quarta-feira, 24 de março de 2010

Último dia do II Curso Manuel Querino - Personalidades Negras, na Academia de Letras da Bahia

Quinta-feira dia 25 de março de 2010
AUDITÓRIO DA ACADEMIA DE LETRAS DA BAHIA

14h00





16h10 Intervalo



16h30










19h

Palestra: Mãe Senhora: filha de Oxum Miua – Prof. Luis Domingos de Souza (Restaurante Maria de São Pedro)

Palestra: Nelson de Araújo – Prof. Dr. Adailton Silva Santos (UNEB)




Palestra: A Boa Morte de S. Gonçalo dos Campos - A família Cazumbá. – Prof. Dr. Sebastião Heber Vieira Costa (UNEB / IGHB)


Palestra: Mãe Menininha do Gantois – Prof Francisco Soares de Senna (UFBA/ALB)

Debate e encerramento

Triste Bahia, de Ildásio Tavares

       Tenho andado, trafegado pelas ruas favelizadas de Salvador; pelo asfalto esburacado; pela solidão babelizada de não nos vermos mais a não ser em enterros ou efemérides significativas. Tenho assistido ao esboroar-se de uma das cidades mais amenas que já conheci e presenciado o embrutecimento de uma gente antes doce e cordial, envolvida pela violência; atolada em condições subhumanas de existência; uma gente que já foi unida e solidária e de Itapuã a Paripe falava mais ou menos a mesma língua, terra da felicidade..
    Todo mundo se conhecia em Salvador. Numa geografia aprazível os bairros se distribuíam pelas colinas, cada uma com uma infra-estrutura própria,. Onde eu morava, por exemplo, no Boulevard América, havia uma cocheira de onde vinha o leite, os vendedores passavam com a verdura, o peixe, cavala, peixe, a gorda negra de manhã, mungunzá,lelê, a camionete da Sorveteria Primavera passava no horário certo, os meninos vendendo taboca, o amolador de facas com seu realejo e na esquina da entrada o Armazém de Mendes vendia tudo na base do caderninho para pagar no fim do mês.
     Os bondes rolavam nos trilhos, 1 Nazaré, 2 Barra, 7 Federação, 14 Amaralina. Havia as opções perfeitas para tudo. De refrigerante o famoso Giuaraná Fratelli Vita que ainda oferecia a gasosa de maçã e a de limão que eu bebia escondido em casa, enchendo as garrafas de água até que um dia uma visita refugou e tomei uma bela surra depois.
As lojas do comércio era personalizadas. A gente ficava amigo dos donos da loja. A Ernesto, por exemplo. Fiz meus primeiros óculos ali na Piedade, receitados por Dr. Marback, um monumento da oftalmologia, 1949. E nunca mais deixei de fazer óculos na Ernesto.
Griffe de boa qualidade, seu Ernesto sério, austero, ele mesmo atendendo a freguesia;ele mesmo garantindo o nível do produto
       Mais tarde eu iria conhecer Bubba e Willy, lá mesmo na loja e Liselotte na ACBEU, vistosamente bela, toda de negro, do alto de uma varanda, fumando um cigarro, vejam. Lise foi a primeira menina que eu vi fumando em público na minha vida, 1956, e sua imagem, loura do alto da varanda, cigarro nos dedos, nunca saiu de minha cabeça. A Ernesto não era uma ótica despersonalizada. Como não era A Suprema Móveis.do meu amigo Leão.a Foto Jonas de meu tio Vivaldo, que era presidente do Ipiranga e botava os sobrinhos todos pra jogar no juvenil. Me lembro que eu ia pra Fonte Nova e dizia ao cara da entrada no campo, vou ficar com meu Tio Vivaldo, ele abria o portão e eu via o jogo do banco, era uma glória.
       Lojas como as Duas Américas, A Florensilva de seu Florentino, O Adamastor do pai de Glauber, a Civilização Brasileira de Dmeval Chaves.Jornais como os Diários Associados de Odorico Tavares, A Tarde de Jorge Calmon. O dusty miller da Cubana?Ou o carnaval no Bahiano, Associação e Yacht e de botar cadeira na rua na av, Sete pra assistir as batucadas, os Filhos de Ghandy, Mercadpres de Bagdá, os caretas. As matinés do Excelsior, Glória, Guarany.A cidade era proporcional a si mesma. Desgovernou-se. Desandou. Assusta.

quinta-feira, 18 de março de 2010

Programaçao do Curso Manuel Querino 2010


PROGRAMAÇÃO
Curso Anual Manuel Querino – Personalidades Negras
Terça-feira dia 23 de março de 2010
AUDITÓRIO DA ACADEMIA DE LETRAS DA BAHIA

13h às 14h

Credenciamento


14h

Abertura:
Prof. Edivaldo M. Boaventura
Presidente da Academia de Letras da Bahia
Deputado Marcelo Nilo
Presidente da Assembléia Legislativa da Bahia
Prof. Penildon Silva Filho
Diretor Geral do Instituto Anísio Teixeira


14h30








16h10 Intervalo



16h30







19h

Palestra: Manuel Querino: Vida e Obra na luta contra o “Racismo Científico – Profa. Ms. Sabrina Gledhill (Pós-Afro CEAO-UFBA / IGHB)
               
Palestra: Manuel Querino e as Artes na Bahia – Prof. Dr. Luiz Alberto Freire (UFBA)





Palestra: Francisco Solano Trindade – Profa. Raquel Trindade


Palestra: Francisco da Conceição Menezes: o educador – Profa. Ms. Débora Kelman de Lima (Colégio da Bahia)
              
Debate e encerramento
Quarta-feira dia 24 de março de 2010
AUDITÓRIO DA ACADEMIA DE LETRAS DA BAHIA

14h00







16h10 Intervalo

16h30








19h

Palestra: Antônio de Souza Benta: coronel negro da Chapada Diamantina – Prof. Ms. Jedean Gomes Leite (UNEB)

Palestra: Édison Carneiro e o samba na chave do Folclore – Profa. Ms. Alessandra Carvalho da Cruz (UCSAL)


Palestra: George Alakija: ensaio para um perfil biográfico – Profa. Ms. Ana Alakija (ALAI)


Palestra: Artur Arézio da Fonseca: um nome para escrever em caixa alta – Prof. Dr. Luis Guilherme Pontes Tavares (FTC/ALBA)

Debate e encerramento


Quinta-feira dia 25 de março de 2010
AUDITÓRIO DA ACADEMIA DE LETRAS DA BAHIA

14h00





16h10 Intervalo



16h30










19h

Palestra: Mãe Senhora: filha de Oxum Miua – Prof. Luis Domingos de Souza (Restaurante Maria de São Pedro)

Palestra: Nelson de Araújo – Prof. Dr. Adailton Silva Santos (UNEB)




Palestra: A Boa Morte de S. Gonçalo dos Campos - A família Cazumbá. – Prof. Dr. Sebastião Heber Vieira Costa (UNEB / IGHB)


Palestra: Mãe Menininha do Gantois – Prof Francisco Soares de Senna (UFBA/ALB)

Debate e encerramento
Obs. A programação poderá sofrer alterações, de acordo com as necessidades demandadas no decorrer do processo de organização do Curso.


