liberdade de culto, os terreiros da Região Metropolitana de Salvador - cerca de 1.162, segundo recente mapeamento (http://www.terreiros.ceao.ufba.br/) - sofrem com as agressões das igrejas neopentecostais e com a especulação imobiliária. Mãe Stella se sentiu obrigada a murar o Opô Afonjá e a aceitar o tombamento do terreiro.
    - Fiz uma pressãozinha pra que isso aqui não fosse tombado, mas, depois, na situação em que nós estamos, da falta de respeito, da especulação imobiliária... Chefes de Estado que mentem pra população, dizendo que estão adotando uma religião que é contra tudo, entendeu?
    Aos berros dos pastores da Igreja Universal do Reino de Deus e da Assembléia de Deus, o povo-de-santo responde com paciência e um comitê em defesa da tolerância religiosa. Mas a presença de bancadas evangélicas na Assembléia Legistativa e na Câmara de Vereadores fortalece, politicamente, o discurso fundamentalista.
    O prefeito de Salvador, João Henrique Carneiro, é evangélico praticante. Mínima simpatia pelo Candomblé. O primeiro colocado nas pesquisas eleitorais para a sucessão municipal, o apresentador da TV Record Raimundo Varela, guarda vínculos estreitos com os bispos da Universal.
    A voz das ruas se vinga. Frase de uma baiana de acarajé captada pela jornalista Cleidiana Ramos, versada nos mistérios dos terreiros baianos, na porta da Igreja do Rosário dos Pretos: "Dizem que ele é evangélico, mas João Henrique tem o pé no azeite. E ali é de Xangô".
    Segundo Mãe Stella, muitos políticos "têm receio de dizer que estão ajudando." Ela descrê na vitória dos neopentecostais.
    - A gente tem que se segurar, ciente de que eles não vão ter essa vitória extrema como querem, porque nós adoramos o sagrado, o orixá, e estamos entregue a eles, nossa vida.
    Senhora de poucas palavras em entrevistas, ela conversa amigavelmente, sem pressa, com Terra Magazine. Está em dia de fartos, comedidos verbos, na Casa de Xangô. Comenta a publicação do livro, a história do Opô Afonjá e não se nega a falar sobre o movimento negro.
    - Cotas pra mim... O negro tem obrigação, como todo o ser humano, de ser inteligente, de ir pros livros, fazer pesquisas, dar conta de seu recado direitinho. (...) Esse negócio de passar a mão na cabeça... Não há mais necessidade disso. Cada um de nós tem que ter a condição de escrever a sua própria história.

    Vez e hora do caderno de histórias de Mãe Stella, ialorixá dos baianos.

