quinta-feira, 30 de outubro de 2008

A África que o Brasil não vê

Embaixador de Cabo Verde lamenta a ausência de informações corretas sobre o continente africano e diz que imagem passada pela mídia brasileira prejudica auto-estima dos afrodescendentes

Pensar no continente africano apenas como o lugar da fome, da miséria, da AIDS e das guerras internas não só é um ato de ignorância, mas também não contribui para a formação e a estima dos nossos afrodescendentes.

O alerta é do embaixador de Cabo Verde no Brasil, Daniel Pereira, que proferiu conferência na Reunião Regional da SBPC em Maceió, na última sexta-feira. O evento foi promovido em conjunto com a V Semana da Cultura Africana da Ufal, também realizada durante a semana passada.

Na avaliação de Pereira, a mídia brasileira veicula apenas o lado mais negativo do continente. "Tudo isso – fome, guerras, doenças – é em parte certo, mas a África não é só isso, Cada vez mais o continente constitui-se culturalmente e avança rumo ao desenvolvimento", afirma.

O embaixador cita alguns dados como exemplo da mudança da realidade africana. Em 2005, a média de crescimento econômico do continente era de 4%, e no ano passado alguns países chegaram a crescer mais de 5%. Angola é o principal líder nesse aspecto: é o segundo país do mundo que mais cresce, com um percentual de mais de 20% em 2007.

A inflação também tem permanecido estável, num patamar abaixo dos 5% em mais de 20 países africanos.

"A tendência é de consolidação desses importantes resultados na economia. Temos atraído investimento externo, muito pela redução da dívida externa, melhoria na segurança interna e redução de conflitos", explica o embaixador.

Daniel Pereira admite que há ainda um grupo de países que ainda não atingiu bons índices de educação, igualdade de gêneros, infecção de AIDS. Mas ele entende que o progresso científico pode contribuir para o melhor desenvolvimento desses países. Nesse sentido, o embaixador destaca a iniciativa "Nova parceria para o desenvolvimento da África" (Nepad, na sigla em inglês), que tem como objetivo a consolidação da democracia e a promoção do desenvolvimento sustentável no continente.

O Nepad incentiva acordos internacionais em áreas prioritárias, tais como infra-estrutura, educação, saúde, tecnologias de informação e comunicação (TICs), agricultura, meio ambiente e energia.

O embaixador acredita que mudanças nesses setores proporcionarão um ambiente favorável ao maior investimento internacional. "Quem diria há 40 anos que a China seria o que é hoje? Eu pergunto: o que será a África daqui há 30 anos?", provoca.

Pereira destaca as boas relações entre os países da África e governo brasileiro, em especial com a presença do presidente Lula no continente. Ele salientou ainda as relações de parceria de Cabo Verde com estados do Nordeste, facilitadas por uma proximidade geográfica, climática e cultural. Por meio do Programa de Estudantes Convênio de Graduação (PEC-G), voltado para o intercâmbio de estudantes de países em desenvolvimento, em nível de graduação, o Brasil tem recebido alunos de membros da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP).

A Ufal participa do programa e conta atualmente com cerca de 70 estudantes africanos em cursos de graduação e também de pós-graduação.
(Daniela Oliveira)

segunda-feira, 27 de outubro de 2008

Agentes americanos dizem ter frustrado plano para matar Barack Obama

da Associated Press, em Washington

Agentes americanos frustraram um plano para assassinar o candidato democrata à Presidência, Barack Obama, e para matar a tiros ou decapitar outros 102 negros em uma onda de assassinatos no Estado do Tennessee.

Em registros da Justiça divulgados nesta segunda-feira, agentes federais afirmaram ter frustrado os planos de dois skinheads neonazistas que pretendiam roubar uma loja de armas e atacar uma escola cuja maioria dos alunos é negra. Os agentes dizem que os skinheads não revelaram o nome da escola.

Jim Cavanaugh, agente especial responsável pelo escritório de campo de Nashville do Escritório para Álcool, Tabaco, Armas de Fogo e Explosivos, disse que os dois homens planejavam atirar em 88 negros e decapitar outros 14. Os números 88 e 14 são simbólicos na comunidade que prega a supremacia branca.

Os homens também queriam realizar uma onda nacional de assassinatos, tendo Obama como seu alvo final, afirmou Cavanaugh à agência Associated Press.

