terça-feira, 30 de setembro de 2008

Machado de Assis: um mestre na periferia III

Machado de Assis: um mestre na periferia II

Machado de Assis: um mestre na periferia I

Curta-metragem "O Rio de Machado de Assis"

CPDOC-JB

Em 29 de setembro de 1908, o Brasil perdia um dos seus mais ilustres homem de letras: Machado de Assis. Cem anos após a sua morte, a sua obra mantém-se tão atual quanto na época de sua criação. É a marca da genialidade do autor.

Para comemorar o centenário de sua morte, o JBOnline exibe a partir de hoje o curtametragem "O Rio de Machado de Assis", recentemente recuperado e telecinado em parceria com a ABL. Trata-se de uma iniciativa do Jornal do Brasil, com direção de Nelson Pereira dos Santos, produzido por ocasião das comemorações do IV Centenário da fundação da Cidade do Rio de Janeiro, em 1965. Uma narrativa com citações do próprio autor, na voz de Paulo Mendes de Campos, revisitando sua vida e obra, tendo como pano de fundo os lugares em que o escritor viveu na Cidade do Rio.

segunda-feira, 29 de setembro de 2008

Prefeitura torna patrimônio cultural do Rio obra de Machado de Assis


Bruna Talarico, Jornal do Brasil

RIO - O centenário da morte do escritor Machado de Assis, comemorado nesta segunda-feira, levou a Prefeitura da cidade a declarar como Patrimônio Cultural Carioca toda a obra literária do autor e a tombar os imóveis que serviram de residência ao pai de Dom Casmurro. A decisão será publicada nesta segunda no Diário Oficial do município.

Os imóveis deverão preservar fachada e telhado originais para receber da prefeitura incentivos como a isenção de IPTU. A casa na qual Machado viveu entre os anos de 1869 e 1871, localizada no número 147 da Rua dos Andradas, encontra-se atualmente abandonada e apresenta precárias condições estruturais. Já a construção da Rua da Lapa, atualmente localizada pelo número 242, antigo 96, está invadida por pelo menos 15 famílias, como noticiou o Jornal do Brasil no início do mês.

No casarão de estilo neoclássico, Joaquim Maria Machado de Assis dividiu sua vida com a mulher, Carolina Augusta e Novaes, entre os anos de 1874 e 1875. Segundo a legislação de preservação de imóveis, o tombamento não prevê a intervenção da prefeitura na administração do bem particular.

Para o historiador Milton Teixeira, a prefeitura cumpre, com o decreto, sua função de preservação e resgate da memória de Machado, tido pelo pesquisador como o maior escritor brasileiro de todos os tempos. No entanto, ele acredita que, se fosse de interesse real da prefeitura, ela poderia solicitar a remoção dos invasores e transformar as construções em centros de resgate cultural.

– Essas construções fazem parte da história da cidade por serem únicas. A casa na qual ele morreu foi destruída há 35 anos, em plena ditadura militar – exemplifica Teixeira. – Quando Machado se casou com dona Carolina, ele morava na rua dos Andradas. E, apesar de não ter servido de residência efetiva, o casarão da rua da Lapa foi moradia de Machado por 11 meses. É preciso preservar a trajetória de Machado, que nasceu pobre, no morro (do Livramento), e morreu no Cosme Velho, um bairro de ricos. Uma prefeitura consciente tomaria, em complemento ao tombamento, alguma iniciativa de transformar os lugares em espaços culturais.

Memória literária

De acordo com a medida que declara toda a obra literária de Machado de Assis como Patrimônio Cultural Carioca, a pesquisa sobre o trabalho do escritor se torna permanente.

Ver matéria original aqui

quinta-feira, 25 de setembro de 2008

Novo livro de João José Reis


Lançamentos

Domingos Sodré - Um sacerdote africano (Cia. das Letras)

de João José Reis


Pesquisadores como Nina Rodrigues e Gilberto Freyre prestaram atenção à conexão entre Brasil e África no passado. Depois, veio Pierre Verger, que mobilizou grande documentação para investigar relações entre Bahia e Benim. Hoje um grande número de pesquisadores busca entender a África melhor. Neste caso, procurei saber o que se passava no reino de Lagos (Nigéria), terra de Domingos. Mas não se deve exagerar a presença da África, porque a vida dos africanos feitos escravos teve que ser refeita. Boa parte da bagagem cultural foi abandonada ou reformada, até como imperativo de sobrevivência. O historiador deve tentar estudar por que certos elementos culturais ficaram e que novos significados ganharam, em geral na mistura com outros, de origens africanas ou locais. Leia mais

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A Questão Ancestral: África Negra, de Fábio Leite |

O desafio do escombro: Nação, identidades e pós-colonialismo na literatura da Guiné Bissau | Moema Parente Augel

terça-feira, 23 de setembro de 2008

Lançamento: Sociologia da fotografia e da imagem

A Editora Contexto apresenta um lançamento da sua área de interesse, escrito por um dos mais importantes cientistas sociais do Brasil, o prof. José de Souza Martins.





O fascínio da fotografia sobre todos nós está naquilo que por meio dela nossos olhos visitam em nosso passado, no de nossos antepassados e de nossos contemporâneos. Neste livro, o autor mostra como a Sociologia e, também, a Antropologia podem encontrar em fotografias e imagens indícios de relações sociais, de mentalidades, de formas de consciência social, de maneiras de ver o mundo, de nele viver e de compreendê-lo.