    Terra Magazine - A senhora acaba de lançar um livro de provérbios, reunidos ao longo de sua atuação aqui no Ilê Axé Opô Afonjá. De onde nasceu essa idéia?
    Mãe Stella - Bem, eu sempre me detive, sempre me prendi a essa questão de provérbios. Desde meus tempos de infância, os mais velhos falavam muito por metáforas. Quando eles queriam dar uma lição de moral, diziam uma metáfora dessas, um provérbio. Então, a gente era obrigado a discernir aquilo pra saber o que é que ele queria dizer. E eu sempre curti isso. Depois fui crescendo e vim pra aqui, no lugar de mãe-de-santo, e daí pra cá eu fiquei fazendo o quê? Colecionando. Todo o provérbio que eu escutava, eu anotava. Tenho um caderninho. Mais de 20 anos anotando esss provérbios. Quando foi outro dia, sentada, pensei: sabe que eu vou fazer um livrinho desse? Porque às vezes uma pessoa me pergunta um conselho, então vou me lembrar de um provérbio desses... Digo aquilo. E você veja que um provérbio, por menos que seja, tem muita...
    Sabedoria?
    Muita sabedoria. A maioria deles é de domínio público, né? Ninguém sabe quem fez. É de todos nós. Então, não achei nada demais pegar e fazer esse livrinho.
    Muitos vêm de seus ancestrais?
    Como eu sou descendente africana, os mais velhos também só falavam assim. E tanto que no livrinho eu botei uma parte em iorubá, a outra em português. É como se fosse um pequeno oráculo que você está olhando. Orumilá é o dono do oráculo, da adivinhação. Tudo o que você quer, evoca a ele, com certeza ele lhe dá um insight e você consegue dizer aquilo que você quer com poucas palavras.
    E a senhora acaba sendo conselheira de muitas pessoas, na Bahia...
    Perfeito. E eu vou ao cinema, a qualquer canto, sempre tenho um conselho... Então, se a pessoa quer um conselhinho, chega aqui e descobre. Com as bênçãos de Orumilá.
    Quando a senhora começou a anotar?
    Depois que eu estou aqui. Eu sempre gostei de anotar as minhas coisas, chega alguém e diz: ô, mãe-de-santo, você que gosta... E me dizia. Tinha um ogã (título de um sacerdote sem transe), já faleceu até, ele chegava aqui de tarde pra bater papo e cada um ia dizendo um. Fui anotando.
    Caymmi gostava desse caderninho?
    Ah, sim, ele brincava, aparecia aqui e ficava curtindo também. Ele dizia muitos, porque tem mais ou menos a minha idade. O ogã daqui, (o ator Carlos) Petrovich - grande homem, né? - também era inspiração pra essas coisas.
    Isso é inovador para o Candomblé, que é marcado pela cultura oral, não?
    É, cultura oral. E eu respeito muito essas coisas de antiguidade, mas se a gente pensar bem, vê o quê? Você vê que o mundo está tomando uma direção diferente, com tecnologia. A outra coisa mais certa, e a gente já sofreu disso: o que você não registra se perde. O vento leva. Não registra, o vento leva, eu repito. Porque uma vez que era oralidade, até nos cânticos nossos, quantas palavras deturpadas tem... Os provérbios que você diz, cada um tem um jeito de escutar. Tem um ditado que diz assim: "caiu açúcar no mel." Quer dizer, açúcar no mel é uma coisa muito doce. Muita gente que não entende e diz: "Caiu a sopa no mel." Entendeu? (risos) Caiu a sopa no mel não tem nada! Até fica ruim... Sopa no mel é coisa ruim. Agora, se caiu açúcar no mel, é um doce por cima do outro. Então, a gente pensa que às vezes uma coisa se perde na sua forma certa por escutar diferente. Como em nossos cânticos em iorubá tradicional. Às vezes a gente canta uma cantiga erradamente porque ouviu errado, vai passando e aquilo vira verdade.
    Às vezes a música popular assimila essa linguagem errada.
    É, é, com certeza! Deturpam mesmo. Espero que todos gostem, eu mesmo gostei depois de pronto (olha o livro). Foi uma gentileza que um amigo me fez. Era pra fazer só a divulgação, mas ele tomou a bonequinha e fez tudo.
    Qual o provérbio que a senhora mais gosta ou mais usa?