"Eles disseram que esse seria seu último, seu ato final --que eles tentariam matar o senador Obama", disse o agente. "Eles não acreditavam que fossem conseguir, mas que morreriam tentando."

Uma porta-voz do presidenciável que o acompanha na Pennsylvania não comentou o caso.

Os dois homens, Daniel Cowart, 20, e Paul Schlesselman 18, estão detidos sem fiança.

Agentes apreenderam um rifle, uma arma de cano curto e três pistolas dos homens quando eles foram presos. Autoridades disseram que os dois homens tentavam invadir uma loja de armas para roubar mais armamentos.

Cowart e Schlesselman são acusados de porte de arma não registrada, conspirar para roubar armas e ameaçar um candidato a presidente. A investigação continua, e eles podem receber mais acusações, disse Cavanaugh.

Link para artigo original

O corpo negro na mídia

A exigência política de maior participação do negro na mídia e nas passarelas de moda vão implicar em conflitos morais criados com as representações pelas quais o corpo e a sexualidade negra serão expostos no espetáculo do consumo.
Leia mais, Belezas Negras

domingo, 26 de outubro de 2008

Audiência de Quilombolas de Alcântara-MA na OEA - Estados Unidos - Dia 27.10.08

Lideranças quilombolas serão ouvidas na sede da Comissão Interamericana de Direitos Humanos da OEA. A denúncia tem como principal fundamento o desrespeito do direito ao território das comunidades quilombolas de Alcântara.

Nesta segunda-feira (27) haverá uma audiência na sede da Comissão Interamericana de Direitos Humanos (CIDH) da OEA, em Washington DC , nos EUA, sobre as violações de direitos humanos cometidas pelo Estado brasileiro em relação às comunidades quilombolas do território étnico de Alcântara, Maranhão Será a oportunidade para que lideranças quilombolas sejam ouvidas pela CIDH.

Leonardo dos Anjos, da comunidade de Brito, e Militina Serejo, da comunidade de Mamuna, irão a Washington contar pessoalmente sua luta para que o Estado efetive o direito dos quilombolas ao seu território, conforme garantido pela Constituição Federal de 1988, Convenção Americana de Direitos Humanos e Convenção n. 169 da OIT. Os representantes das comunidades quilombolas também irão relatar para a CIDH os graves impactos e o processo violento de desestruturação sociocultural sofridos pelos quilombolas, em virtude da instalação do Centro de Lançamento de Alcântara (CLA) na década de 80 e intensificou-se em 2001 quando o Estado brasileiro decidiu abrir o centro espacial para utilização comercial de outros paises.

Participarão também da audiência, Luciana Garcia, advogada da Justiça Global, organização que, juntamente com movimentos sociais e outras organizações da sociedade civil, como o Movimento dos Atingidos pela Base Espacial, a Sociedade Maranhense de Direitos Humanos, e Centro de Cultura Negra do Maranhão; apresentou a denúncia junto a CIDH; e a antropóloga e professora doutora da Universidade Federal do Maranhão, Maristela Andrade, que acompanha e estuda há anos as comunidades quilombolas de Alcântara.

DUAS DÉCADAS DE VIOLAÇÕES DE DIREITOS DOS QUILOMBOLAS DE ALCÂNTARA

Desde 1980, com a desapropriação ilegal do território para construção do Centro de Lançamento de Alcântara pelo então Ministério da Aeronáutica, as comunidades vêm sendo sucessivamente expulsas de suas terras e sofrendo as mais graves violações de direitos básicos à manutenção de sua vivência, cultura e tradições. A insegurança alimentar, a proibição de livre circulação no território, a completa falta de acesso a políticas públicas de educação, saúde, saneamento básico e transporte aponta claramente o objetivo do governo federal de não respeitar dos direitos das comunidades quilombolas de Alcântara.

Mais recentemente, em 2003, Brasil e Ucrânia firmaram acordo internacional para cooperação nos usos pacíficos do espaço exterior, que culminou com a criação da empresa Alcântara Cyclone Space (ACS) para utilização do veículo de lançamento Cyclone-4 no Centro de Lançamento de Alcântara. A partir de então, a ACS vêm invadindo o território quilombola e realizando obras e atividades de pré-engenharia para criação de um sítio de lançamento de foguetes. O Ministério Público Federal do Maranhão ajuizou ação e obteve liminar da Justiça Federal, em setembro de 2008, para proibir que a Agência Espacial Brasileira e a ACS realizassem qualquer obra, instalações e serviços que afetassem a posse do território étnico de Alcântara, até que fosse concedida em definitivo a titulação da área às comunidades quilombolas.