Curso de Formação Continuada Africanidades e Educação

01/3/10
Formação Continuada
IAT realiza curso de Formação Continuada - Africanidades e Educação
No período de 03 de maio a 10 de setembro, acontece o curso de Formação Continuada - Africanidades e Educação. O evento, que será realizado nos auditórios de videoconferência, disponibiliza vagas para docentes, gestores, coordenadores e demais servidores da rede pública de educação, com carga de 180 horas (videoconferências e ambiente virtual de aprendizagem).
O Africanidades e Educação conta com 1305 vagas, sendo 870 para a rede estadual e 435 para a municipal. Clique AQUI e verifique se o seu munícipio possui o Termo de Adesão assinado com o IAT/SEC.
Inscrições:
REDE ESTADUAL: Realize sua inscrição através do SISTEMA ON LINE e preencha AQUI sua ficha (envie para o e-mail africanidades2010@gmail.com).
REDE MUNICIPAL: Realize sua inscrição, preenchendo AQUI sua ficha (envie para o e-mail africanidades2010@gmail.com).
O Africanidades e Educação, promovido pela Secretaria Estadual da Educação (SEC), por intermédio do Instituto Anísio Teixeira (IAT), visa à qualificação dos profissionais da rede pública de educação para a implementação das diretrizes nacionais no ensino da História e Cultura Afrobrasileira e Africana, colocando em prática a Lei Federal 11.645/08, que obriga a inclusão da História da África e das Culturas Afrobrasileiras e Indígenas nos currículos escolares.
Esta ação enfoca aspectos da história do negro no Brasil, bem como as estratégias pedagógicas de combate às formas de preconceito e discriminação racial na sociedade brasileira.
Programação videoconferências:
1 – 03/05/2010 (08:30h às 12h) - Desafios da Educação Contemporânea: escola e diversidades.
2 - 03/05/2010 (14h às 17:30h) - Legislação e Diversidades
3 – 11/05/2010 (08:30h às 12h) - Idéias de África: da tradição à contemporaneidade
4 – 11/05/2010 (14h às 17:30h) - Aproximações entre África e Bahia
5 – 20/05/2010 (08:30h às 12h) - Racismo: definições e concepções
6 – 20/05/2010 (14h às 17:30h) - Identidade nacional e racismo
7 – 28/05/2010 (08:30h às 12h) - Resistência negra ao escravismo I
8 – 28/05/2010 (14h às 17:30h) - Resistência negra ao escravismo II
9 – 07/06/2010 (08:30h às 12h) - O Brasil pós-abolição
10 – 07/06/2010 (14h às 17:30h) - O papel da mulher negra na construção da sociedade brasileira
11 – 16/06/2010 (08:30h às 12h) - Ancestralidade: perspectivas da Educação
12 – 16/06/2010 (14h às 17:30h) - Diáspora e Movimentos sociais negros no Mundo
13 – 21/06/2010 (08:30h às 12h) - Diáspora e Movimentos sociais negros no Brasil
14 – 21/06/2010 (14h às 17:30h) - Corporeidade Negra
15 – 05/07/2010 (08:30h às 12h) - Expressões artísticas e culturais do povo negro no Brasil: Literatura
16 – 05/07/2010 (14h às 17:30h) - Expressões artísticas e culturais do povo negro no Brasil: Dança
17 – 15/07/2010 (08:30h às 12h) - Expressões artísticas e culturais do povo negro no Brasil: Teatro
18 – 15/07/2010 (14h às 17:30h) - Expressões artísticas e culturais do povo negro no Brasil: Artes Visuais
19 – 19/07/2010 (08:30h às 12h) - Expressões artísticas e culturais do povo negro no Brasil: Música
20 – 19/07/2010 (14h às 17:30h) - Expressões artísticas e culturais do povo negro no Brasil: Audiovisual
21 – 23/07/2010 (08:30h às 12h) - Territórios negros: a educação dos povos e comunidades tradicionais
22 – 23/07/2010 (14h às 17:30h) - Ações afirmativas e educação
23 – 28/07/2010 (08:30h às 12h) - O pensamento intelectual negro: descolonização e formação I
24 – 28/07/2010 (14h às 17:30h) - Reinventando práticas pedagógicas: Matemática e Ciências Naturais
25 – 02/08/2010 (08:30h às 12h) - Reinventando práticas pedagógicas: Línguas
26 – 02/08/2010 (14h às 17:30h) - Reinventando práticas pedagógicas: Artes e Educação Física
27– 05/08/2010 (08:30h às 12h) - Reinventando práticas pedagógicas: Estudos da Sociedade (História, Geografia, Sociologia e Filosofia)
 _______________

segunda-feira, 15 de março de 2010

Projeto de Incentivo à Permanência Seleciona Estudantes Cotistas da UFBa até 18/3

CEAO - Centro de Estudos Afro-Orientais


O Projeto de Incentivo à Permanência de Estudantes Cotistas, do Centro de Estudos Afro-Orientais da UFBA (CEAO), realizado no âmbito do Fórum Interinstitucional em Defesa de Ações Afirmativas no Ensino Superior, cria oportunidades para que estudantes negros e de escolas públicas possam complementar os estudos. Para a turma de 2010, 30 estudantes serão selecionados com base em critérios como: ter ingressado no 1.º ou 2.º semestre de 2009 através das cotas para estudantes de escola pública e afrodescendentes ou indígenas; renda familiar, comprovada, de até dois salários mínimos; e disponibilidade de horário para freqüentar os cursos à noite e aos sábados (manhã).
O projeto terá a duração de três meses. Serão selecionados dez estudantes, entre os de menor renda familiar, para receberem bolsa-auxílio no valor de R$300,00 (trezentos reais). São atividades do projeto: 1) cursos de Inglês e Produção de Textos, visando à melhoria das habilidades de leitura e expressão em Língua Portuguesa e construção de conhecimento básico de Língua Inglesa; e 2) oficinas e mostras de vídeo sobre a temática étnico-racial. As inscrições ficam abertas até a próxima quinta-feira (18 de março), das 9 às 12h, no CEAO. Mais informações: 3283-5519 (manhã) ou permanencia.ceao@gmail.com.
CEAO - Centro de Estudos Afro-Orientais

Pç. Inocêncio Galvão, 42, Largo Dois de Julho - CEP 40025-010. Salvador - Bahia - Brasil
Tel (0xx71) 3322-6742 / Fax (0xx71) 3322-8070 - E-mail: ceao@ufba.br
- Site: www.ceao.ufba.br

domingo, 14 de março de 2010

3º Seminário Preconceito na fala, Preconceito na cor

Últimos dias para as inscrições!

