domingo, 21 de setembro de 2008

Fotógrafo Eduardo Tavares expõe fotos dos Alagados na Galeria Pierre Verger

Fernando Vivas / Agência A Tarde
12/11/2007 às 12/11
“Fui buscar vida em Alagados”

Tássia Novaes, do A Tarde On Line


“Se cair uma lágrima, não ligue. É que hoje é um dia muito importante para mim”. Dito e certo. Em menos de 20 minutos de conversa, os olhos de Eduardo Tavares, 22 anos, autor da exposição fotográfica Alagados-Salvador, em cartaz na galeria Pierre Verger, ficaram completamente mareados.

Na verdade, era possível notar o entusiasmo do rapaz desde o primeiro contato, por telefone, minutos antes da entrevista. É que a consolidação da exposição representa para o rapaz negro, alto e forte, além do sucesso profissional, uma vitória na vida. “No meu bairro, meus vizinhos só aparecem no jornal na página policial. Um chama o outro, todo mundo corre para ver. Agora levo outro exemplo”, comemora.

Nascido e criado no bairro dos Alagados, periferia de Salvador, conhecido pelas famosas e precárias palafitas, é o terceiro da série de quatro irmãos. Pai eletricista, mãe dona-de-casa. Eduardo sabe de perto o que é viver com a renda familiar escassa. “A vida nunca é fácil para quem vive na periferia. Menino vira bandido e menina fica grávida antes de virar mulher”, avalia.

Foi através da fotografia que Eduardo descobriu uma nova forma de vida. “Ainda não consegui ganhar dinheiro, mas tenho fé de que vou conseguir com o tempo. O passo mais importante foi dado: não entrei no mundo do crime”, analisa. Dados do Unicef apontam que a cada 100 mil crianças e adolescentes que vivem na capital baiana, 31,7 tem morte por causas externas, geralmente ligadas à violência. “Uma taxa elevada”, garante Cláudia Fernandes, responsável pelo monitoramento e avaliação do Unicef em Salvador.

Fora das estatísticas – A descoberta do talento de fotógrafo ocorreu “por acaso, graças ao apoio da namorada”, a coreógrafa Márcia Duarte, como gosta de ressaltar. Há pouco mais de três anos, Eduardo pretendia prestar vestibular para Educação Física e, para ajudar no orçamento familiar, dava aulas de frescobol no Porto da Barra. Até que conheceu um grupo de alemães que estava em Salvador para rodar um documentário na parte periférica da cidade. Eduardo seria o guia da turma.

Logo na primeira visita, um alemão passou a bola para o rapaz. “Disse que a câmera fotográfica devia ficar comigo, porque eu era do bairro, e ele queria ver meu olhar sobre as pessoas que viviam na comunidade”, conta. Sem titubear, Eduardo não pensou nem duas vezes. Foi amor ao primeiro clique.

Gravado o documentário, os alemães foram embora e Eduardo resolveu seguir adiante. “Procurei um curso de iniciação na Casa da Photografia. A mensalidade era cara, mais de R$ 400, eu não tinha como pagar. Falei a minha situação e me deram uma bolsa parcial. Pagava a metade sob condição de ser ajudante de uma exposição que ia ser montada pela instituição”.

Curso engatado, faltava um detalhe fundamental ao desenvolvimento artístico do rapaz: uma câmera. Sem condições de investir na compra de equipamento, veio da namorada de Eduardo a solução para o problema. “O pai dela tinha uma analógica Olympus 50mm abandonada em uma caixa, acabei herdando”, conta com satisfação.

O equipamento precisava apenas de pequenos reparos. Eduardo levou numa loja de conserto, onde acabou ganhando “um outro presente da vida”. “Um funcionário me deu um CD de curso de fotografia da National Geographic. Uma coisa ia ligando a outra e tudo foi acontecendo em sincronia. Sou muito feliz por isso”.

Motivado, Eduardo ia para a lan house mais próxima de sua casa usufruir do presente. O cenário predileto para as fotos sempre foi o bairro onde mora. “È uma forma de me expressar. É muita miséria, apenas tento mostrar que há beleza mesmo diante do sofrimento. O que as pessoas precisam é de oportunidade”, acredita.

Das fotos que estão em exibição na galeria Pierre Verger, Eduardo elege duas como favoritas: “Minha boneca” e “Natureza morta”. A primeira mostra uma menina dependurada na janela com uma boneca. “Ela estava sozinha e quando comecei a fotografá-la entrou em casa e voltou com a boneca”, descreve. Já a segunda, tem caráter de denúncia e aborda a pesca predatória com bomba, prática bastante comum na região dos Alagados. “Os barracos tremem a cada bomba que é jogada no mar”, conta.


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