quinta-feira, 31 de dezembro de 2009

Nada de novo no front

Ildásio Tavares

       Como boa parte dos fenômenos humanos, o ano novo é uma convenção que varia de civilização a civilização. Nosso calendário
Gregoriano  sofreu uma correção severa. De repente descobriu-se que os anos, contados a partir do nascimento de Cristo estavam embolados.
Foi feita uma rigorosa escansão e voltamos a nos situar perante o nascimento do Filho de Deus. Nós, inclusive estendemos o período em um antes e um depois, os famosos A.C. e A.D.. O tal de A.C, só servia pra me atrapalhar quando eu estudava História porque ele é contado de trás pra frente aumentando quando diminuía. Eu também ficava invocado porque, se existia Antes de Cristo, A.C. porque não Depois de Cristo, D.C. Insistiam em Annus Domini, ano do Senhor.
       Tudo convenção. Os árabes contam os anos a partir da Hegira, quando Maomé foi de Meca para Medina para escapulir de uma perseguição. Os judeus desde o tempo de Moisés, e já estão perto dos 6.000 anos. Os chineses, eu nem sei. E o tempo se perde nos confins do Egito e suas pirâmides de dezenas de século, como falou Napoleão.
Se formos pensar nas eras que já passaram por nosso planeta, vamos começar a ficar zonzos. E as estrelas? A mais próxima de nós, Alfa da constelação do Centauro está a 4 ½ anos luz, a bagatela de 9 trilhões de quilômetros. Estamos sós no universo.
    Perante essas coisas, reflito sobre o maior dos convencionalismos que é estabelecer uma data pra ficar feliz e the day after para incrementar esta felicidade. De 31 pra 1°  a galera se enche de planos, projetos, resoluções, faz simpatias, dá presente pra Yemanjá, vai a missa, ora, reza, roga, procura seu psicanalista, seu confessor, seu pai de santo, pendura uma conta lavada no pescoço, toma banho de folha e sem folha,faz o diabo, sem a consciência de que existe uma causa e efeito palpáveis no comportamento humano a partir de seus próprios atos. Quem planta abacate não colhe caju, Dentro de, no máximo uma semana de catarse anonovística o cabra já está pisando nas mesmas bolas em que sempre pisou.
      De ilusão também se vive. É claro que movimentações coletivas de energia positiva só podem desprender esta energia e ser benéfica pra todos. Mas cada um a vai receber a seu modo, com sua sensibilidade, com sua maior ou menor predisposição para corrigir seus erros. Há uma evidente interação de processos subjetivos e objetivos com benefícios, creio,imediatos no momento em que atuam. Mas o encaminhar-se de um novo ano depende muito mais do caminhante do que as promessas de renovação astrológica, tarôlógia ou dos búzios possam prever, O futuro a Deus pertence. E há todo tipo de ópio.
      Em 2010 vou curtir 70 anos. Deus do Céu! Quando eu pensava em ter 70 anos, via-me alquebrado, quiçá meio gagá,.caindo pelas tabelas. E ainda jogo capoeira. Escrevo todo dia. Jamais acreditei seria um escritor de muitos livros publicados, como até sonhei, menino de 8 anos em Feira de Santana, advindo das brenhas do cacau e fascinado por Monteiro Lobato. Jamais pensei ter 46 canções gravadas. E tanta coisa. Pode vir 2010. Do alto do poeta, 70 anos vos contemplam.
   

quarta-feira, 30 de dezembro de 2009

Mãe Stella comenta crime das agulhas

Danile Rebouças* | A TARDE
Em entrevista coletiva concedida na manhã desta quarta-feira, 30, a Iyalorixá Mãe Stella de Oxóssi, do Terreiro do Ilê Axé Opô Afonjá, comentou o atentado cometido contra o garoto M.S.A, de 2 anos, e descartou qualquer relação do crime com as práticas das religiões de matriz africana. De acordo com a líder religiosa, nenhum ritual do candomblé envolve maus tratos e agressões.

No último dia 15 de dezembro, a criança foi internada com dezenas de agulhas no corpo, inseridas por seu padastro, Roberto Carlos Magalhães Lopes. De acordo com Mãe Stella, muitas pessoas associaram o ocorrido com o que popularmente é conhecido como "vudu". "Na verdade, o termo é usado por uma nação africana para chamar as entidades adoradas, os orixás. Não tem nenhuma relação com rituais feitos com agulhas", esclarece.