    Vamos abrir aqui... "Pedra que muito se muda não cria limo". (risos) Você tira daqui e bota lá; é como se você a cada dia fosse uma casa, você não tem uma base, não tem essência. Tem um que diz assim, eu gosto muito, os antigos diziam: "Olho viu, cala a boca". É um ditado em iorubá. Tem outro: Orí eni ní um 'ni j´oba (a cabeça de uma pessoa faz dela um rei). Pra você ver que a cabeça de uma pessoa faz dela um rei - depende de seu desenvolvimento mental, da sua energia, do seu caráter. São caracteres que podem lhe fazer grande ou destruir. Como também dizem: sua cabeça, seu mestre. Se pensar bem, é só a gente procurar o bom caminho que nós chegamos de uma forma boa.
    Alguns desses ditados foram ouvidos de Mãe Senhora?
    Mãe Senhora dizia muitos. Inúmeros, inúmeros. Por exemplo, quando ela queria que nós chegamos de uma forma boa.
    Alguns desses ditados fora que você se orientasse nos pés de um orixá, ela dizia: cuide de sua cabeça. Porque a cabeça também se aborrece. E outros mais, que agora nem lembro.
    A senhora cumpre um papel importante no Candomblé porque enfatiza a necessidade de alfabetização, de se educar. Há escolas no Opô Afonjá... Como surgiu isso?
    Veja, isso eu não inventei porque eu absorvi. Absorvi de Mãe Aninha, fundadora daqui, no século passado. Ela dizia o quê? Que ela queria ver os filhos e os netos servindo ao orixá, servindo a Xangô, com o anel no dedo. Anel no dedo lembra uma formatura, uma graduação. E eu sempre achei isso muito bonito pra uma senhora daquela, que não era analfabeta como dizem, falava até francês, porque antigamente as pessoas apareciam - ela tinha muito conhecimento de pessoas de grande instrução - e ela falava francês. Era muito pela educação. Era uma senhora descendente de africanos, mas ela não gritava com filho-de-santo, entendeu? Não fazia essas atrocidades que muita gente... Como é autoridade, acha que pode pisar nos outros. E ela, não. Tinha boas maneiras de falar com as pessoas, todo o jeito dela era especial. E ela dizia que queria ver os filhos-de-santo dela e os netos servindo a Xangô com o anel no dedo. Ela não viu, mas - vê porque o ancestral é indivisível, onde ele estiver, vê e sabe de tudo - e creio eu que ela está vendo e adorando isso aí, as escolas no terreno que ela comprou. Uma das escolas tem o nome dela: Eugênia Ana dos Santos.
    Ela comprou esta roça em São Gonçalo.
    Lutadora porque, quando era mil-réis a moeda, ela queria comprar isso aqui e comprou. Pra Xangô. E ela queria comprar o peji (santuário) de Yemanjá, que ela também adorava muito. Ela foi ao cartório e queria botar no nome de Xangô. Mas não tinha como... Ainda mais naquele tempo. Iam dizer até que ela era louca. De Xangô não pode ser. Então, ela deu um tempo, criou a sociedade. Sociedade Cruz Santa do Ilê Axé Opô Afonjá. Quer dizer, tinha que ser "cruz santa" porque se não tivesse o nome da religião católica na frente, nada feito. Tem aí São Francisco, o outro São José, tal, tal, e ela pôs Cruz Santa. Ilê Axé Opô Afonjá é o nome em iorubá da casa. Casa de culto sustentada por Afonjá, que é um Xangô. Ela conseguiu fazer isso. Criou a sociedade, botou o terreno no nome da sociedade, agora a sociedade fica sendo mantenedora do Axé. Se amanhã o Axé acabar, a sociedade não fica. Um casado com o outro, um não pode viver sem o outro. É evidente que o pensamento dela deve ter sido instrução de alguém que conhecesse a área. Nós estamos descansadas. Nem a sociedade vai conseguir eliminar o Axé, nem o Axé a sociedade.
    A senhora conseguiu o tombamento do terreiro?
    Foi. A princípio, eu não queria muito o tombamento porque... Sabe aquele negócio de tombamento? Quando eu era garota, ouvia dizer: a Igreja de São Bento tombada, então chegou d. (Timóteo) Amoroso, ele era inovador, que é que ele fez? Ele foi, tirou os santos, mudou o altar, o patrimônio chegou lá e mandou botar tudo no lugar! (risos) Ele botou. Então, não gostaria. Gosto de um movimento de vez em quando. A coisa que fica inerte, estática, não evolui. Tem que mexer. Inclusive por causa da energia, você mexe aqui, tira a energia negativa.
    É preciso viajar, se deslocar?
