sexta-feira, 20 de abril de 2007

"A Linguagem Escravizada"

"Ainda que marginal, é antiga a consciência nas ciências sociais brasileiras da necessidade de superar o conteúdo historicamente determinado da linguagem categorial para descrever, desvelar e explicar os referentes essenciais que determinaram o nascimento ou o condicionamento dos signos lingüísticos. Manuel Querino foi um dos pioneiros dessa investigação".

Leia na íntegra este interessante artigo da autoria de Florence Carboni e Mário Maestri, publicado online na revista Espaço Acadêmico

terça-feira, 17 de abril de 2007

Artigo sobre Querino

Manoel Querino e a formação do “pensamento negro” no Brasil, entre 1890 e 1920.
Antonio Sérgio Alfredo Guimarães
Departamento de Sociologia - USP
Resumo:
Nessa comunicação apresento os elementos constituintes do pensamento político de um intelectual que foi de fundamental importância para a formação da identidade negra no Brasil: Manuel Querino (1853-1923). Utilizo como pano de fundo uma comparação implícita entre intelectuais negros no Brasil e nos Estados Unidos, enfatizando especialmente a posição social e a integração de intelectuais negros nos dois contextos nacionais: o brasileiro e o norteamericano.

Leia na íntegra aqui (em PDF)

Enfrentando preconceito


"Quantas vezes (Manuel Querino) deve ter ouvido a frase feita e ainda corriqueira: ‘este negro não se enxerga!’ As reivindicações a favor dos irmãos de raça haviam de trazer-lhe simpatia e desafetos; mais desafetos...".
-- Frederico Edelweiss

Comparado com Booker T Washington


Booker T. Washington (1856-1915)

De acordo com o pesquisador norte-americano David Brookshaw, Manuel Querino tentou “aparar o golpe do proeminente etnólogo Nina Rodrigues, defendendo os negros e exaltando suas qualidades(...). Querino, poder-se-ia acrescentar, estava particularmente interessado na reabilitação do mestiço urbano alfabetizado; de aspirações pequeno-burguesas, e seu papel pode ser comparado ao de Booker [T] Washington nos Estados Unidos, de quem era fervoroso admirador” (p. 55).

Poucos brasileiros conhecem a história de Booker Taliaferro Washington
. Filho de pai branco e mãe negra, nasceu escravo e conseguiu uma instrução superior depois da Abolição nos Estados Unidos (1865) - na Universidade de Hamilton e no Seminário Weyland - tornando-se um educador, autor e líder da comunidade afro-americana. Foi criticado por WEB DuBois e outros líderes da NAACP (Associação Nacional para o Progresso das Pessoas de Cor) porque Washington preferia evitar uma confrontação com os brancos e seria mais interessado numa "acomodação". Washington respondeu que, uma vez que os negros estavam na minoria nos EUA, o melhor caminho seria aliarem-se com os brancos que simpatizassem com sua causa. Compartilhava com Manuel Querino a filosofia que uma boa instrução é o caminho para um bom futuro individual e coletivo.
A autobiografia de Booker T Washington está disponível online, em inglês.

BROOKSHAW, David. Raça e côr na literatura brasileira, traduzido por Marta Kirst. Porto Alegre: Série Novas Perspectivas 7, 1983.
WIKIPEDIA (verbete em inglês), "Booker T Washington"

segunda-feira, 2 de abril de 2007

"Colecionador de desafetos"

Segundo a pesquisadora brasileira Wlamyra Ribeiro de Albuquerque, "A Manoel Querino comumente é atribuída a pecha de imprevidente nas palavras e atitudes; um colecionador de desafetos". Segue um caso que ilustra esta fama: Querino era membro da Sociedade Protetora dos Desvalidos, uma associação criada em1832 pelo africano livre e ganhador Manoel Victor Serra para construir um fundo inicialmente dirigida à compra de alforria de seus irmãos escravizados e, principalmente após a Abolição, para a proteção dos inválidos e idosos - uma versão pioneira dos atuais fundos de previdência privada. De acordo com a pesquisadora norte-americana Kim D. Butler, no livro Freedoms Given, Freedoms Won, as relações entre Querino e esta sociedade nem sempre baseavam-se na "bondade fraterna" (p. 164). Depois de pedir para sair da sociedade (não sabemos os motivos), Querino solicitara sua reintegração em 1892. Este pedido foi rejeitado por uma votação de cinco contra um. Querino recusou-se a aceitar esta decisão, mas uma segunda votação teve o mesmo resultado. Finalmente foi reintegrado em 1894. Em 1896, Querino solicitou uma pensão de invalidez, mas a Mesa resolveu suspender os pagamentos quando constatou que o "inválido" foi visto em procissões, casamentos e passeios, comprovando seu perfeito estado de saúde. Entretanto, um dos diretores alertou que Querino poderia utilizar sua influência no governo para suspender o subsídio da sociedade. Seja qual for o motivo, este subsídio realmente foi suspenso. Alguns anos depois, quando Querino - já com 74 anos* - solicitou uma pensão de aposentadoria, seu pedido foi negado (Ibidem, p. 165).