Nº de Páginas: 208
Formato: 16 x 23
ISBN: 978-85-7244-033-2
Data de chegada: 30/09/2008



segunda-feira, 22 de setembro de 2008

O Antídoto

Seminário Internacional de Ações Culturais em Zonas de Conflito, outubro, Itaú Cultural, São Paulo
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Em outubro, o Itaú Cultural e o AfroReggae apresentam o Antídoto
– Seminário Internacional de Ações Culturais em Zonas de
Conflito. Em sua terceira edição, o seminário traz pensadores e
atores sociais do Brasil, de Burkina Faso, da República
Democrática do Congo, da Índia e de El Salvador.

Além dos debates, o Antídoto promove a mostra de documentários
CinePerifa, da Central Única das Favelas (Cufa-SP); a peça
Machado a 3 x 4, do grupo Nós do Morro; shows de AfroReggae,
AfroSamba, Ilê Aiyê, Lirinha, Samba da Vela e Z'África Brasil;
o lançamento do livro A Cultura É a Nossa Arma: AfroReggae nas
Favelas do Rio, de Damian Platt e Patrick Neate, e da publicação
Antídoto, que trata das duas primeiras edições do evento.

Na semana do dia 20, Dona Chupetinha, a cozinheira mais famosa de
Vigário Geral, será a responsável pelos pratos oferecidos no
restaurante do instituto, o Café Cultural. Em uma ação conjunta
com a Organização das Nações Unidas (ONU) e com o apoio da
Fundação Rebook, o Antídoto sedia, também, a comemoração dos 60
anos da Declaração Universal dos Direitos Humanos.

Todas as atividades têm entrada gratuita. Os shows e os
seminários serão transmitidos ao vivo pela internet. Confira a
programação completa no hotsite
http://www.itaucultural.org.br/antidoto2008 .

quinta 2 a quinta 23

Itaú Cultural | Avenida Paulista 149 Paraíso
(próximo à estação Brigadeiro do metrô)
informações 11 2168 1777 |
www.itaucultural.org.br


domingo, 21 de setembro de 2008

Fotógrafo Eduardo Tavares expõe fotos dos Alagados na Galeria Pierre Verger

Fernando Vivas / Agência A Tarde
12/11/2007 às 12/11
“Fui buscar vida em Alagados”

Tássia Novaes, do A Tarde On Line


“Se cair uma lágrima, não ligue. É que hoje é um dia muito importante para mim”. Dito e certo. Em menos de 20 minutos de conversa, os olhos de Eduardo Tavares, 22 anos, autor da exposição fotográfica Alagados-Salvador, em cartaz na galeria Pierre Verger, ficaram completamente mareados.

Na verdade, era possível notar o entusiasmo do rapaz desde o primeiro contato, por telefone, minutos antes da entrevista. É que a consolidação da exposição representa para o rapaz negro, alto e forte, além do sucesso profissional, uma vitória na vida. “No meu bairro, meus vizinhos só aparecem no jornal na página policial. Um chama o outro, todo mundo corre para ver. Agora levo outro exemplo”, comemora.

Nascido e criado no bairro dos Alagados, periferia de Salvador, conhecido pelas famosas e precárias palafitas, é o terceiro da série de quatro irmãos. Pai eletricista, mãe dona-de-casa. Eduardo sabe de perto o que é viver com a renda familiar escassa. “A vida nunca é fácil para quem vive na periferia. Menino vira bandido e menina fica grávida antes de virar mulher”, avalia.

Foi através da fotografia que Eduardo descobriu uma nova forma de vida. “Ainda não consegui ganhar dinheiro, mas tenho fé de que vou conseguir com o tempo. O passo mais importante foi dado: não entrei no mundo do crime”, analisa. Dados do Unicef apontam que a cada 100 mil crianças e adolescentes que vivem na capital baiana, 31,7 tem morte por causas externas, geralmente ligadas à violência. “Uma taxa elevada”, garante Cláudia Fernandes, responsável pelo monitoramento e avaliação do Unicef em Salvador.

Fora das estatísticas – A descoberta do talento de fotógrafo ocorreu “por acaso, graças ao apoio da namorada”, a coreógrafa Márcia Duarte, como gosta de ressaltar. Há pouco mais de três anos, Eduardo pretendia prestar vestibular para Educação Física e, para ajudar no orçamento familiar, dava aulas de frescobol no Porto da Barra. Até que conheceu um grupo de alemães que estava em Salvador para rodar um documentário na parte periférica da cidade. Eduardo seria o guia da turma.

Logo na primeira visita, um alemão passou a bola para o rapaz. “Disse que a câmera fotográfica devia ficar comigo, porque eu era do bairro, e ele queria ver meu olhar sobre as pessoas que viviam na comunidade”, conta. Sem titubear, Eduardo não pensou nem duas vezes. Foi amor ao primeiro clique.

Gravado o documentário, os alemães foram embora e Eduardo resolveu seguir adiante. “Procurei um curso de iniciação na Casa da Photografia. A mensalidade era cara, mais de R$ 400, eu não tinha como pagar. Falei a minha situação e me deram uma bolsa parcial. Pagava a metade sob condição de ser ajudante de uma exposição que ia ser montada pela instituição”.

Curso engatado, faltava um detalhe fundamental ao desenvolvimento artístico do rapaz: uma câmera. Sem condições de investir na compra de equipamento, veio da namorada de Eduardo a solução para o problema. “O pai dela tinha uma analógica Olympus 50mm abandonada em uma caixa, acabei herdando”, conta com satisfação.