Uma identidade e um nível de igualdade entre as pessoas, independente da cor, que caracteriza as mais variadas formas de preconceito, seja lingüístico, racial, religioso ou social. Esta é a temática a ser discutida no Seminário Preconceito na fala, Preconceito na cor,coordenado pela Profa. Antonia Santos, promovido pela Sociedade Protetora dos Desvalidos, nos dias 26, 27 e 28 de maio, em Casa de Angola, Salvador, Bahia.

O Professor Dr. Kabengelê Munanga, da Universidade de São Paulo (USP), é o palestrante de abertura do evento, que vai reunir militantes de movimentos negros e de grupos indígenas, estudantes de graduação e pós-graduação, professores, entre outros, em mesas-redondas, mini cursos e oficinas.

Outros professores de renome, a exemplo de Luis Antonio Lindo (USP),Yeda Pessoa de Castro (GEAALC-Uneb), Rosângela Ferreira Lima (UFPe), Narcimária Luz (Uneb), João Carlos Salles (UFBa), Joceneide Cunha (Unit-Se), Denise Veiga (CIMI-Brasilia), Camilo Afonso (Casa de Angola), Pedro Nascimento (SPD), Júlio Soares (Irmandade do Rosário) e a coordenadora geral do evento, Antonia Santos, dentre tantos outros coordenadores e comunicadores, promoverão momentos de reflexão e debates.

As inscrições para participação podem ser feitas pelo endereço: preconceitonafalaenacor@bol.com.br.

sábado, 13 de março de 2010

Bem no espírito de Manuel Querino

Encontrei este texto citado no livro Flash of the Spirit, de Robert Farris Thompson, e traduzi para divulgá-lo entre os leitores lusófonos deste blog (sugestões para melhorar a tradução serão muito bem-vindas):

O que eu vi desenganou minha mente de muitos erros em relação à África. A cidade [de Abeokuta] se estende ao longo da margem do Rio Ogum para cerca de seis quilômetros e tem uma população de aproximadamente 200 mil(...) Em vez de selvagens nus e preguiçosos, que viviam da produção espontânea da terra, vi pessoas vestidas e trabalhadoras (...) produzindo tudo que era necessário para seu conforto físico. Os homens são pedreiros, ferreiros, carpinteiros, cesteiros, entalhadores de cabaças, tecelões, chapeleiros, fabricantes de esteiras, comerciantes, barbeiros, alfaiates, agricultores e trabalhadores em couro e marroquim, fazem navalhas, espadas, facas, enxadas, podões, machados, pontas de seta e estribos(...) as mulheres (...) muito diligentemente seguem as atividades que lhes são atribuídas por costume. Elas se dedicam à fiação e tecelagem, são comerciantes e cozinheiras e tingem tecidos de algodão. Elas também produzem sabão, tintas, dendê, óleo de amendoim e todo tipo de cerâmica nativa e muitas outras coisas usadas no país. Era uma cidade grande parecida com aquelas que já conhecia.

--R.H. Stone (missionário norte-americano), meados do século XIX

sexta-feira, 12 de março de 2010

Curso no Museu Carlos Costa Pinto

Curso

HISTÓRIA SÓCIO-ECONÔMICA DA BAHIA

A AFRODESCENDÊNCIA

1º semestre de 2010

O Museu Carlos Costa Pinto apresenta em 4 módulos o curso 
com abordagem da afrodescendência na História da Bahia e 
aspectos sócio-econômicos e artísticos.

Serão 2 módulos no primeiro semestre e 2 no segundo semestre.

PROGRAMAÇÃO

1º Módulo - ABRIL

Dias: 12, 13, 14, 15 e 16 de abril

A Bahia afrodescendente - Profa. Dra. Marli Geralda Teixeira

- Apresentação geral: presença africana na cultura baiana;
- Imagens da História da África;
- A Bahia no tráfico negreiro do Atlântico Sul;
- Marcas na construção econômica: trabalho rural e urbano;
- Etnia e mestiçagem na Bahia ontem e hoje.

2º Módulo - MAIO

Dias: 10, 11, 12, 13 e 14 de maio

Tópicos de História Socio-Econômica - Prof. Ms. Jailton Lima Brito

- A Bahia Colonial (XVI - XVIII);
- A Bahia na transição para o Estado Nacional (1789 - 1837);
- Resistência escrava, abolição e pós-abolição na Bahia (XIX);
- O "enigma baiano" (XIX - XX);
- Novos ventos sobre a Bahia: industrialização e reafricanização (XX).

Coordenação: Profa. Ms. Selma Fraga Costa

Será fornecido certificado por cada módulo.

Local: Auditório do Museu Carlos Costa Pinto
Horário: 17 às 19 horas
Carga horária de cada módulo: 10 horas
Taxa única: R$ 60,00 por módulo
Inscrição: Setor Educativo (de segunda a sexta, exceto terça-feira)
das 14:30 às 19:00 horas. 
Tel.: (71) 3336-6081

Vagas Limitadas.

Av. Sete de Setembro, 2490 - Corredor da Vitória

Últimos dias para inscrever trabalhos para o III Seminário Preconceito na Fala, Preconceito na Cor

O III Seminário Preconceito na Fala, Preconceito na Cor está em mutirão de inscrições de trabalhos. Sabemos como é difícil a publicação e divulgação de trabalhos desenvolvidos pela população negra no país. Esta é sua chance! Pretendemos debater e promover discussões que mostrem ou não, avanços no sentido de fala e efetivação dos brasileiros.
Participe conosco desta maratona!
Visite o blog http://falaneguinhofala.blogspot.com/

Uma identidade e um nível de igualdade entre as pessoas, independente da cor, que caracteriza as mais variadas formas de preconceito, seja lingüístico, racial, religioso ou social. Esta é a temática a ser discutida no Seminário Preconceito na fala, Preconceito na cor,coordenado pela Profa. Antonia Santos, promovido pela Sociedade Protetora dos Desvalidos, nos dias 26, 27 e 28 de maio, em Casa de Angola, Salvador, Bahia.