Em outubro de 2008, completaram-se 20 anos do reconhecimento do direito das comunidades quilombolas à propriedade de seu território, com a promulgação da Constituição Federal de 1988, e não há qualquer perspectiva do governo brasileiro conceder em definitivo os títulos de propriedade às comunidades quilombolas de Alcântara.

Após a audiência, a CIDH deverá emitir um relatório sobre as violações de direitos humanos cometidas pelo Estado brasileiro, apontando recomendações para reparação às comunidades. As organizações que apresentaram a denúncia junto a OEA esperam que sejam reconhecidos os direitos à propriedade, liberdade de circulação, proteção à família, liberdade de associação e respeito à igualdade e não-discriminação dos quilombolas de Alcântara, previstos na Convenção Americana de Direitos Humanos.

A audiência durará cerca de uma hora, com aproximadamente 20 minutos para as partes exporem seus argumento e poderá ser acompanhado em vídeo pela internet, na página da OEA, no endereço abaixo:

http://www.oas.org/OASpage/live/webcast.asp?lang=ORI > [confirmar)

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(*) Informação de Luciana Garcia – Advogado da Organização Justiça Global do Rio de Janeiro – Em 24/outubro/08

quinta-feira, 23 de outubro de 2008

Obama na Casa Branca? Um desafio ao racismo americano


Maria Clara Bingemer

Enquanto as bolsas e o dólar continuam barbarizando as cabeças e corações aflitos, enquanto o futuro da economia mundial permanece uma incógnita, enquanto os orgulhosos e tonitruantes EUA ameaçam escorregar perigosamente para o Terceiro Mundo, uma estrela sobe. O nome da estrela, negra, alta e elegante é Barack Obama.

Deveríamos acreditar mais na sabedoria popular, que com seus ditos proclama verdades inapeláveis e eternas.

Assim é quando diz: há males que vêm para bem. Ninguém é insano a ponto de achar que a crise que hoje acontece é positiva.

Todos percebem os dias angustiantes e difíceis que nos aguardam. Mesmo o Brasil e seu otimista presidente, mesmo os ministros da área econômica o admitem. Os sistemas nervosos parecem gangorras quando ao longo do dia a bolsa sobe e desce; o dólar dispara e o Banco Central leiloa para segurá-lo. Ninguém duvida que tudo isso não contribui para a boa saúde do sistema e, sobretudo, da vida humana sobre o planeta.

E, no entanto, se esse é o preço a pagar pela vitória de Obama, para algo terá servido. Ainda há duas semanas olhávamos apreensivos a ascensão de John McCain, que chegava sempre mais perto da Casa Branca. Parecia quase inevitável ver de novo um republicano sentado na presidência da grande potência. Os números o diziam, as estatísticas não mentiam. E o tumulto armado pela candidata a vice-presidente, Sara Palin, nos debates que chegaram a desestabilizar Obama, aconteciam com preocupante recorrência.

Obama é o primeiro afro-americano a ser indicado candidato a presidente por um dos principais partidos políticos americanos. É também o único senador afro-americano na atual legislatura. Dentro da (ainda) racista América, só isto já falaria em seu favor de forma suficiente. Mas sua trajetória pessoal agrega importância ao simples fato de ter lançado candidatura à presidencia dos EUA. Obama representa a novidade, a diferença que se dispõe a entrar no sagrado templo que há décadas, séculos, domina e impera sobre o mundo ocidental.

Diferente por ser negro, Obama é filho de imigrante africano na intolerante terra do tio Sam. Diferente por carregar em suas raízes a cultura tribal africana, juntamente com a pertença islâmica do avô, misturadas à infancia e juventude passadas no Havaí e os estudos em Harvard, a mais prestigiada universidade norte-americana. Diferente por ser advogado vindo de Harvard que se ocupou, no início da carreira, em defender os direitos civis e atuar como líder comunitário até ser eleito para o Senado.

Com toda a sua diferença, Obama disputou as "primary colors" democratas com Hillary Clinton, cheia de brancura WASP e cacife político, herança do marido ex-presidente... e ganhou. Com toda a sua diferença enfrentava McCain fazendo piada sobre o visual de Sara Palin, falando de batons e porcos. Embora não fazendo campanha brilhante, ia para a frente.