O equipamento precisava apenas de pequenos reparos. Eduardo levou numa loja de conserto, onde acabou ganhando “um outro presente da vida”. “Um funcionário me deu um CD de curso de fotografia da National Geographic. Uma coisa ia ligando a outra e tudo foi acontecendo em sincronia. Sou muito feliz por isso”.

Motivado, Eduardo ia para a lan house mais próxima de sua casa usufruir do presente. O cenário predileto para as fotos sempre foi o bairro onde mora. “È uma forma de me expressar. É muita miséria, apenas tento mostrar que há beleza mesmo diante do sofrimento. O que as pessoas precisam é de oportunidade”, acredita.

Das fotos que estão em exibição na galeria Pierre Verger, Eduardo elege duas como favoritas: “Minha boneca” e “Natureza morta”. A primeira mostra uma menina dependurada na janela com uma boneca. “Ela estava sozinha e quando comecei a fotografá-la entrou em casa e voltou com a boneca”, descreve. Já a segunda, tem caráter de denúncia e aborda a pesca predatória com bomba, prática bastante comum na região dos Alagados. “Os barracos tremem a cada bomba que é jogada no mar”, conta.


sábado, 20 de setembro de 2008

CEN Brasil informa: População realiza ato de combate à intolerância

Uma manifestação de combate à intolerância religiosa foi realizada na manhã desta sexta-feira (19), em Salvador. Representantes de terreiros e devotos do Candomblé, vestidos de branco, simbolizando a paz, participaram do ato em vários bairros da capital baiana. A concentração foi no Memorial das Baianas, na Praça da Sé.
Em 21 bairros de Salvador, árvores amanheceram envoltas em laços de pano branco. Três mil metros de tecido foram espalhados pela cidade e ganharam lugar em espaços como Campo Grande e Dique do Tororó. Para os seguidores do Candomblé, o gesto é o sinal de respeito à natureza e da ligação do homem com a terra e o sagrado.

Assista vídeo dessa matéria.

Dia dos Ojás (Lançamento da IV Caminhada pela Vida e Liberdade Religiosa)


Vejam as fotos tiradas por Fernando Vivas...


http://cenbrasil.blogspot.com/2008/09/tarde-on-line-fotos-ato-contra.html

sexta-feira, 19 de setembro de 2008

NOITE DE CHORINHO

IGHB apresenta "NOITE DE CHORINHO": show acontece na quarta-feira (24), às 18h

O Instituto Geográfico e Histórico da Bahia tem a honra de convidá-lo(a) para o show “Os primórdios do Choro”, que será apresentado pelo músico Paulo Emílio e o conjunto Trilha de Cordas, na quarta-feira (24 de setembro), às 18h.. A mostra é um dos destaques do Curso "Panorama da Música Brasileira", que acontece no Instituto a partir do dia 30 de setembro a 28 de outubro. O objetivo é contar a trajetória da MPB, reconhecendo a ligação entre os fatos históricos e a realidade musical atual. Serão identificados os principais gêneros urbanos a partir do século XIX: do auge da Modinha e do Lundu ao surgimento do Choro, Samba, Frevo, Baião, Jovem Guarda ..., Tropicália, Música de Protesto, anos 80 e o Rock, anos 90 Axé, Pagode, Funk e Sertanejo.

IGHB: Av. Sete de Setembro, 94 A – Piedade

Site: www.ighb.org.br

Telefones: 71 3329 4463/6336

Palestra: ÁFRICA. LENDAS, MITOS E VERDADES


O Instituto Sacatar convida para palestra, que acontecerá no Colégio Estadual Duque de Caxias, às 10:00h do próximo dia 24 de Setembro, sobre o tema: ÁFRICA. LENDAS, MITOS E VERDADES, que será proferida pela artista visual Hannah Morris, que é radicada na África do Sul e atualmente participa do programa de residência artística do Instituto Sacatar, na ilha de Itaparica e por Rogério Andrade Barbosa, escritor, carioca expert no continente africano, onde atuou como voluntário da ONU e atualmente um dos consultores mais procurados para referendar e embasar projetos, que dizem respeito a este território, seu povo e cultura.

O bate-papo com os alunos do Colégio Duque de Caxias, que é a maior unidade pública de ensino do bairro da Liberdade, em Salvador, visa a esclarecer mitos e estereótipos a cerca da África, tão citada, mas tão pouco conhecida, mesmo nas terras baianas.

Colocamo-nos à disposição para prestar esclarecimentos suplementares pelo nosso telefone 3631 1834, ou e-mail luis@sacatar.org, bem como, informamos os web sites www.sacatar.org , www.rogerioandradebarbosa.com e www.morridesign.com para uma maior pesquisa sobre nossas atividades e sobre os palestrantes.

terça-feira, 16 de setembro de 2008

Lançamento de livro




Companhia das Letras lança nova edição de Tenda dos milagres, de Jorge Amado, com fotos de Manuel Querino, Nina Rodrigues, Miguel Santana, Cosme de Farias e Procópio Xavier de Souza, alem do próprio Jorge, é claro.