Na análise de Butler, o caso do embate entre Querino e a Sociedade Protetora dos Desvalidos levanta questões interessantes sobre a liderança e estratégias políticas na comunidade afro-brasileira. De acordo com a pesquisadora norte-americana, Querino estaria numa excelente posição política e social para prestar apóio à Sociedade - além de ser pesquisador e político, era um dos poucos brasileiros a se qualificar como eleitor. Mesmo assim, por motivos políticos ou pessoais, a Sociedade não procurou beneficiar-se de sua influência.

Apesar de seu prestígio e influência, Querino morreu pobre. Hoje, a Sociedade Protetora dos Desvalidos mantem o Centro Cultural Manuel Raimundo Querino, criado em sua homenagem.

*(OBS. Uma vez que faltam documentos para comprovar a data de nascimento de Querino, não sabemos se a idade com que teria solicitado uma aposentadoria da Sociedade dos Desvalidos era real ou fictícia)


ALBUQUERQUE, Wlamyra Ribeiro de. Esperanças de Boaventuras: Construções da África e africanismos na Bahia (1887-1910). Estud. afro-asiát. [online]. 2002, vol. 24, no. 2 [citado em 2007-04-02], pp. 215-245. Disponível em: . ISSN 0101-546X. doi: 10.1590/S0101-546X2002000200001
BUTLER, Kim D. Freedoms Given, Freedoms Won: Afro-Brazilians in Post-Abolition São Paulo and Bahia. New Brunswick and London: Rutgers University Press, 2000, P. 164-165.

domingo, 1 de abril de 2007

O mundo do estudioso negro

John Hope Franklin
"O mundo do estudioso negro é de uma solidão sem conta. Ele deve, de alguma maneira, buscar a verdade nesta vereda solitária, enquanto certifica-se que suas conclusões são validadas pelos padrões universais desenvolvidos e mantidos por aqueles que, por muitas vezes, deixam de reconhecê-lo".
-- John Hope Franklin (1963)




Personagem amadiano

A disputa entre Nilo Argolo (inspirado em Nina Rodrigues) e Pedro Archanjo é o cerne do enredo do romance Tenda dos Milagres. Segundo Jorge Amado: “[Pedro Archanjo] é a soma de muita gente misturada: o escritor Manuel Querino, o babalaô Martiniano Eliseu do Bonfim, Miguel Santana Obá Aré, o poeta Artur Sales, o compositor Dorival Caymmi e o alufá Licutã (da revolta dos Malês) - e eu próprio, é claro”.


Manuel Querino foi imortalizado por Jorge Amado, sendo uma das personagens da vida real que inspiraram o escritor a criar o protagonista de Tenda dos Milagres, Pedro Archanjo. O romance também leva na folha de rosto esta frase do ilustre pesquisador baiano: "O Brasil tem duas grandezas reais: a uberdade do solo e o talento do mestiço". Segundo o historiador e brasilianista E. Bradford Burns: "Existem evidências de que alem de escrever sobre os Afro Brasileiros, Querino tambem ajudava a defendê-los. Chamou a atenção dos oficiais municipais às perseguições existentes aos praticantes das religiões Afro Bahianas. A polícia, rotulando essas religiões como bárbaras e pagãs, frequentemente apareciam nos terreiros onde haviam as cerimônias destruindo propriedades e ferindo os participantes. A intervenção de Querino defendendo esta comunidade junto ao govêrno local revelou mais uma vez sua realização original em criar uma ponte entre culturas e classes sociais diferentes". (tradução encontrada no site da Brazilianmusic). De acordo com a folclorista Hildegardes Vianna, Querino era "de santo", mas não permitiu que seus filhos "se metessem em candomblé, porque era uma vergonha ser filho-de-santo" (In NÓBREGA, Cida e ECHEVERRIA, Regina. Mãe Menininha do Gantois: Uma biografia. Salvador: Editora Corrupio, 2007, p. 36). Isto reflete uma das profundas contradiçoes que marcaram a vida e a obra de Manuel Querino.