O Professor Dr. Kabengelê Munanga, da Universidade de São Paulo (USP), é o palestrante de abertura do evento, que vai reunir militantes de movimentos negros e de grupos indígenas, estudantes de graduação e pós-graduação, professores, entre outros, em mesas-redondas, mini cursos e oficinas.

Outros professores de renome, a exemplo de Luis Antonio Lindo (USP),Yeda Pessoa de Castro (GEAALC-Uneb), Rosângela Ferreira Lima (UFPe), Narcimária Luz (Uneb), João Carlos Salles (UFBa), Joceneide Cunha (Unit-Se), Samuel Vida (UFBa, UCSal), Denise Veiga (CIMI-Brasilia), Camilo Afonso (Casa de Angola), Pedro Nascimento (SPD), Júlio Soares (Irmandade do Rosário) e a coordenadora geral do evento, Antonia Santos, dentre tantos outros coordenadores e comunicadores, promoverão momentos de reflexão e debates.

As inscrições para participação podem ser feitas pelo endereço: preconceitonafalaenacor@bol.com.br.

Verifique a ficha de inscrição e os valores para pagamento:



Estudante de graduação* R$30,00

Estudante de pós-graduação* R$50,00

Professor* R$60,00

Ouvinte R$25,00

Outros (movimentos negros)* R$30,00

Mini-curso/Oficina R$25,00

*Com apresentação de trabalhos

Período de inscrição: até 25 de março de 2010. Após essa data o valor será acrescido de 10 reais.

Depósito:
Caixa Econômica Federal
AG:1522
Operação:013
Conta:114646-0

Obs: É obrigatório o envio por e-mail do comprovante de depósito para confirmação da inscrição.


III Seminário Preconceito na fala, Preconceito na cor

Ficha de inscrição


Nome ______________________________
Instituição: ___________________________
Graduação ( ) Pós-Graduação - Especialista ( )
Mestrado ( )
Doutorado ( )
Professor ( )
Integrante movimento negro ( )
Atividade:_______________________________
Título do trabalho: _____________________
Mesa redonda - coordenador ( )
Mini-curso - ministrante ( )
Oficina - ministrante ( )
Ouvinte - ( )

Em anexo: comprovante do depósito bancário.

Pencas de balangandãs

Fonte:
Boletim Informativo da ANPAP Salvador nº 02
março de 2009


Pencas de balangandãs
pela mestra do PPGAV/EBA/UFBA, Simone Trindade


O Museu Carlos Costa Pinto possui 27 pencas de balangandãs em prata, o maior conjunto existente em museus. Esses exemplares encantam e intrigam o público visitante por seu exotismo e singularidade. Sua composição revela a existência de diversos elementos místicos.

As pencas de balangandãs foram usadas por algumas mulheres negras e mulatas na cintura, em ocasiões festivas, na Bahia do século XVIII às primeiras décadas do século XX. Esses adereços, insígnias de distinção, possuem três partes: corrente, nave ou galera e elementos pendentes. A corrente serve para fixar o adorno à usuária, perpassando-lhe a cintura. A nave ou galera agrupa os elementos pendentes, amuletos (elementos de proteção) e talismãs (elementos propiciatórios) definidores de cada penca de balangandãs. Sua reunião torna cada exemplar único, visto que é fruto de escolhas pessoais. Os elementos mais freqüentes na coleção Museu Carlos Costa Pinto são a figa, o coco de água, a chave, a moeda, o cilindro, a romã, o cacho de uvas, o peixe e o dente. Todos esses elementos, de caráter mágico, remetem a uma postura diante da vida, referenciada por um conjunto de crenças que lhe conferem sentido.

Além da expressão de status social e/ou da condição de liberta ou livre das suas usuárias, as pencas de balangandãs parecem ter sido um distintivo de uso restrito. O seu discurso, pautado em signos ligados à magia, remete a diferentes e antigas tradições incorporadas em seu trajeto histórico e chegadas ao Brasil via África e Portugal. Cada penca de balangandãs conta essa história.


Vitrine de balangandãs do Museu Carlos Costa Pinto
Vitrine de balangandãs do Museu Carlos Costa Pinto.


Uma crioula da Bahia
Uma crioula da Bahia. J. Melo editor. Fotografia (cartão postal), 1904-1915.


Penca de balangandãs em prata com 24 elementos e corrente.
Penca de balangandãs em prata com 24 elementos e corrente. Bahia, séc. XIX.


Penca de balangandãs desmontada. Bahia, séc.XIX.
Penca de balangandãs desmontada. Bahia, séc. XIX.


E um pouco mais sobre o acervo e a localização do MCCP

O Museu Carlos Costa Pinto está situado no tradicional bairro da Vitória, em Salvador – Bahia. Fruto de amor e dedicação, o museu é a concretização do sonho do casal Costa Pinto. Seu acervo de artes decorativas foi reunido por mais de 25 anos pelo colecionador Carlos Costa Pinto e doado por sua viúva Margarida de Carvalho Costa Pinto.

Inaugurado em 5 de novembro de 1969, o Museu propicia um inesquecível retrato da Bahia Colonial e Imperial. O seu acervo, exposto tematicamente, é constituído por mais de 3.000 significativos objetos de artes decorativas dos séculos XVII ao XX.

O Museu Carlos Costa Pinto funciona de segunda-feira a sábado, das 14:30h às 19:00h, exceto terça-feira, quando fecha ao público para manutenção e trabalhos técnicos. O Museu mantém permanente interação com a comunidade, desenvolvendo contínua programação cultural. O seu Serviço Educativo atende a estudantes, grupos de terceira idade e pessoas com necessidades especiais, mediante visita previamente agendada. A Biblioteca do Museu disponibiliza o seu acervo bibliográfico, especializado em artes decorativas.


Museu Carlos Costa Pinto.
Museu Carlos Costa Pinto


Simone Trindade Vicente da Silva é licenciada em História pela Universidade Católica do Salvador – UCSAL. Bacharel em Museologia pela Universidade Federal da Bahia-UFBA. Mestre em Artes Visuais pelo Programa de Pós-Graduação da Escola de Belas Artes-UFBA, com a dissertação “Referencialidade e Representação: um resgate do modo de construção de sentido nas pencas de balangandãs a partir da coleção Museu Carlos Costa Pinto”, orientada pelo Prof. Dr. Cid Ávila Macedo e co-orientada pela Profa. Dra. Maria Helena Ochi Flexor. Museóloga da Fundação Museu Carlos Costa Pinto desde 1991, assumindo a Coordenação de Museologia em 1998. Sócia da Tecnomuseu Consultoria Ltda, empresa especializada em museologia. Professora da disciplina História da Arte na Faculdade de Tecnologia e Ciências de Salvador – FTC-EAD.