Na Tenda dos Milagres, na ladeira do Tabuão, em Salvador, onde o amigo Lídio Corró mantém uma modesta tipografia e pinta quadros de milagres de santos, o mulato Pedro Archanjo atua como uma espécie de intelectual orgânico do povo afro-descendente da Bahia. Autodidata, seus estudos sobre a herança cultural africana e sua defesa entusiástica da miscigenação abalam a ortodoxia acadêmica e causam indignação entre a elite branca e racista.
A história é contada retrospectivamente, em dois tempos. Em 1968, a passagem por Salvador de um célebre etnólogo americano admirador de Archanjo desencadeia um revival de sua vida e obra. Para a comemoração do centenário de nascimento do herói redescoberto, arma-se todo um circo midiático. Contrapondo-se a essa apropriação política da imagem de Archanjo, sua trajetória é narrada paralelamente como foi preservada na memória do povo: os amores, as polêmicas com os luminares da universidade, os confrontos com a polícia.
Ao contar a história desse herói complexo, também conhecido como "Ojuobá, os olhos de Xangô", Jorge Amado traça um painel da cultura negra baiana e de sua resistência contra a repressão violenta a que foi submetida nas primeiras décadas do século XX, resgatando e exaltando manifestações como o candomblé, a capoeira, os afoxés e o samba de roda.
Escrito em 1969, com a verve e a sensualidade habituais do autor, Tenda dos Milagres atesta seu amor à cultura afro-brasileira e seu humanismo radicalmente libertário. Foi adaptado com sucesso para o cinema, por Nelson Pereira dos Santos, e para a televisão, como minissérie da Rede Globo.
Além do posfácio do historiador João José Reis, a nova edição traz ainda cronologia e caderno de imagens com fotografias, ilustrações e capas de edições estrangeiras do romance.

sexta-feira, 12 de setembro de 2008

Manifesto contra intolerância, pela liberdade de culto e afirmando a democracia

O Manifesto acaba de entrar no ar. Está no site da Caminhada (www.eutenhofe.org.br) e no Petition Online no link que segue abaixo mas que reproduzo aqui: http://www.petitiononline.com/CMD2109/petition.html .
Assine o manifesto e divulgue entre seus amigos, vamos criar uma grande corrente de apoio, em nível nacional para este momento histórico que está sendo construído.

Ontem a Presidência da República entrou em contato conosco dizendo que o Lula estará na Assembléia da ONU, mas enviará um representante. HOje à noite a Globo começará a veicular a chamada; o mesmo farão a CBN e a Rádio Globo em nível nacional; na Bahia Paulo Rogério do Correio Nagô está com o banner chamando para a caminhada. Enfim, as fronteiras já foram rompidas há muito tempo e este movimento cívico-religioso está ganhando um belo corpo.

Vejam o manifesto:


CONTRA A INTOLERÂNCIA, PELA LIBERDADE DE CULTO E AFIRMANDO A DEMOCRACIA, INTELECTUAIS, ARTISTAS, MILITANTES RELIGIOSOS ENTRE OUTROS ASSINAM ESTE MANIFESTO DE APOIO À CAMINHADA PELA LIBERDADE RELIGIOSA – 21 DE SETEMBRO – ORLA DE COPACABANA


Os crescentes casos de discriminação religiosa ocorridos na história recente de nosso país motivaram a criação de uma Comissão de Combate à Intolerância, na cidade do Rio de Janeiro e esta, por sua vez, inspirada em ventos que nos sopram dos quilombos, da manutenção de seus ancestrais e do reconhecimentos que descendemos de heróis - que mesmo escravizados - não esqueceram suas raízes, decidiu realizar neste 21 de setembro de 2008, a Caminhada Pela Liberdade Religiosa.

Clique aqui para ler o manifesto na íntegra e assiná-lo

Marcio Alexandre M. Gualberto
Coordenador do Coletivo de Entidades Negras - CEN/RJ
Editor do blog: Palavra Sinistra
Integrante da Rede Mamapress e colunista de Afropress
Membro do Conselho Editorial da revista Raça Brasil
MSN: marciogualberto@msn.com

Boletim da Casa das Áfricas

Tradição oral
Griots, louvação oral e noção de pessoa no Sahel
Paulo F. de Moraes Farias

Louvação é uma palavra que tem significação muito restrita no mundo ocidental moderno. Porém, sob uma perspectiva africana, o que se vê é muito diferente. É um importante gênero de discurso, e um instrumento muito especializado de trabalho que é também físico, do qual se ocupam categorias hereditárias de profissionais, aos que também compete transmitir tradições históricas sob a forma de narrações orais e canções. Uma das migrações de força de trabalho que podem ser acompanhadas na história da África ocidental é a migração de louvadores (em línguas mandês). Era gente tão solicitada que podia migrar e encontrar sempre trabalho onde chegasse... Leia mais
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A questão da palavra em sociedades negro-africanas | Fábio Leite
A tradição oral e sua metodologia | J. Vancina

quinta-feira, 11 de setembro de 2008

Convite

A Palas Athena Editora e a Casa das Áfricas têm o prazer de convidá-lo para o lançamento do livro de Fábio Leite.

20 de setembro

A Questão Ancestral: África Negra, de Fábio Leite

(com prefácio de Fernando Mourão e comentários de Antonio Candido)

Local: Associação Palas Athena. Rua Leôncio de Carvalho, 99. São Paulo.