E foi então que o sistema explodiu, o dólar enlouqueceu e as bolsas mais ainda. Os Dow Jones e Nasdaq passaram a ter o mesmo valor que José e Joaquim. Viraram pó. Toda a farsa e a inconsistência do governo Bush escancararam-se diante do mundo e, sobretudo, do eleitorado americano. McCain tentou explicar sem conseguir. Bush esbugalhou os olhos e pediu socorro. E a estrela de Obama começou a subir.

Se para isso tiver servido a crise, bendita seja. Para liberar a América e o mundo de que continue e siga em frente o genocídio do Iraque. Para nos dar esperança de que outros genocídios não aconteçam, já que Obama declara que retiraria as tropas imediatamente. Para nos regalar o olhar que verá um afro-americano na Casa Branca. Para nos convencer de que a violência e a injustiça não duram para sempre e de que temos direito a um suspiro de esperança.

E mais: para mostrar que o racismo norte americano finalmente terá um fim glorioso, com um afro descendente sentado no comando da mais poderosa nação do mundo. É simbólico mais que qualquer outra coisa. É confirmador da democracia antes que nada. É esperançoso, porque nos diz que os preconceitos não são eternos e que a macabra memória do Ku Klux Klan e outros horrores podem definitivamente ser enterrados pela história.

Esperemos... esperemos em Obama que não conhecemos bem, mas pode surpreender-nos agradavelmente. Apesar da crise... é permitido esperar.

sábado, 18 de outubro de 2008

Pesquisa mostra que negros são maiores vítimas de doenças da pobreza

Rio - Os brasileiros pretos ou pardos são as maiores vítimas de doenças ligadas a condição de vida precária, chamadas também de doenças da pobreza. A informação consta do Relatório Anual das Desigualdades Raciais do Brasil, divulgado pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), com base na Pnad 2007 e nas informações mais recentes do Ministério da Saúde.

A pesquisa mostra que os pretos e pardos são a maioria absoluta dos mortos por malária (60,6%), por hanseníase (58,3%), por leishimaniose (58,1%), por esquistossomose (55,5%) e por diarréia (50%).

De acordo com o coordenador do estudo, professor Marcelo Paixão, a incidência dessas doenças na população preta e parda comprova a desigualdade no acesso a serviços básicos. "Significa que vivem em condições, principalmente os locais de moradia mas também os demais padrões, que os levam a um nível de exposição a doenças típicas da falta de saneamento básico e de vacinação, por exemplo. Enfim, daqueles que têm as piores condições econômicas".

As informações são de Isabela Vieira, da Agência Brasil

Marcio Alexandre M. Gualberto
Coordenador do Coletivo de Entidades Negras - CEN/RJ
Editor do blog: Palavra Sinistra
Integrante da Rede Mamapress e colunista de Afropress
Membro do Conselho Editorial da revista Raça Brasil
MSN: marciogualberto@msn.com

Baixo número de deputados negros atrasa debates sobre igualdade racial, diz UFRJ

Agência Brasil


dificuldade de tratar os problemas vivenciados pelos afrodescentes brasileiros no Congresso Nacional, o que inclui a aprovação do Estatuto da Igualdade Racial, pode ser justificada pelo pequeno número de parlamentares negros e pardos na Casa.

A avaliação é do professor Marcelo Paixão, que coordenou o Relatório Anual das Desigualdades Raciais no Brasil, divulgado hoje (15) pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UERJ). O estudo traz um recorte sobre a raça dos deputados eleitos em 2006.

De acordo com o estudo, dos 513 deputados federais, 11 se declaram negros. Desses, apenas uma mulher. Outros 35 se identificaram como pardos, sendo dois homens. Cerca de 87% se declaram brancos, 0,8% amarelos e nenhum, indígena.

O professor Marcelo Paixão destaca que o número de deputados negros e pardos é pequeno em comparação com o total dessa população no país. Juntos, os dois grupos representam 9% da Casa, frente a 49,5% do total dos brasileiros.

Segundo ele, com a atual configuração, os problemas dos negros encontram dificuldades para serem discutidos. Ele cita como exemplo o Estatuto da Igualdade Racial, que tramita no Congresso Nacional há quase uma década.