E-mails: simonetrindade@gmail.com / tecnomuseu@uol.com.br

quinta-feira, 11 de março de 2010

Luiz Felipe de Alencastro no STF sobre cotas

Parecer sobre a Arguição de Descumprimento de Preceito Fundamental, ADPF/186, apresentada ao Supremo Tribunal Federal

Luiz Felipe de Alencastro
Cientista Político e Historiador
Professor titular da cátedra de História do Brasil da Universidade de Paris IV Sorbonne

No presente ano de 2010, os brasileiros afro-descendentes, os cidadãos que se auto-definem como pretos e pardos no recenseamento nacional, passam a formar a maioria da população do país. A partir de agora -, na conceituação consolidada em décadas de pesquisas e de análises metodológicas do IBGE -, mais da metade dos brasileiros são negros.
Esta mudança vai muito além da demografia. Ela traz ensinamentos sobre o nosso passado, sobre quem somos e de onde viemos, e traz também desafios para o nosso futuro.
Minha fala tentará juntar os dois aspectos do problema, partindo de um  resumo histórico para chegar à atualidade e ao julgamento que nos ocupa. Os  ensinamentos sobre nosso passado, referem-se à densa presença da população negra na formação do povo brasileiro. Todos nós sabemos que esta presença originou-se e desenvolveu-se na violência. Contudo, a extensão e o impacto do escravismo não tem sido suficientemente sublinhada.  A petição inicial de ADPF apresentada pelo DEM a esta Corte fala genéricamente sobre “o racismo e a opção pela escravidão negra » (pp. 37-40), sem considerar a especificidade do escravismo em nosso país.
Na realidade, nenhum país americano praticou a escravidão em tão larga escala como o Brasil. Do total de cerca de 11 milhões de africanos deportados e chegados vivos nas Américas, 44% (perto de 5 milhões) vieram para o território brasileiro num período de três séculos (1550-1856). O outro grande país escravista do continente, os Estados Unidos, praticou o tráfico negreiro por pouco mais de um século (entre 1675 e 1808) e recebeu uma proporção muito menor -, perto de 560.000 africanos -, ou seja, 5,5% do total do tráfico transatlantico.[1] No final das contas, o Brasil se apresenta como o agregado político americano que captou o maior número de africanos e que manteve durante mais tempo a escravidão.
Durante estes três séculos, vieram para este lado do Atlântico milhões de africanos que, em meio à miséria e ao sofrimento, tiveram coragem e esperança para constituir as famílias e as culturas formadoras de uma parte essencial do povo brasileiro. Arrancados para sempre de suas famílias, de sua aldeia, de seu continente, eles foram deportados por negreiros luso-brasileiros e, em seguida, por traficantes genuinamente brasileiros que os trouxeram acorrentados em navios arvorando o auriverde pendão de nossa terra, como narram estrofes menos lembradas do poema de Castro Alves. 
No século XIX, o Império do Brasil aparece ainda como a única nação independente que praticava o tráfico negreiro em larga escala. Alvo da pressão diplomática e naval britânica, o comércio oceânico de africanos passou a ser proscrito por uma rede de tratados internacionais que a Inglaterra teceu no Atlântico. [2]
O tratado anglo-português de 1818 vetava o tráfico no norte do equador. Na sequência do tratado anglo-brasileiro de 1826, a lei de 7 de novembro de 1831, proibiu a totalidade do comércio atlântico de africanos no Brasil.
Entretanto, 50.000 africanos oriundos do norte do Equador são ilegalmente desembarcados entre 1818 e 1831, e 710.000 indivíduos, vindos de todas as partes da África, são trazidos entre 1831 e 1856, num circuito de tráfico clandestino. Ora, da mesma forma que o tratado de 1818, a lei de 1831 assegurava plena liberdade aos africanos introduzidos no país após a proibição. Em conseqüência, os alegados proprietários desses indivíduos livres eram considerados sequestradores, incorrendo nas sanções do artigo 179 do «Código Criminal», de 1830, que punia o ato de “reduzir à escravidão a pessoa livre que se achar em posse de sua liberdade ». A lei de 7 de novembro 1831 impunha aos infratores uma pena pecuniária e o reembôlso das despesas com o reenvio do africano sequestrado para qualquer porto da África. Tais penalidades são reiteradas no artigo 4° da Lei de 4 de setembro de 1850, a lei Eusébio de Queirós que acabou definitivamente com o tráfico negreiro.
Porém, na década de 1850, o governo imperial anistiou, na prática, os senhores culpados do crime de seqüestro, mas deixou livre curso ao crime correlato, a escravização de pessoas livres.[3] De golpe, os 760.000 africanos desembarcados até 1856 -, e a totalidade de seus descendentes -, continuaram sendo mantidos ilegalmente na escravidão até 1888[4]. Para que não estourassem rebeliões de escravos e de gente ilegalmente escravizada, para que a ilegalidade da posse de cada senhor, de cada seqüestrador, não se transformasse em insegurança coletiva dos proprietários, de seus sócios e credores -, abalando todo o país -, era preciso que vigorasse um conluio geral, um pacto implícito em favor da violação da lei. Um pacto fundado nos “interesses coletivos da sociedade”, como sentenciou, em 1854, o ministro da Justiça, Nabuco de Araújo, pai de Joaquim Nabuco.
O tema subjaz aos debates da época. O próprio Joaquim Nabuco -, que está sendo homenageado neste ano do centenário de sua morte -, escrevia com todas as letras em “O Abolicionismo” (1883): “Durante cinqüenta anos a grande maioria da propriedade escrava foi possuída ilegalmente. Nada seria mais difícil aos senhores, tomados coletivamente, do que justificar perante um tribunal escrupuloso a legalidade daquela propriedade, tomada também em massa”[5].
Tal “tribunal escrupuloso” jamais instaurou-se nas cortes judiciárias, nem tampouco na historiografia do país. Tirante as ações impetradas por um certo número de advogados e magistrados abolicionistas, o assunto permaneceu encoberto na época e foi praticamente ignorado pelas gerações seguintes.
Resta que este crime coletivo guarda um significado dramático: ao arrepio da lei, a maioria dos africanos cativados no Brasil a partir de 1818 -, e todos os seus descendentes  -, foram mantidos na escravidão até 1888. Ou seja, boa parte das duas últimas gerações de indivíduos escravizados no Brasil não era escrava. Moralmente ilegítima, a escravidão do Império era ainda -, primeiro e sobretudo -, ilegal. Como escreví, tenho para mim que este pacto dos sequestadores constitui o pecado original da sociedade e da ordem jurídica brasileira.[6]
Firmava-se duradouramente o princípio da impunidade e do casuísmo da lei que marca nossa história e permanece como um desafio constante aos tribunais e a esta Suprema Corte. Consequentemente, não são só os negros brasileiros que pagam o preço da herança escravista.
Outra deformidade gerada pelos “males que a escravidão criou”, para retomar uma expressão de Joaquim Nabuco, refere-se à violência policial.
Para expor o assunto, volto ao século XIX, abordando um ponto da história do direito penal que os ministros desta Corte conhecem bem e que peço a permissão para relembrar.
Depois da Independência, no Brasil, como no sul dos Estados Unidos, o escravismo passou a ser consubstancial ao State building, à organização das instituições nacionais. Houve, assim, uma modernização do escravismo para adequá-lo ao direito positivo e às novas normas ocidentais que regulavam a propriedade privada e as liberdades públicas. Entre as múltiplas contradições engendradas por esta situação, uma relevava do Código Penal: como punir o escravo delinqüente sem encarcerá-lo, sem privar o senhor do usufruto do trabalho do cativo que cumpria pena prisão?
Para solucionar o problema, o quadro legal foi definido em dois tempos. Primeiro, a  Constituição de 1824 garantiu, em seu artigo 179, a extinção das punições físicas constantes nas aplicações penais portuguesas. “Desde já ficam abolidos os açoites, a tortura, a marca de ferro quente, e todas as mais penas cruéis”; a Constituição também prescrevia: “as cadeias serão seguras, limpas e bem arejadas, havendo diversas casas para separação dos réus, conforme suas circunstâncias e natureza de seus crimes”.
Conforme os princípios do Iluminismo, ficavam assim preservadas as liberdades e a dignidade dos homens livres.
Num segundo tempo, o Código Criminal de 1830 tratou especificamente da prisão dos escravos, os quais representavam uma forte proporção de habitantes do Império. No seu artigo 60, o Código  reatualiza a pena de tortura. “Se o réu for escravo e incorrer em pena que não seja a capital ou de galés, será condenado na de açoites, e depois de os sofrer, será entregue a seu senhor, que se obrigará a trazê-lo com um ferro pelo tempo e maneira que o juiz designar, o número de açoites será fixado na sentença e o escravo não poderá levar por dia mais de 50”. Com o açoite, com a tortura, podia-se punir sem encarcerar: estava resolvido o dilema.
Longe de restringir-se ao campo, a escravidão também se arraigava nas cidades. Em 1850, o Rio de Janeiro contava 110.000 escravos entre seus 266.000 habitantes, reunindo a maior concentração urbana de escravos da época moderna. Neste quadro social, a questão da segurança pública e da criminalidade assumia um viés específico.[7] De maneira mais eficaz que a prisão, o terror, a ameça do açoite em público, servia para intimidar os escravos.
Oficializada até o final do Império, esta prática punitiva estendeu-se às camadas desfavorecidas, aos negros em particular e aos pobres em geral. Junto com a privatização da justiça efetuada no campo pelos fazendeiros, tais procedimentos travaram o advento de uma política de segurança pública fundada nos princípios da liberdade individual e dos direitos humanos.