Dia: 20 de setembro, sábado. Horário: 18hs.

quarta-feira, 10 de setembro de 2008

BBC: Festa de Osun em Osogbo, na Nigéria


Ajani Adigun Davies explica o que acontece na festa realizada todo ano na cidade de Osogbo

Leia o artigo que acompanha o vídeo (em inglês) aqui

terça-feira, 9 de setembro de 2008

"Baianidade Nagô"

Leia na íntegra aqui
"[...] sábado saiu no A Tarde um especial sobre a baianidade, ela mesmo, a famigerada. Achei que tinha tudo a ver (e tem). Pra quem não teve oportunidade de ler, recomendo imensamente. As matérias e entrevistas são um mergulho nesse conceito bastante falado e pouco discutido – em larga escala, porque no meio acadêmico as teses e dissertações correm o mundo. Dá pra saber, por exemplo, que no século passado (porra, como soa estranho falar “século passado”) a baianidade foi em grande parte fruto das músicas de Dorival Caymmi e dos livros de Jorge Amado, das interações dos personagens que ambos criaram. Essa imagem, portanto, foi sendo criada na cabeça do resto do país, o que eu vejo como um fato simplesmente, sem julgamento de bom ou ruim. O problema todo é que a partir da década de 50, a Bahia passou a usar esse conceito de baianidade, preguiça e alegria para vender o Estado como destino turístico. E o fez com bastante competência."
- Rodrigo Carreiro
08/09/2008 - 10h36
ONU diz que oferta de emprego cresceu no país,
mas discriminação de mulheres e negros persiste

Luciana Lima
Agência Brasil
Em Brasília
Nos últimos anos, o Brasil apresentou melhora expressiva em indicadores importantes do mercado de trabalho, no entanto, o país não conseguiu diminuir, em níveis satisfatórios, a exclusão social e econômica, principalmente em relação às mulheres e aos negros.
Apesar de representarem mais de 70% do mercado de trabalho, mulheres e negros ainda são discriminados na área profissional. É o que aponta o relatório Emprego, Desenvolvimento Humano e Trabalho Decente - A Experiência Brasileira Recente, divulgado hoje (8) pela Organização das Nações Unidas (ONU). O estudo foi elaborado em conjunto por três agências da ONU: Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (Pnud), Organização Internacional do Trabalho (OIT) e Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe (Cepal).

A Pesquisa Nacional por Amostra de Domicíilios (Pnad), realizada pelo Instituto Brasileiro de Geografia Estatística (IBGE), demonstra que, em 2006, o rendimento médio real das mulheres não-negras era de R$ 524,6, enquanto o das negras era de R$ 367,2. Já os homens negros receberam um rendimento médio de R$ 451,1, contra a remuneração de R$ 724,4 obtida pelos não-negros.

"No início da década de 2000 observamos uma oferta maior de emprego, uma geração maior de trabalho com carteira assinada, além de uma reversão da queda dos rendimentos obtidos com o trabalho. Isso ocorreu em um cenário de crescimento econômico. No entanto, ainda há uma distância significativa em relação à remuneração, considerando os fatores de raça e gênero, e isso não condiz com a condição de trabalho decente", explica o diretor do escritório no Brasil da Cepal, Renato Baumann.

O aumento da presença das mulheres no mercado de trabalho - uma tendência que se verifica desde os anos 70 no Brasil - consolidou-se nos últimos anos. Segundo o relatório da ONU, esse aumento, intenso e persistente, da inserção feminina é uma das tendências mais claras de mudança na estrutura do mercado de trabalho nas últimas décadas, tanto no Brasil quanto em toda a América Latina.

Essa evolução ratifica uma tendência de mais longo prazo, de acordo com a ONU, e está associada, entre outros fatores como o aumento da escolaridade feminina, ao processo de transição demográfica que reduz o número de filhos por mulher, a uma maior expectativa feminina de autonomia econômica e realização pessoal e a uma maior necessidade, intenção ou disponibilidade de contribuir para a manutenção ou elevação da renda familiar.

Baumann destaca, no entanto, que os avanços, que ele chama de "áreas de luz", não podem esconder as ainda existentes "áreas de sombra", em relação ao mercado de trabalho no Brasil. "É inegável que houve aumento da participação de mulheres e negros. Também houve aumento da remuneração desses dois grupos, mas não a ponto de termos a eqüidade."

O relatório aponta que "ainda é alta a desigualdade entre as taxas de participação das mulheres e dos homens, o que reflete as dificuldades que elas enfrentam, em especial as mais pobres e menos escolarizadas, para ingressar e permanecer no mercado de trabalho".

"São as mulheres pobres que encontram maiores dificuldades para ingressar no mercado de trabalho, como conseqüência, entre outros fatores, dos obstáculos que enfrentam para compartilhar as responsabilidades domésticas, em particular o cuidado com os filhos", conclui o estudo

Enviada por:
Josemara Souza
Turismologa
CEN - Coletivo de Entidade Negras Camaçari

segunda-feira, 8 de setembro de 2008

Histórias do Movimento Negro no Brasil: Depoimentos ao CPDOC

Revista de História da Biblioteca Nacional
Verena Alberti e Amílcar Araújo Pereira (orgs.)

Em tempos de querelas sobre cotas nas universidades e preservação de comunidades quilombolas, esta obra desponta como referência para os debates sobre a consciência negra no Brasil.

Resultado de uma grande pesquisa desenvolvida pelo Cpdoc, o livro reúne mais de 110 horas de depoimentos de figuras centrais do movimento negro nas décadas de 1970 e 1980. As entrevistas dos líderes contemplam histórias de luta em todo o país, discutindo temas delicados, como a repressão política na ditadura, o centenário da abolição e o crescimento das políticas de ação afirmativa.

