Segundo o dicionário Aurélio, "autodidata" significa "Que ou quem aprendeu ou aprende por si, sem auxílio de professores". De acordo com esta definição, Querino não se enquadra, com certeza, porque estudou no Liceu de Artes e Ofícios e na Escola de Belas Artes.
Querino pode ter sido um antropólogo "autodidata" porque na sua época não existiam na Bahia cursos ou estudos ou professores de antropologia, como os conhecemos hoje em dia. Mas seguindo este critério, todos os antropólogos da sua época eram "autodidatas", nos primórdios de uma ciência cujo principal valor é a objetividade na observação e a capacidade de tirar conclusões baseadas em amostras amplas, ao invés de provas casuísticas.
Os "cientistas" do Oitocentos acreditavam na frenologia e outras pseudociências. Pensavam que as "raças" humanas fossem tão distintas quanto o cavalo e o jumento - tanto é que acreditavam que, dentro de 200 anos, o mulato (que deriva-se de "mula") iria desaparecer.
Querino foi mais do que um antropólogo ou folclorista. Ele foi um observador perspicaz e colecionador de dados, livre de muitos dos preconceitos e das ideologias de seu tempo. Seus registros dos costumes da "Bahia de Outrora" tornaram-no uma fonte indispensável para historiadores, antropólogos e folcloristas que pretendem saber ou escrever sobre a vida desta terra.
Então vamos parar com essa história de "autodidatismo" - ou será que é preconceito? O branco teria "religiões", mas o negro apenas "cultos". O branco teria "línguas", mas o negro, "dialetos". O branco seria "intelectual" e o negro, "autodidata". Só uma mula não entende.
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