Boletim Informativo da ANPAP Salvador nº 02
março de 2009
Pencas de balangandãs
pela mestra do PPGAV/EBA/UFBA, Simone Trindade
O Museu Carlos Costa Pinto possui 27 pencas de balangandãs em prata, o maior conjunto existente em museus. Esses exemplares encantam e intrigam o público visitante por seu exotismo e singularidade. Sua composição revela a existência de diversos elementos místicos.
As pencas de balangandãs foram usadas por algumas mulheres negras e mulatas na cintura, em ocasiões festivas, na Bahia do século XVIII às primeiras décadas do século XX. Esses adereços, insígnias de distinção, possuem três partes: corrente, nave ou galera e elementos pendentes. A corrente serve para fixar o adorno à usuária, perpassando-lhe a cintura. A nave ou galera agrupa os elementos pendentes, amuletos (elementos de proteção) e talismãs (elementos propiciatórios) definidores de cada penca de balangandãs. Sua reunião torna cada exemplar único, visto que é fruto de escolhas pessoais. Os elementos mais freqüentes na coleção Museu Carlos Costa Pinto são a figa, o coco de água, a chave, a moeda, o cilindro, a romã, o cacho de uvas, o peixe e o dente. Todos esses elementos, de caráter mágico, remetem a uma postura diante da vida, referenciada por um conjunto de crenças que lhe conferem sentido.
Além da expressão de status social e/ou da condição de liberta ou livre das suas usuárias, as pencas de balangandãs parecem ter sido um distintivo de uso restrito. O seu discurso, pautado em signos ligados à magia, remete a diferentes e antigas tradições incorporadas em seu trajeto histórico e chegadas ao Brasil via África e Portugal. Cada penca de balangandãs conta essa história.
Vitrine de balangandãs do Museu Carlos Costa Pinto.
Uma crioula da Bahia. J. Melo editor. Fotografia (cartão postal), 1904-1915.
Penca de balangandãs em prata com 24 elementos e corrente. Bahia, séc. XIX.
Penca de balangandãs desmontada. Bahia, séc. XIX.
E um pouco mais sobre o acervo e a localização do MCCP
O Museu Carlos Costa Pinto está situado no tradicional bairro da Vitória, em Salvador – Bahia. Fruto de amor e dedicação, o museu é a concretização do sonho do casal Costa Pinto. Seu acervo de artes decorativas foi reunido por mais de 25 anos pelo colecionador Carlos Costa Pinto e doado por sua viúva Margarida de Carvalho Costa Pinto.
Inaugurado em 5 de novembro de 1969, o Museu propicia um inesquecível retrato da Bahia Colonial e Imperial. O seu acervo, exposto tematicamente, é constituído por mais de 3.000 significativos objetos de artes decorativas dos séculos XVII ao XX.
O Museu Carlos Costa Pinto funciona de segunda-feira a sábado, das 14:30h às 19:00h, exceto terça-feira, quando fecha ao público para manutenção e trabalhos técnicos. O Museu mantém permanente interação com a comunidade, desenvolvendo contínua programação cultural. O seu Serviço Educativo atende a estudantes, grupos de terceira idade e pessoas com necessidades especiais, mediante visita previamente agendada. A Biblioteca do Museu disponibiliza o seu acervo bibliográfico, especializado em artes decorativas.
Museu Carlos Costa Pinto
Simone Trindade Vicente da Silva é licenciada em História pela Universidade Católica do Salvador – UCSAL. Bacharel em Museologia pela Universidade Federal da Bahia-UFBA. Mestre em Artes Visuais pelo Programa de Pós-Graduação da Escola de Belas Artes-UFBA, com a dissertação “Referencialidade e Representação: um resgate do modo de construção de sentido nas pencas de balangandãs a partir da coleção Museu Carlos Costa Pinto”, orientada pelo Prof. Dr. Cid Ávila Macedo e co-orientada pela Profa. Dra. Maria Helena Ochi Flexor. Museóloga da Fundação Museu Carlos Costa Pinto desde 1991, assumindo a Coordenação de Museologia em 1998. Sócia da Tecnomuseu Consultoria Ltda, empresa especializada em museologia. Professora da disciplina História da Arte na Faculdade de Tecnologia e Ciências de Salvador – FTC-EAD.
E-mails: simonetrindade@gmail.com / tecnomuseu@uol.com.br
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