"Não é verdade que os problemas dos negros tenham que ser trabalhados apenas por deputados negros. Pessoas brancas, amarelas, qualquer que seja, podem fazer. Agora, segundo a história brasileira, é um fato que a baixa presença de negros no parlamento dialoga com a baixa presença desse tema no debate público."

A pesquisa da UFRJ também destaca que o contingente de mulheres está "sub-representado" na Câmara Federal. No total, as deputadas somam 8,8% do total de eleitos. A única deputada negra, corresponde a 0,02% de todos os deputados.


Ademir Santos
Membro do Conselho de Desenvolvimento da Comunidade Negra - CDCN
Coordenador de Ação Social do Coletivo de Entidades Negras - CEN
tel.: (71) 91423132

Biblioteca Manuel Querino

Um acervo com oito mil livros e 300 títulos estão dispóníveis para o público leitor na Biblioteca Manuel Querino, que fica no Solar Ferrão - unidade ligada ao Instituto do Patrimônio Artístico e Cultural (Ipac). O acesso à biblioteca é inteiramente gratuito e os visitantes encontrarão lá publicações sobre História da Bahia, antropologia, urbanismo, arte, artesanato, sociologia e patrimônio cultural. O espaço funciona de segunda à sexta, das 9h às 20h, e aos sábados, das 9h às 12h. Anote o endereço: Rua Gregório de Mattos, 45, Pelourinho (71 - 3117-6384).

sexta-feira, 17 de outubro de 2008

Igreja de N.S. do Rosário dos Pretos - local do jazigo de Manuel Querino

Foto: Sabrina Gledhill
A igreja do Rosário dos Pretos. Esta igreja tem uma vida tumultuada porque quando os escravos e ex-escravos baianos resolveram fazer uma igreja para Nossa Senhora do Rosário, aconteceu uma coisa curiosíssima - a arquidiocese negou que o dinheiro fosse guardado por escravos e ex-escravos; o tesoureiro devia ser branco. O dinheiro podia ser negro, mas o tesoureiro, a fiscalização dos gastos tinha que ser branco. Isso é talvez a mais violenta forma de preconceito já ocorrida na Bahia, no Brasil.
Os homens que eram donos do seu dinheiro não administraram seu dinheiro, eles obtinham o dinheiro, entregue a um tesoureiro branco indicado pela diocese, para que este fizesse os gastos da igreja do Rosário dos Pretos(...).
Fez-se a igreja do Rosário dos Pretos, a construção tem início em 1664 (...)

terça-feira, 14 de outubro de 2008

segunda-feira, 13 de outubro de 2008

Biografia descortina uma época


O livro Domingos Sodré, um sacerdote africano, do historiador baiano João José Reis, tem tudo para repetir o sucesso de outros trabalhos do autor como Rebelião escrava no Brasil. A nova obra de Reis traz à tona a biografia de um liberto de origem africana que viveu na Bahia do século XIX.

O personagem escolhido é realmente fascinante: escravizado, Domingos Sodré conseguiu ascender socialmente após obter a alforria. De escravo, tornou-se, então, senhor deles.

O curioso é que foi também chefe de junta de alforria e especialista em práticas mágicas, que é a face que ganha maior relevância no livro. Com a casa devassada pela polícia, Domingos Sodré acabou preso em 1862 num contexto em que a prática da religiosidade de origem africana era entendida por autoridades policiais e pela imprensa local como um entrave ao processo civilizatório da Bahia.

As práticas do que talvez hoje possamos chamar de candomblé eram tratadas como feitiçaria e costumavam ser avaliadas por policiais e jornais como O Alabama na esfera da exploração de ignorância de um povo. Assim, sacerdotes e clientelas eram colocados num mesmo nível de comportamento duvidoso: os primeiros como charlatães e os segundos como desprovidos de inteligência.

Repressão - O interessante neste novo livro de João Reis é a sua capacidade de trazer à tona informações não só sobre o contexto em que Domingos Sodré se movimentava, mas também sobre esta religiosidade de origem de alguns dos povos africanos que vieram para a Bahia.

Também já fica patente neste período a máquina da repressão policial para sufocá-la. Ou seja: o candomblé, palavra que já era usada no período para definir estas práticas, era tratado como caso de polícia.