De acordo com Mãe Stella, a religião de matriz africana trabalha com a cura do espírito e não envolve supostos rituais curandeiros. "As pessoas ficam inventando histórias que não existem. Nenhuma religião séria tem esse tipo de prática" disse.

A Iyalorixá lamentou ainda o envolvimento de uma suposta mãe-de-santo no atentado. "Muita gente diz que é do candomblé por não haver uma regulamentação da religião e isso só gera mais preconceito", afirma. Além disso, para Mãe Stella, a interpretação do crime como um suposto ritual de magia negra gera ainda mais equívocos.

A líder espiritual também expressou o repúdio de toda a comunidade adepta da religião de matriz africana ao ocorrido e a corrente de orações que têm sido feita para o garoto M.S.A. "Ele é um herói. Estamos pedindo aos orixás que dêem forças para que ele se recupere logo", concluiu.
*Com redação de Danielle Villela, do A TARDE On Line.

http://www.atarde.com.br/cidades/noticia.jsf?id=1325425 

sábado, 26 de dezembro de 2009

Convite a exposição fotográfica no MAFRO

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Mensagem da fotógrafa:

Caros amigos, colegas, combatentes.


Durante alguns anos fotografei a decoração das festas no Terreiro da Casa Branca.

A simplicidade e a beleza com que estes espaços são arrumados me emocionam. Com a permissão de Mãe Tatá, tentei captar parte deste esplendor e compartilhá-lo com quem conhece, ou com quem nunca teve oportunidade de participar de uma festa de candomblé.

Aguardo todos vocês, e peço que divulguem este convite.



Regina

quinta-feira, 17 de dezembro de 2009

"Autobiografia" de Manuel Querino

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Quando Manuel Querino escreveu Artistas Bahianos, incluiu um verbete sobre ele mesmo. Segue o texto em PDF, da segunda edição do livro, lançado em 1911.

quarta-feira, 16 de dezembro de 2009

Video Convite Yalorixás no Século XXI


Bom dia queridos e queridas,
Agora é pra valer. Nosso projeto Yalorixás no Século XXI acontecerá no dia 15 de dezembro. Preciso do apoio de todos e todas na divulgação, esperamos lotar a Biblioteca Central, com a presença de todos e com uma força na divulgação. Vejam video (link) abaixo e convite acima.
Muito obrigado
Alberto Lima
71 - 33342948 - 99593975



www.youtube.com/watch?v=wtRuXAkFo0o

sábado, 12 de dezembro de 2009

O Uso de Fotografias de Africanos no Estudo Etnográfico de Manuel Quirino

Este artigo da autoria de Christianne Silva Vasconcellos analisa o ensaio etnográfico empreendido por Manuel Raimundo Querino: A raça africana e seus costumes na Bahia, procurando, sobretudo, entender a maneira como o autor utilizou a terminologia do evolucionismo social para destacar os aportes dos africanos na cultura baiana. O ensaio contém fotografias de pessoas africanas, autoridades do candomblé, festividades e objetos da cultura material dessa religião, as quais serviram de suporte visual na etnografia feita pelo autor. O uso dado por Querino às imagens e a análise da cultura africana no marco do evolucionismo social resulta particular quando comparado com outras os estudos acerca dos africanos na Bahia no inicio do século XX.

Clique no link para fazer o download do artigo (em PDF)
http://revistasankofa.googlepages.com/Documentaoousodefotografiasdeafrican.pdf