As falas dos militantes não se restringem ao tema do racismo. O grande mérito deste livro é ultrapassar as questões óbvias sobre negros, abrindo espaço para assuntos mais abrangentes, como a luta pelos direitos civis nos Estados Unidos e a libertação das colônias portuguesas na África.

Incluindo uma impecável cronologia do movimento negro, esta edição exibe uma das feridas mais expostas do Brasil. (por Murilo Sebe Bon Meihy)

A dança da zebra

Publicado na Revista de História da Biblioteca Nacional
01/03/2008
As semelhanças são impressionantes. Será que foi do ‘n'golo’, jogo de combate angolano, que nasceu a nossa capoeira?
Matthias Röhrig Assunção e Mestre Cobra Mansa

A origem da capoeira sempre foi controvertida. Mestre Pastinha (1889-1981), um dos mais famosos capoeiristas da Bahia, durante muito tempo pensou que a ginga que aprendera desde criança provinha de uma mistura do batuque angolano e do candomblé dos jejes, africanos da Costa da Mina, com a dança dos caboclos da Bahia. Mas, por falta de mais conhecimentos, não podia ir muito além dessa afirmação.

Isso até a década de 1960. Foi quando uma revelação mudou completamente suas idéias sobre as origens da capoeira. À frente de sua academia, situada no Pelourinho, em Salvador, Pastinha recebeu a visita de um pintor vindo de Angola. Chamava-se Albano Neves e Sousa e afirmava que tinha visto na África uma dança semelhante ao tipo de capoeira que o mestre baiano ensinava. Só que lá chamava-se n’golo.

Até então, ninguém por aqui tinha ouvido falar de nada semelhante. A memória oral não registrava nenhuma prática ancestral específica. Muitos afirmavam, e continuam afirmando, que a capoeira teria sido inventada pelos escravos nas senzalas. Outros, que teria sido criada pelos quilombolas em sertões distantes. Estudiosos têm ressaltado o caráter urbano da capoeira, pois as fontes do século XIX só documentam sua prática por escravos africanos e crioulos (negros nascidos no Brasil) em cidades portuárias, como Rio de Janeiro e Salvador. Naquela época, era uma “brincadeira” proibida, e a grande maioria dos africanos presos por “jogar” capoeira no Rio de Janeiro era originária da África centro-ocidental, das “nações” Congo, Angola e Benguela. Em Salvador, a capoeira também era identificada como uma “brincadeira dos negros angola”. Por essa razão, faz realmente sentido buscar as raízes da capoeira na região dos atuais Congo e Angola.

O n’golo, explicou Neves e Sousa ao velho capoeirista, é dançado por rapazes nos territórios do sul de Angola, durante o ritual da puberdade das meninas. Chamado de mufico, efico ou efundula, esse ritual marca a passagem da moça para a condição de mulher, apta a namorar, casar e ter filhos. É uma grande festa em que se consome muito macau, bebida feita de um cereal chamado massambala. O objetivo do n’golo é vencer o adversário atingindo seu rosto com o pé. A dança é marcada pelas palmas, e, como na roda de capoeira, não se pode pisar fora de uma área demarcada. N’golo significa “zebra” e, de fato, alguns movimentos, em particular o golpe dado pelo pé, de costas e com as duas mãos no chão, parecem mesmo com o coice de uma zebra.

Os registros e a argumentação de Albano eram bastante convincentes. Se os africanos escravizados nas Américas lograram, apesar de condições terrivelmente adversas, adaptar suas religiões e seus rituais, assim como suas festas e danças de umbigadas, não seria lógico que também trouxessem para cá seus jogos de combate e suas artes marciais? Sabe-se que os exércitos congolês e angolano eram formados por guerreiros exímios na luta corporal. Vários cronistas destacaram a habilidade com que eles evitavam golpes, jogando o corpo para o lado de maneira imprevisível e confundindo o adversário.

Ainda que muitos dos africanos escravizados conhecessem as artes da guerra, a maioria se dedicava à agricultura ou à pecuária antes de ser aprisionada e embarcada à força para as Américas. Os povos pastores de Angola, em particular, por causa da necessidade de proteger o gado que tangiam contra eventuais gatunos, desenvolveram técnicas de combate individuais, sabendo manejar paus e outras armas contundentes contra os inimigos.

Os cronistas coloniais não forneceram descrições pormenorizadas das técnicas nem dos rituais desses antigos jogos de combate, o que torna impossível qualquer tentativa de aproximá-los da capoeira como hoje a conhecemos. Os significados culturais desses rituais também mudaram ao longo dos séculos, acompanhando a intensa transformação socioeconômica e cultural por que passou a África a partir do século XVII. Até as fronteiras étnicas foram redesenhadas antes que se chegasse à configuração atual. Assim, todas as manifestações que porventura existem hoje em Angola são expressões contemporâneas, e só têm relações tênues com os jogos de combate do tempo do tráfico negreiro.

Infelizmente, Mestre Pastinha (ver box), por ocasião da visita de Albano Neves e Sousa, já estava com a vista comprometida por uma catarata – aliás, nunca operada por falta de recursos. Isso limitava muito qualquer plano seu de divulgar a recente descoberta. Chegou a contar a história que ouviu para seus alunos mais próximos, mas não deixou nenhum registro escrito sobre o n’golo. Nem seu livro Capoeira Angola, publicado pela primeira vez em 1964, nem seus diversos manuscritos, por serem anteriores ao encontro com o pintor luso-angolano, mencionam a “dança da zebra”. Mas Albano Neves e Sousa conseguiu convencer outros brasileiros de sua teoria, entre eles o então presidente da Sociedade Brasileira de Folclore, Luís da Câmara Cascudo (1898-1986).