Enfim, uma terceira deformidade gerada pelo escravismo afeta diretamente o estatuto da cidadania.
            É sabido que nas eleições censitárias de dois graus ocorrendo no Império, até a Lei Saraiva, de 1881, os analfabetos, incluindo negros e mulatos alforriados, podiam ser votantes, isto é, eleitores de primeiro grau, que elegiam eleitores de 2° grau (cerca de 20.000 homens em 1870), os quais podiam eleger e ser eleitos parlamentares. Depois de 1881, foram suprimidos os dois graus de eleitores e em 1882, o voto dos analfabetos foi vetado. Decidida no contexto pré-abolicionista, a proibição buscava criar um ferrolho que barrasse o acesso do corpo eleitoral à maioria dos libertos. Gerou-se um estatuto de infracidadania que perdurou até 1985, quando foi autorizado o voto do analfabeto. O conjunto dos analfabetos brasileiros, brancos e negros, foi atingido.[8] Mas a exclusão política foi mais impactante na população negra, onde o analfabetismo registrava, e continua registrando, taxas proporcionalmente bem mais altas do que entre os brancos.[9]
Pelos motivos apontados acima, os ensinamentos do passado ajudam a situar o atual julgamento sobre cotas universitárias na perspectiva da construção da nação e do sistema politico de nosso país. Nascidas no século XIX, a partir da impunidade garantida aos proprietários de indivíduos ilegalmente escravizados, da violência e das torturas infligidas aos escravos e da infracidadania reservada ao libertos, as arbitrariedades engendradas pelo escravismo submergiram o país inteiro.
Por isso, agindo em sentido inverso, a redução das discriminações que ainda pesam sobre os afrobrasileiros -, hoje majoritários no seio da população -, consolidará nossa democracia.
Portanto, não se trata aqui de uma simples lógica indenizatória, destinada a quitar dívidas da história e a garantir direitos usurpados de uma comunidade específica, como foi o caso, em boa medida, nos memoráveis julgamentos desta Corte sobre a demarcação das terras indígenas. No presente julgamento, trata-se, sobretudo, de inscrever a discussão sobre a política afirmativa no aperfeiçoamento da democracia, no vir a ser da nação. Tais são os desafios que as cotas raciais universitárias colocam ao nosso presente e ao nosso futuro. 
Atacando as cotas universitárias, a ADPF do DEM, traz no seu ponto 3 o seguinte título « o perigo da importação de modelos : os exemplos de Ruanda e dos Estados Estados Unidos da América » (pps. 41-43). Trata-se de uma comparação absurda no primeiro caso e inepta no segundo.
Qual o paralelo entre o Brasil e Ruanda, que alcançou a independência apenas em 1962 e viu-se envolvido, desde 1990, numa conflagração generalizada que os especialistas denominam a « primeira guerra mundial africana », implicando também o Burundi, Uganda, Angola, o Congo Kinsasha e o Zimbabuê, e que culminou, em 1994, com o genocídio de quase 1 milhão de tutsis e milhares de hutus ruandenses ?
Na comparação com os Estados Unidos, a alegação é inepta por duas razões. Primeiro, os Estados Unidos são a mais antiga democracia do mundo e servem de exemplo a instituições que consolidaram o sistema político no Brasil. Nosso federalismo, nosso STF -, vosso STF – são calcados no modelo americano. Não há nada de “perigoso” na importação de práticas americanas que possam reforçar nossa democracia. A segunda razão da inépcia reside no fato de que o movimento negro e a defesa dos direitos dos ex-escravos e afrodescendentes tem, como ficou dito acima, raízes profundas na história nacional. Desde o século XIX, magistrados e advogados brancos e negros tem tido um papel fundamental nesta reinvidicações.
Assim, ao contrário do que se tem dito e escrito, a discussão relançada nos anos 1970-1980 sobre as desigualdades raciais é muito mais o resultado da atualização das estatísticas sociais brasileiras, num contexto de lutas democráticas contra a ditadura, do que uma propalada « americanização » do debate sobre a discriminação racial em nosso país. Aliás, foram estas mesmas circunstâncias que suscitaram, na mesma época, os questionamentos sobre a distribuição da renda no quadro do alegado « milagre econômico ». Havia, até a realização da primeira PNAD incluindo o critério cor, em 1976, um grande desconhecimento sobre a evolução demográfica e social dos afrodescendentes.
De fato, no Censo de 1950, as estatísticas sobre cor eram limitadas, no Censo de 1960, elas ficaram inutilizadas e no Censo de 1970 elas eram inexistentes. Este longo período de eclipse estatística facilitou a difusão da  ideologia da “democracia racial brasileira”, que apregoava de inexistência de discriminação racial no país. Todavia, as PNADs de 1976, 1984, 1987, 1995, 1999 e os Censos de 1980, 1991 e 2000, incluíram o critério cor. Constatou-se, então, que no decurso de três décadas, a desigualdade racial permanecia no quadro de uma sociedade mais urbanizada, mais educada e com muito maior renda do que em 1940 e 1950. Ou seja, ficava provado que a desigualdade racial tinha um carácter estrutural que não se reduzia com progresso econômico e social do país. Daí o adensamento das reinvidicações da comunidade negra, apoiadas por vários partidos políticos e por boa parte dos movimentos sociais.
Nesta perspectiva, cabe lembrar que a democracia, a prática democrática, consiste num processo dinâmico, reformado e completado ao longo das décadas pelos legisladores brasileiros, em resposta às aspirações da sociedade e às iniciativas de países pioneiros. Foi somente em 1932 -,  ainda assim com as conhecidas restrições suprimidas em 1946 -, que o voto feminino instaurou-se no Brasil. Na época, os setores tradicionalistas alegaram que a capacitação política das mulheres iria dividir as famílias e perturbar a tranquilidade de nação. Pouco a pouco, normas consensuais que impediam a plena cidadania e a realização profissional das mulheres foram sendo reduzidas, segundo o preceito -, aplicável também na questão racial -, de que se deve tratar de maneira desigual o problema gerado por uma situação desigual.
Para além do caso da política de cotas da UNB, o que está em pauta neste julgamento são, a meu ver, duas questões essenciais.
A primeira é a seguinte : malgrado a inexistência de um quadro legal discriminatório a população afrobrasileira é discriminada nos dias de hoje?
A resposta está retratada nas creches, nas ruas, nas escolas, nas universidades, nas cadeias, nos laudos dos IML de todo o Brasil. Não me cabe aqui entrar na análise de estatísticas raciais, sociais e econômicas que serão abordadas por diversos especialistas no âmbito desta Audiência Pública. Observo, entretanto, que a ADPF apresentada pelo DEM, na parte intitulada « A manipulação dos indicadores sociais envolvendo a raça » (pp. 54-59), alinha algumas cifras e cita como única fonte analítica, o livro do jornalista Ali Kamel, o qual, como é sabido, não é versado no estudo das estatísticas do IBGE, do IPEA, da ONU e das incontáveis pesquisas e teses brasileiras e estrangeiras que demonstram, maciçamente, a existência de discriminação racial no Brasil.
Dai decorre a segunda pergunta que pode ser formulada em dois tempos.  O sistema de promoção social posto em prática desde o final da escravidão poderá eliminar as desigualdades que cercam os afrobrasileiros? A expansão do sistema de bolsas e de cotas pelo critério social provocará uma redução destas desigualdades ?
Os dados das PNAD organizados pelo IPEA mostram, ao contrário, que as disparidades se mantém ao longo da última década. Mais ainda, a entrada no ensino superior exacerba a desigualdade racial no Brasil. 
Dessa forma, no ensino fundamental (de 7 a 14 anos), a diferença entre brancos e negros começou a diminuir a partir de 1999 e em 2008 a taxa de frequência entre os dois grupos é praticamente a mesma, em torno de 95% e 94% respectivamente. No ensino médio (de 15 a 17 anos) há uma diferença quase constante desde entre 1992 e 2008. Neste último ano, foram registrados 61,0% de alunos brancos e 42,0% de alunos negros desta mesma faixa etária. Porém, no ensino superior a diferença entre os dois grupos se escancara. Em 2008, nas faixas etárias de brancos maiores de 18 anos de idade, havia 20,5% de estudantes universitários e nas faixas etárias de negros maiores de 18 anos, só 7,7% de estudantes universitários.[10] Patenteia-se que o acesso ao ensino superior constitui um gargalo incontornável para a ascensão social dos negros brasileiros.
Por todas estas razões, reafirmo minha adesão ao sistema de cotas raciais aplicado pela Universidade de Brasília.
Penso que seria uma simplificação apresentar a discussão sobre as cotas raciais como um corte entre a esquerda e a direita, o governo e a oposição ou o PT e o PSDB. Como no caso do plebiscito de 1993, sobre o presidencialismo e o parlamentarismo, a clivagem atravessa as linhas partidárias e ideológicas. Aliàs, as primeiras medidas de política afirmativa relativas à população negra foram tomadas, como é conhecido, pelo governo Fernando Henrique Cardoso.
Como deixei claro, utilizei vários estudos do IPEA para embasar meus argumentos. Ora, tanto o presidente do IPEA no segundo governo Fernando Henrique Cardoso, o professor Roberto Borges Martins, como o presidente do IPEA no segundo governo Lula, o professor Márcio Porchman -, colegas por quem tenho respeito e admiração -, coordenaram  vários estudos sobre a discriminação racial no Brasil nos dias de hoje e são ambos favoráveis às políticas afirmativas e às políticas de cotas raciais.
A existência de alianças transversais deve nos conduzir -, mesmo num ano de eleições -, a um debate menos ideologizado, onde os argumentos de uns e de outros possam ser analisados a fim de contribuir para a  superação da desigualdade racial que pesa sobre os negros e a democracia brasileira.