sábado, 5 de dezembro de 2009

Assalto de Orixás

Ildásio Tavares

Antigamente, era a polícia, invadiam os pejis, profanavam os orixás, arrebentavam tudo, tudo destruíam em nome da lei, lei que acobertava os desmandos do poder mas queria exterminar a religião de um povo oprimido. Será que alguém, calmamente sentado em frente a seu televisor pode imaginar ser arrancado de sua cadeira e, impotente, ver toda sua família desbaratada, acorrentada, vendida, vilipendiada?
Será que alguém pode imaginar a travessia do Atlântico, num porão infecto, arrumado aos magotes, como carne para o açougue? Os holandeses de Pernambuco traziam 500 escravos num iate, num tráfico de trocas injustas. Uma partida de fumo rendia mais de cem escravos que eram convertidos em várias partidas de fumo que eram trocadas por centenas de escravos. Em três ou quatro viagens o traficante podia comprar terras, se estabelecer. Melhor que cavar ouro.
Os remanescentes deste tráfico tiveram, na diáspora, seus mecanismos de sobrevivência e neste processo a cultura é fundamental – a religião um esteio. Uma super-raça se formaria. Em torno de seus sagrados orixás. O Ilê Axé Opô Afonjá vai fazer cem anos em 2010. Cem anos que Eugênia Ana dos Santos plantou o axé de Afonjá no São Gonçalo, num gesto de majestade que ecoaria em grandeza.
Verdadeira estadista, Mãe Aninha governou o axé com hábil mão política, tendo sido seu principal artífice. Por fortuna, logo ao se apossar dos 155mil m2 do Axé, descobriu uma fonte copiosa e em torno dela fez a casa de Yemanjá, assentando sua Yemanjá da nação de Grunci. Em seguida procedeu aos trâmites do Axé. O Ilê Axé Opô Afonjá é uma réplica do Reino de Oyó, em 1839 destruído pelos árabes. Ela, era a suprema sacerdotisa, a Iya Nassô. O Balé Xangô, era Theodoro Pimentel, pai de Mãezinha, futura Iyalorixá da casa. O Xangô assentado respondia pelo santo. Quando surgiu disputa com o Balé Xangô, Mãe Aninha criou o corpo dos doze obás de Xangô, ampliado para 36 por Mãe Senhora, outra estadista como Mãe Stella...
A fina flor da inteligência, da arte, da literatura baiana têm pertencido a esta casa. Jorge Amado. Carybé. Genaro de Caevalho, Vivaldo Costa Lima, Pierre Verger, Vasconcellos Maia, Dorival Caymmi, Dmeval Chaves, Gilberto Gil, Camafeu de Oxosse, Muniz Sodré, são alguns dos obás que dignificam e dignificaram a casa.
Ouço dizer com indignação que vândalos inescrupulosos invadiram e depredaram a casa de Oxalá na calada da noite. Um absurdo. A casa de Oxalá é um dos poucos exemplos que conheço de um compound africano na Bahia, morada coletiva e santuário coletivo de Oxalá, o orixá supremo e das aiabás. Crime, profanação, sacrilégio, a polícia tem que tomar providências urgentes. Imaginem se invadissem a Igreja do Bonfim. Seria uma celeuma nacional. Mas invadir um templo negro arrisca-se ao pouco caso. Coisa de preto. Pouco caso que não pode existir na Bahia, Sr. Governador. O senhor é judeu. Sabe que, quando começam perseguições étnicas como esta a coisa pode virar e, geralmente, os judeus são as primeiras vítimas. É preciso acabar com essa Inquisição contra a raça negra. Com esses Progroms.

terça-feira, 1 de dezembro de 2009

Terreiro Ilê Axé Opô Afonjá é invadido e revirado por vândalos

Ladrões invadiram, nesta segunda-feira, o terreiro do Ilê Axé Opô Afonjá, em São Gonçalo do Retiro. Entre os 20 quartos que foram invadidos e revirados está o espaço sagrado de Oxalá. “Foi um episódio de vandalismo”, reclamou o ogã Ribamar Daniel, presidente do Conselho Civil da Sociedade Cruz Santa do Axé Opô Afonjá.

O crime aconteceu por volta das 4h30. Pouco depois, o segurança do terreiro se deu conta de que os quartos do terreiro haviam sido invadidos. De acordo com o ogã, os bandidos fizeram um buraco que deu acesso à cozinha da casa onde os filhos de santo se hospedam durante os trabalhos e rituais.

“Mas não tinha nada de valor lá. Estava tudo fechado, os trabalhos foram finalizados e a Casa estava isolada”, explicou o ogã. Para Daniel, o crime pode ter sido praticado por pequenos usuários de drogas da localidade. “É uma falta de respeito para com um espaço religioso”, indignou-se.

Esta não é a primeira vez que o templo é invadido. “Todas as vezes registramos queixa na 11ª CP (Delegacia de Tancredo Neves)”, lembrou o ogã.

Providência - Indignado com a ação, Ribamar Daniel disse que entrou em contato com o secretário da Segurança, César Nunes, que se comprometeu a enviar uma viatura ao local.

Nesta segunda à tarde, uma equipe do Departamento de Polícia Técnica (DPT) realizou a perícia. “Esperamos que haja um retorno por parte dos poderes públicos”, declarou o ogã.

Após a perícia, o local por onde os bandidos invadiram o terreiro foi fechado, assim como foram lacradas as portas dos quartos.

O crime vai ser apurado por policiais do Serviço de Investigação (SI) da 11ª CP (Tancredo Neves), comandados pela delegada plantonista Simone Moutinho.

http://www.atarde.com.br/cidades/noticia.jsf?id=1297061