De volta a Angola, Neve e Souza organizou, em 1966, a exposição “...Da minha África e do Brasil que eu vi...”, com o material de suas viagens aos países de língua portuguesa dos dois lados do Atlântico, apontando semelhanças entre expressões culturais africanas e dos negros brasileiros. No prefácio do catálogo da exposição, Câmara Cascudo mencionava que o pintor “viu a ginástica do n’golo, batizada em ‘capoeira’”. O renomado folclorista seria o primeiro a divulgar no Brasil a teoria do n’golo como luta ancestral da capoeira. Ele conhecera Albano Neves e Sousa durante uma viagem a Angola em 1963, e daí nasceu uma amizade cultivada por correspondência durante muitos anos.

Depois de sua viagem ao Brasil e de seu encontro com a capoeira, o pintor explicou a Cascudo, numa longa carta, suas idéias sobre as origens dessa arte. O folclorista potiguar encampou a teoria, tanto que citou longos trechos da carta do pintor no seu livro Folclore do Brasil (1967) e incorporou a explicação no seu Dicionário de Folclore (1972, 3ª ed.). Baseado nas informações fornecidas pelo amigo, Cascudo deu mais detalhes sobre a dança da zebra e sua trajetória até se transformar em capoeira. Explicou que o n’golo seria típico entre os povos pastores do sul de Angola. O ritual era precedido por uma luta de mãos abertas, a liveta. O jovem que ganhasse no n’golo teria o direito de escolher sua noiva entre as meninas recém-iniciadas, sem ter de pagar dote. Cascudo sugeriu que o n’golo teria chegado ao Brasil através do porto de Benguela.

Aqui, essa tradição tribal se transformara em instrumento de defesa e ataque de bandidos. Na edição, ele incluiu três desenhos do n’golo, feitos por um artista de Natal com base na obra de Neves e Sousa. Os esforços conjuntos do pintor, do folclorista e do velho capoeirista para resgatar o vínculo ancestral ligando a capoeira a Angola acabaram dando resultado.
Os desenhos originais de Neves e Sousa só foram publicados em 1972, num livro com o mesmo título da exposição de 1966. A epígrafe é significativa: “Digam o que disserem... Se Portugal foi o Pai do Brasil, Angola foi a Mãe Preta que o trouxe ao colo!” Reúne elaborados a partir dos esboços e aquarelas feitos no campo durante vinte anos, acompanhados de pequenos textos explicativos.

Algumas imagens evidenciam semelhanças surpreendentes entre a capoeira e o n’golo, como o uso de golpes com os pés enquanto as mãos se apóiam no chão (chamado na capoeira de “meia lua de compasso” ou “de rabo-de-arraia”), muito raro em outras artes marciais. Recentemente, surgiram mais evidências desse parentesco. A viúva de Albano revelou esboços e aquarelas inéditos, que ilustram estas páginas. Eles mostram detalhes adicionais do n’golo: o apoio nos braços com uma perna dobrada e a outra esticada para dar um golpe, por exemplo, é idêntico à movimentação na capoeira. E a postura de defesa, com um joelho dobrado e outro esticado, é muito parecida com a “negativa” dos nossos capoeiristas. Como esses movimentos parecem existir somente em jogos de combate da diáspora dos povos bantos, permanece relevante o vínculo ancestral entre o n’golo e a capoeira brasileira.

O livro de 1972 foi publicado numa pequena edição caseira e circulou pouco na época. Mas as imagens do n’golo – muitas vezes circulando via fotocópia de fotocópia – ficaram famosas entre os capoeiristas. O estilo de capoeira angola, que chegou a ser considerado em extinção na década de 1970, experimentou um extraordinário crescimento depois da morte de Mestre Pastinha. Uma nova geração de capoeiristas “angoleiros”, liderados por Mestre Moraes e o Grupo de Capoeira Angola Pelourinho – GCAP, revigorou o estilo a partir de 1982. Alunos mais antigos de Pastinha, como os mestres João Pequeno e João Grande, lembravam ocasionalmente a história do n’golo, mas não de maneira categórica, como seria feito por Moraes e seu grupo. O GCAP escolheu a dança da zebra como símbolo do estilo, porque representava bem a ancestralidade angolana da sua arte e também ia ao encontro das afirmações do movimento negro sobre a importância da cultura africana na formação do Brasil.

A partir da década de 1990, o n’golo e as listras da zebra têm figurado nos logotipos e nos websites de muitos grupos de capoeiristas, assim como nas camisas e nos brindes distribuídos em seus eventos. Os detalhes fornecidos por Cascudo e os desenhos de Neves e Sousa, repetidos e reproduzidos inúmeras vezes,viraram referência obrigatória no meio. O n’golo acabou por transformar-se num mito de origem, numa “tradição ancestral”.

No entanto, trata-se de um mito no mínimo questionável. Para começar, não foi transmitido pelos mestres africanos aos seus alunos brasileiros via tradição oral. Aceitar literalmente o mito implica, além disso, um tremendo anacronismo, ou seja: como pode uma manifestação documentada apenas no século XX ser “a origem” de uma capoeira que existe pelo menos desde o início do século XIX? Pensar que o n’golo teria sobrevivido inalterado desde a época do tráfico negreiro é ignorar as profundas mudanças pelas quais passaram as sociedades do território angolano nesse período.