[1].Ver o Database da Universidade de Harvard acessível no sítio http://www.slavevoyages.org/tast/index.faces
[2]. Demonstrando um grande desconhecimento da história pátria e supercialidade em sua argumentação, a petição do DEM afirma na página 35: “Por que não direcionamos a Portugal e à Inglaterra a indenização a ser devida aos afrodescendentes, já que foram os portugueses e os ingleses quem organizaram o tráfico de escravos e a escravidão no Brasil?”. Como é amplamente conhecido, os ingleses não tiveram participação no escravismo brasileiro, visto que o tráfico negreiro constituía-se como um monopólio português, com ativa participação brasileira no século XIX. Bem ao contrário, por razões que não cabe desenvolver neste texto, a Inglaterra teve um papel decisivo na extinção do tráfico negreiro para o Brasil 
[3]. A. Perdigão Malheiro, A Escravidão no Brasil – Ensaio Histórico, Jurídico, Social (1867), Vozes, Petrópolis, R.J., 1976, 2 vols. , v. 1, pp. 201-222. Numa mensagem confidencial ao presidente da província de São Paulo, em 1854, Nabuco de Araújo, ministro da Justiça, invoca “os interesses coletivos da sociedade”, para não aplicar a lei de 1831, prevendo a liberdade dos africanos introduzidos após esta data, Joaquim Nabuco, Um Estadista do Império (1897-1899), Topbooks, Rio de Janeiro, 1997, 2 vols., v. 1, p. 229, n. 6
[4] . Beatriz G. Mamigonian, comunicação no seminário do Centre d’Études du Brésil et de l’Atlantique Sud, Université de Paris IV Sorbonne, 21/11/2006; D.Eltis, Economic Growth and the Ending of the Transatlantic Slave Trade, Oxford University Press, Oxford, U.K. 1989, appendix A, pp. 234-244.
[5] . Joaquim Nabuco, O Abolicionismo (1883), ed. Vozes, Petrópolis, R.J., 1977, pp 115-120, 189. Quinze anos depois, confirmando a importância primordial do tráfico de africanos  -, e da na reprodução desterritorializada da produção escravista -, Nabuco afirma que foi mais fácil abolir a escravidão em 1888, do que fazer cumprir a lei de 1831, id., Um Estadista do Império (1897-1899), Rio de Janeiro, Topbooks,1997, 2 vols., v. 1, p. 228.
[6] . L.F. de Alencastro, “A desmemória e o recalque do crime na política brasileira”, in Adauto Novaes, O Esquecimento da Política, Agir Editora, Rio de Janeiro, 2007, pp. 321-334.
[7] . Luiz Felipe de Alencastro, “Proletários e Escravos: imigrantes portugueses e cativos africanos no Rio de Janeiro 1850-1870”, in Novos Estudos Cebrap, n. 21, 1988, pp. 30-56;
[8] . Elza Berquó e L.F. de Alencastro, “A Emergência do Voto Negro”, Novos Estudos Cebrap, São Paulo, nº33, 1992, pp.77-88.
[9] . O censo de 1980 mostrava que o índice de indivíduos maiores de cinco anos "sem instrução ou com menos de 1 ano de instrução" era de 47,3% entre os pretos, 47,6% entre os pardos e 25,1% entre os brancos. A desproporção reduziu-se em seguida, mas não tem se modificado nos últimos 20 anos. Segundo as PNADs, em 1992, verificava-se que na população maior de 15 anos, os brancos analfabetos representavam 4,0 % e os negros 6,1 %, em 2008 as taxas eram, respectivamente de 6,5% e 8,3%. O aumento das taxas de analfabetos provém, em boa parte, do fato que a partir de 2004, as PNADs passa a incorporar a população rural de Rondônia, Acre, Amazonas,Roraima, Pará e Amapá. Dados extraídos das tabelas do IPEA.
[10] . Dados fornecidos pelo pesquisador do IPEA, Mario Lisboa Theodoro, que também participa desta Audiência Pública.