Esta condição se arrastou até os últimos 30 anos do século XX, pois só em 1976, o então governador Roberto Santos assinou o decreto acabando com a exigência de se retirar uma autorização na Delegacia de Jogos e Costumes para serem realizados os ritos de candomblé.

O primeiro capítulo do livro traz a descrição de como funcionava o aparato policial na época e as ações repressivas chefiadas pelo chefe de polícia João Antônio de Araújo Freitas Henriques (1822-1903) que é o mandante da prisão de Domingos Sodré, em 1862.

Embora o personagem central do livro seja Domingos Sodré, o historiador consegue traçar o panorama do nada fácil mundo dos escravos africanos, difícil mesmo para os que conseguiam ganhar a liberdade. Ser africano tornou-se insuportável a partir da revolta dos malês em 1835, um levante que provocou o pânico nas elites locais.

"Nos dias seguintes à derrota, a comunidade africana de Salvador foi submetida a uma repressão brutal protagonizada pelas forças policiais e por cidadãos armados. A violência foi equivalente ao medo que tomara conta dos moradores, por pensarem que escravos e libertos africano pudessem tentar, na seqüência, um novo levante", narra Reis.

Cobrança de taxas astronômicas para comercialização de produtos, confisco de mercadorias e várias outras medidas dificultavam a sobrevivência de africanos que insistiam em permanecer na Bahia após a revolta. Para os que não foram deportados, diante das duras condições impostas para ficar, o remédio era juntar dinheiro para retornar à África, trajetória que deu origem aos grupos dos chamados retornados, cujos descendentes vivem hoje em comunidades "brasileiras" principalmente na Nigéria e na República do Benim.

CONTEXTO - As informações do livro são bastante documentadas - uma marca característica dos trabalhos de Reis -, mas distribuídas de uma forma leve que tornam a leitura prazerosa e dinâmica. Para construir o seu relato, o historiador recorreu a registros paroquiais, testamentos, inventários, inquéritos, cartas de alforria, jornais, além da troca de correspondência da autoridades policiais.

Como em Rebelião escrava no Brasil, que se tornou um clássico da historiografia brasileira, a nova obra de José Reis, consegue fazer o leitor conhecer não apenas Domingos Sodré, mas todo o contexto em que o personagem transita.

A Salvador do século XIX ganha forma, cores e as ilustrações e fotografias incluídas nos livros ajudam numa melhor compreensão do universo abordado na obra. É mais fácil compreender o modo de vida dos libertos e os mecanismos que colocava estratos diferenciados mesmo em meio à escravidão. São canais de ascensão e negociação que eram possíveis mesmo numa estrutura de poder aparentemente rígida.

Por meio do livro, ficamos conhecendo melhor as nuances do sistema escravista com suas combinações de violência, mas também de apadrinhamento e alianças. Ser crioulo (nascido no Brasil) ou africano poderia significar tratamento diferenciado em determinados contextos. No ambiente retratado por Reis os primeiros levam uma ligeira vantagem.

Fiel ao seu estilo, o autor optou por uma linguagem leve que torna a complexidade do seu estudo mais próxima do público que não tem tanta familiaridade com os trabalhos acadêmicos. É uma virtude para alguém que detém o currículo de João José Reis: doutor em História, pesquisador renomado e professor da Universidade Federal da Bahia (Ufba), autor, além da Rebelião escrava no Brasil, de A morte é uma festa, (ganhador do Prêmio Jabuti de 1992) e Negociação e conflito (1989) escrito em conjunto com Eduardo Silva.

Finalmente, Domingos Sodré, um sacerdote africano é uma leitura para estudantes, pesquisadores, mas também para os que estão distantes da academia, mas têm a curiosidade de conhecer os impactos da escravidão além do que se costuma aprender na escola.