Surpreende que hoje, em Angola, o n’golo seja completamente desconhecido, assim como seu papel como mito fundador da capoeira. Devido à longa guerra civil que vitimou o país e todas as transformações das últimas décadas, ninguém mais dança, por exemplo, o n’golo de tchincuane (tanga de couro), como foi retratado por Neves e Sousa meio século atrás. Talvez o mais correto seja imaginar o n’golo e as outras lutas e jogos de combate ainda existentes na Angola contemporânea como primos mais ou menos distantes da capoeira brasileira. Findo o tráfico negreiro, as técnicas de combate corporal que existiam dos dois lados do Atlântico teriam evoluído em direções diversas, o que explicaria não só suas semelhanças, mas também suas tremendas diferenças.

MATTHIAS RÖHRIG ASSUNÇÃO é professor de História na Universidade de Essex, Inglaterra, bolsista da CAPES em 2007 e autor de Capoeira. The history of an Afro-Brazilian martial art (Routledge, 2005).

COBRA MANSA (CINÉSIO FELICIANO PEÇANHA) é mestre de capoeira angola e criador da Fundação Internacional de Capoeira Angola (Fica).

Saiba mais:

http://paginas.terra.com.br/esporte/capoeiradabahia/

www.capoeira-angola.org

Veja o que já publicamos sobre capoeira no site e na revista

sexta-feira, 5 de setembro de 2008

Oba (rei) na Nigéria

Abebé iorubá de uma sacerdotisa de Oxum

Associação (antes Sociedade) Protetora dos Desvalidos - SPD


"Os estudos antropológicos orientados para a compreensão da influência africana no processo civilizatório brasileiro, tiveram ínicio com a análise de hábitos e costumes divergentes dos que definem a cultura européia, legada ao Brasil pelo colono português. A religião africana onde se acentuam com maior nitidez essas diferenças mereceram um tratamento mais intensivo,a constatar pela copiosa literatura pertinente. O desenvolovimento de pesquisas alcançou outros aspectos do modus vivendi do africano em nossa terra e estendeu-se até a análise do processo."

"Antropólogo Júlio Santana Braga"


Na terceira década do século dezenove, ano de 1827, um grupo de homens negros livres, inspirados nos ideais de Solidariedade e Fraternidade, agremiaram-se com o firme próposito de angariar e poupar recursos econômicos/financeiros para auxiliarem mutuamente, visando prevenir para evitar situação de indigências de suas familias e, extensivo a outros na condição de atitudes filantrópicas.

Em função dos moldes da realidade social e legal da época, que proibia a determinadas pessoas plena cidadania, conforme raça, não podendo constituírem associações civis. Estabeleceram uma Devoção na Capela de Nossa Senhora do Rosário dos Quinze Mistérios, numa condição semi-formal, a qual deram a denominação de Nossa Senhora da Soledade. No dia 16 de setembro de 1832, sob a liderança de Manoel Victor Serra, formalizaram a Irmandade de Nossa Senhora da Soledade Amparo dos Desvalidos, consolidando assim o objetivo original da Sociedade Protetora dos Desvalidos (Sociedade de Previdência, Assistência Social, Pecúlio e Fomento Econômico e Social) .

A sociedade prosseguiu cumprindo o seu programa social inicial e incluiu atividades de promoções abolicionistas contribuindo de algum modo para alforriamento de escravos. Para obtenção de recursos financeiros a fim de executar seus programas sociais, a Sociedade além de receber contribuições dos associados, funcionou também com Casa de Empréstimos a Juros (Monte de Socorro) operando com Penhores, Hipotecas de Imóveis e até Loterias. No ano de 1851, possibilita então, pela legislação a Sociedade assumiu definitivamente a sua situação de Sociedade Civil com a denominação de Sociedade Protetora dos Desvalidos.Em 1883 a SPD adquiriu por compra um sobrado estilo Palacete situado no Largo do Cruzeiro de São Francisco, 82 onde encontra-se domiciliada até os dias atuais, ao longo de seus quase dois séculos de existência a SPD adquiriu inúmeros imovéis no centro urbano de Salvador os quais hoje lhes promovem suporte financeiros para a execução de suas atividades atuais.

segunda-feira, 1 de setembro de 2008

Continuando a refletir sobre o "autodidatismo"

Um dos muitos resultados do Seminário Manuel Querino, realizado no IGHB entre 25 e 29 de agosto, foi o debate sobre o conceito do "autodidatismo". Já vimos que o termo "autodidata" é utilizada de maneira paternalista e preconceituosa quando um negro do Oitocentos entra em qualquer debate "intelectual". Mas tem outro lado também. Como Isadora Browne Ribeiro colocou, às vezes, pensar sem "mestres" é salutar. Ainda mais no século XIX, quando a maioria esmagadora dos "cientistas" acreditava que as doenças fossem causadas por "miasmas" (o livro A Morte é uma Festa de João Reis contem dados preciosos sobre estas teorias e as "experiências" realizadas para comprová-las), que a capacidade do intelecto pudesse ser medida pelo tamanho do crânio e que existissem "raças" humanas, tão diferentes como cavalos e burros ou patos e cisnes. Livre das correntes "intelectuais" e cientificistas do seu tempo, o "auto-didata" do Oitocentos estava apto a pensar como o cientista moderno - olhando ao seu redor com objetividade e tirando conclusões racionais e válidas.