segunda-feira, 8 de março de 2010

Programação - Curso Anual Manuel Querino - Personalidades Negras 2010




PROGRAMAÇÃO
Curso Anual Manuel Querino – Personalidades Negras
Terça-feira dia 23 de março de 2010
AUDITÓRIO DA ACADEMIA DE LETRAS DA BAHIA

13h às 14h

Credenciamento


14h

Abertura: Prof. Edivaldo Machado Boaventura


14h30








16h10 Intervalo



16h30







19h

Palestra: Manuel Querino: Vida e Obra na luta contra o “Racismo Científico – Profa. Msc. Sabrina Gledhill  (Pós-Afro CEAO-UFBA / IGHB)
               
Palestra: Manuel Querino e as Artes na Bahia – Prof. Dr. Luiz Alberto Freire (UFBA)




Palestra: Solano Trindade – Profa. Raquel Trindade (a confirmar)


Palestra: Francisco da Conceição Menezes: o educador – Profa. MS. Débora Kelman de Lima (Colégio da Bahia)
              
Debate e encerramento
Quarta-feira dia 24 de março de 2010
AUDITÓRIO DA ACADEMIA DE LETRAS DA BAHIA

14h00







16h10 Intervalo

16h30








19h

Palestra: George Alakija – Profa. Ana Alakija


Palestra: Artur Arézio da Fonseca: um nome para escrever em caixa alta – Prof. Dr. Luis Guilherme Pontes Tavares (FTC/ALBA)


Palestra: Antônio de Souza Benta: coronel negro da Chapada Diamantina – Prof. Msc. Jedean Gomes (UNEB)

Palestra: Édison Carneiro e o samba na chave do Folclore – Profa. Msc. Alessandra Carvalho da Cruz (UCSAL)


Debate e encerramento


Quinta-feira dia 25 de março de 2010
AUDITÓRIO DA ACADEMIA DE LETRAS DA BAHIA

14h00





16h10 Intervalo



16h30










19h

Palestra: Mãe Senhora: filha de Oxum Miua – Prof. Luis Domingos de Souza (Restaurante Maria de São Pedro)

Palestra: Nelson de Araújo – Prof. Dr. Adailton Silva Santos (UNEB)




Palestra: A Boa Morte de S. Gonçalo dos Campos - A família Cazumbá. – Prof. Dr. Sebastião Heber (UNEB / IGHB)


Palestra: Mãe Menininha do Gantois – Prof. Dr. Francisco Soares de Senna (UFBA/ALB)

Debate e encerramento
Obs. A programação poderá sofrer alterações, de acordo com as necessidades demandadas  decorrer do processo de organização do Curso.