Cleidiana Ramos | Jornalista de
A TARDE e mestranda do Programa de Pós-Graduação em Estudos Étnicos e Africanos (Pós AfroCeao-Ufba)

Publicado no A Tarde em 11/10/2008

sexta-feira, 10 de outubro de 2008

Notícias da Casa das Áfricas

Economia

A crise financeira na África: O mercado vai bem, os clientes nem tanto

J.C. Servant

O mundo das finanças africanas parece se esquecer de um dado essencial: a saúde econômica da clientela local frente à qual alardeia o bom estado de seus bancos, os benefícios conseguidos pelas desregulações e os lucros dos pequenos acionistas. A nova classe média do continente foi a primeira que acreditou nas virtudes do novo modelo econômico e uma vez estabelecida a economia liberal tornou-se o protótipo da África moderna. Mas após acumular uma panóplia de bens caros está cada vez mais difícil para essas famílias manter seu estilo de vida. A conjunção de uma classe média decepcionada por seus líderes de opinião e uma maioria da população esquecida pelos proveedores de fundos poderia revelar-se socialmente explosiva. (Foto: sem-teto em Johannesburg) Leia mais

Artigos relacionados

África traída: A economia contra os povos africanos | Damien Millet

Movimentos sociais, decrescimento, transferência de conhecimento | Dídac P. Lagarriga

Etiópia

Etiópia: Três milênios de lendas e de história

Jasmina Sopova


Celebrou-se recentemente a devolução à Etiópia, por parte do governo italiano, do monumento de pedra de dezessete séculos de antigüidade que as tropas de Mussolini levaram a Roma em 1937. O oblelisco de Axum foi reinstalado na sua localização original, ao norte da Etiópia. Diz-se que ao levar a lápide gigante Mussolini teria querido se vingar da derrota infligida em 1896 às tropas coloniais italianas en Adua, ao norte da Etiópia.
Três parques de lápides gigantes, um labirinto de túmulos reais, vestígios do palácio da rainha de Sabá, uma "pedra de Rosetta etíope", a Arca da Aliança que continha as tábuas dos dez mandamentos: um incrível tesouro que oscila entre o mito e a história, esconde-se em Axum, cidade da Etiópia antiga, que padeceu tantos saques, pilhagens e incêndios. (Foto: detalhe de uma pintura mural na igraja Narga Selassie) Leia mais

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Perspectiva histórica do desenvolvimento cultural na Etiópia | William B. Davis

A civilização de Axum do século I ao século VII | F. Anfray

Axum cristão | Tekle Tsadik Mekouria

Educação

Raça, gênero e educação no Moçambique colonial, 1910-1930

Valdemir Zamparoni


Em Lourenço Marques (Maputo), emergiu com a dominação colonial uma camada social de negros e mulatos que, pouco a pouco, passou a se articular como grupo e a fazer reivindicações, passaram a defender a extensão do ensino a toda a Colônia. Também julgavam que era preciso difundir a educação feminina, quer em relação às práticas ancestrais, quer modernas. Num meio social marcado pelo racismo o tema da separação racial dos alunos ganhou as ruas. O Estado Novo oficializou a separação em 1930. A pequena burguesia negra e mulata reagiu fortemente a estas práticas excludentes. (Foto: alunos e alunas da Missão de Magude, Moçambique) Leia mais

Artigos relacionados

O crioulo da Guiné-Bissau | Johanes Augel

O impacto francês na Educação em África, 1817-1960 | David Gardinier

Artigos em português e espanhol

Seleção de notícias e artigos de análise da atualidade política, econômica, social e cultural do continente africano.

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Agenda

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terça-feira, 7 de outubro de 2008

I Seminário Internacional - SSIM

O seminário "África em Movimento: interconexões e desconexões de saberes ao Sul" desdobra-se do debate alimentado no seio da SSIM (Southern Spaces in Movement) e pretende abrir espaço de trocas no diálogo com/sobre o continente africano e o Brasil.

De 22 a 24 de outubro

África em Movimento:

Interconexões e desconexões de saberes ao Sul

Dia 22/10: PUC-SP - Rua Ministro de Godói, 969, Perdizes - SP. Sala: 239. Dias 23 e 24/10: Faculdade de História da FFLCH-USP - Av. Professor Lineu Prestes, 338, Cidade Universitária - SP. Sala: anfiteatro da História.


Informações: Eva Pereira Rocha Tel.: 11 33681440 ou eva.ssim@gmail. Inscrições: ssim.seminar@gmail.com www.southern-spaces.net



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quinta-feira, 2 de outubro de 2008

Instituto Sacatar convida:

Atividades Lúdicas e Contos do Folclore Afro-Baiano

com Hannah Morris e Selma Carneiro


Data 6 de outubro de 2008

Horário : 10h

Telefone : 71 3631-1834

Local: Biblioteca Juracy Magalhães Júnior em Itaparica-Ba

Endereço: Rua Ruy Barbosa, S/N - Centro - Itaparica - Ba