quinta-feira, 30 de outubro de 2008

A África que o Brasil não vê

Embaixador de Cabo Verde lamenta a ausência de informações corretas sobre o continente africano e diz que imagem passada pela mídia brasileira prejudica auto-estima dos afrodescendentes

Pensar no continente africano apenas como o lugar da fome, da miséria, da AIDS e das guerras internas não só é um ato de ignorância, mas também não contribui para a formação e a estima dos nossos afrodescendentes.

O alerta é do embaixador de Cabo Verde no Brasil, Daniel Pereira, que proferiu conferência na Reunião Regional da SBPC em Maceió, na última sexta-feira. O evento foi promovido em conjunto com a V Semana da Cultura Africana da Ufal, também realizada durante a semana passada.

Na avaliação de Pereira, a mídia brasileira veicula apenas o lado mais negativo do continente. "Tudo isso – fome, guerras, doenças – é em parte certo, mas a África não é só isso, Cada vez mais o continente constitui-se culturalmente e avança rumo ao desenvolvimento", afirma.

O embaixador cita alguns dados como exemplo da mudança da realidade africana. Em 2005, a média de crescimento econômico do continente era de 4%, e no ano passado alguns países chegaram a crescer mais de 5%. Angola é o principal líder nesse aspecto: é o segundo país do mundo que mais cresce, com um percentual de mais de 20% em 2007.

A inflação também tem permanecido estável, num patamar abaixo dos 5% em mais de 20 países africanos.

"A tendência é de consolidação desses importantes resultados na economia. Temos atraído investimento externo, muito pela redução da dívida externa, melhoria na segurança interna e redução de conflitos", explica o embaixador.

Daniel Pereira admite que há ainda um grupo de países que ainda não atingiu bons índices de educação, igualdade de gêneros, infecção de AIDS. Mas ele entende que o progresso científico pode contribuir para o melhor desenvolvimento desses países. Nesse sentido, o embaixador destaca a iniciativa "Nova parceria para o desenvolvimento da África" (Nepad, na sigla em inglês), que tem como objetivo a consolidação da democracia e a promoção do desenvolvimento sustentável no continente.

O Nepad incentiva acordos internacionais em áreas prioritárias, tais como infra-estrutura, educação, saúde, tecnologias de informação e comunicação (TICs), agricultura, meio ambiente e energia.

O embaixador acredita que mudanças nesses setores proporcionarão um ambiente favorável ao maior investimento internacional. "Quem diria há 40 anos que a China seria o que é hoje? Eu pergunto: o que será a África daqui há 30 anos?", provoca.

Pereira destaca as boas relações entre os países da África e governo brasileiro, em especial com a presença do presidente Lula no continente. Ele salientou ainda as relações de parceria de Cabo Verde com estados do Nordeste, facilitadas por uma proximidade geográfica, climática e cultural. Por meio do Programa de Estudantes Convênio de Graduação (PEC-G), voltado para o intercâmbio de estudantes de países em desenvolvimento, em nível de graduação, o Brasil tem recebido alunos de membros da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP).

A Ufal participa do programa e conta atualmente com cerca de 70 estudantes africanos em cursos de graduação e também de pós-graduação.
(Daniela Oliveira)

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