    É preciso viajar, saber outras coisas, respirar outros ares, conversar com outras pessoas, em outros idiomas. É muito bom. Fiz uma pressãozinha pra que isso aqui não fosse tombado, mas, depois, na situação em que nós estamos, da falta de respeito, da especulação imobiliária... Chefes de Estado que mentem pra população, dizendo que estão adotando uma religião que é contra tudo, entendeu? Então, não pode ser. A gente fica com medo, né?
    Em Salvador, a especulação imobiliária está passando por cima de tudo?
    Horrível, horrível, horrível. A gente tem que ver porque o Estado... Antigamente, há muitos anos, a Igreja mandava no Estado. Agora, pelo contrário. Por quê? Essas religiões novas que estão aparecendo aí, todas atrás de dinheiro. Muito dinheiro rolando...
    Na Bahia, as igrejas neopentecostais estão agressivas, atacando o Candomblé...
    Tomou força, estão tomando muita força. A gente tem que se segurar, ciente de que eles não vão ter essa vitória extrema como querem, porque nós adoramos o sagrado, o orixá, e estamos entregue a eles, nossa vida. Evidente que o negativo não vai vencer o positivo. Deixem eles lá lutando... Um dia, cada um procura seu lugar e se acomoda direitinho.
    Queria que a senhora esclarecesse, até para que os não-baianos entendam, a questão do sincretismo. Mãe Aninha foi revolucionária para conquistar a liberdade de culto, esteve até com Getúlio Vargas, e a senhora marcou a história com aquela carta de 1983 sobre o sincretismo. Afirmou o Candomblé como religião. De 83 pra cá, o que mudou?
    Eu acho que meu pensamento evolui. Quando eu fiz o documento, eu falava que tinha certeza que não ia ver aquilo que eu estou vendo. Meus filhos e meus netos vão conseguir trabalhar. Eu estou vendo, graças aos orixás, que os mais novos... Sou uma senhora com 82 anos. Não sou criança. Fiz o orixá em 1938.
    Com Mãe Senhora?
    Quando mãe Aninha faleceu, tomou conta da casa aqui uma senhora, mãe Bada, que era amiga de mãe Aninha. Depois mãe Bada faleceu, veio mãe Senhora. Aninha, Bada e mãe Senhora, que ficou por 30 e alguns anos, demorou muito tempo como ialorixá. Fez um trabalho maravilhoso, organizou muita coisa também, aos moldes de uma senhora do século XIX e do princípio do século XX. Mãe Senhora faleceu e veio mãe Ondina, que tinha sido iaquequerê (mãe pequena, auxiliar da ialorixá) do tempo de mãe Aninha. Foi escolhida novinha, deu conta do recado dela, evoluiu, mas a vida forçou que ela viajasse. Na vida, todo mundo precisa evoluir, né? Ela foi para o Rio e, nesse vai e volta, foi quando Mãe Senhora faleceu e ela tomou conta do Axé. Fez uma administração boa. Quando ela faleceu, fiquei à frente aqui, levando também com o axé dos orixás, me segurando e estou dando conta do meu recado. Então, consegui esse tombamento e tenho me segurado bastante. Estou lutando há mais de dois anos pra conseguir murar isso aí, por causa da invasão. Na frente, já estamos murando também. E aí são pessoas particulares que vão nos ajudando...
    Conta com o apoio do Estado pra alguma coisa?
    Conto, sim, em algumas coisas eu conto com o apoio do Estado. Mas você vê que muitos deles, até, têm receio de dizer que estão ajudando.
    Ainda existe isso?
    Existe, rapaz... Gente aqui do Axé, que tem até cargo, dizer que a religião é a católica. Pessoa com cargo aqui dentro. "Minha religião é a católica". Sofre de pensamento, de raciocínio, não sei o que é.
    E hoje, voltando, o sincretismo faz sentido?
    Não faz mais sentido. Porque as pessoas já sabem por que estão aqui. É cansativo de falar, mas houve ocasião de precisar esconder orixás com santos, embaixo da mesa tinha os assentamentos. Pra enganar o senhor, cantava, evocava em sua língua natal, ele não entendia nada, pensava que era festejo pra santa.

    sábado, 15 de novembro de 2008

    As reações à vitória de Obama ao redor do mundo

    Adorei estas fotos, principalmente a última - o olhar do menino diz tudo...

    A avó de Barack, Sarah Obama - Koguelo, Quênia


    Na antiga escola de Obama - Jacarta, Indonésia
    Manila, Filipinas


    Xangai


    Atenas, Grécia


    Jacarta, Indonésia


    Jerusalem, Israel


    Sydney, Austrália


    Afeganistão


    Obama, Japão


    Índia


    Paris, França


    Dakar, Senegal


    Londres