domingo, 20 de julho de 2008

Chico Buarque e o Racismo no Brasil



É fantástico que o cidadão Chico Buarque tenha a percepção exata e desafetada de que ele não é branco. Apesar de festejado pelos seus belos olhos azuis, ele se sabe mestiço, como a maioria dos brasileiros que aqui nasceram e resultam de uma mistura, que incluem europeus, africanos e indígenas. E como mestiço seria uma espécie de 'fratricídio' negar Carlinhos Brown como sendo um igual.


Chico Buarque é o tipo humano que sintetiza a história da população brasileira, mas como ele mesmo afirma na entrevista 'as pessoas não querem aceitar que ele não é branco'.

E essa desobediência civil de Chico incomoda e muito. Pois na realidade brasileira o que vemos são muitas famílias pseudo brancas, lutando para manter o que eles pensam ser 'branquitude', evitando a todo custo casarem-se com pessoas 'muito diferentes' fisicamente.

Todo mundo sabe como é...'Não somos racistas', mas vez por outra, algum 'corajoso' confessa que não gostaria de ter que passar cremes alisantes nos cabelos dos seus netos.

Tudo isso só mudará com o uso de informação adequada, principalmente para ajudar os próprios afro-descendentes, aqueles cujos traços deixam mais que evidentes a herança da Mãe África, berço da Humanidade, a mudar a percepção errônea de si mesmos, enraizada ao longo de quatro séculos, que leva à subserviência e à crença de que são incapazes ou inferiores.

É chegada a hora dos afros-decendentes de diversas matizes - pretos, quase pretos ou quase brancos - falarem por si mesmos e atingirem a sua maioridade política e social, fazendo com que esse círculo viciado e vicioso se rompa de vez.

O reconhecimento de si mesmo, como ser humano, e também dos direitos - e deveres - de cidadão, serve como um antídoto, que fortalece o indivíduo contra ideologias baseadas em ódio, egoísmo e intolerância.

A saída para ajudar a concretizar essa empreitada, pode ser a promoção, em todos os níveis da vida humana, de ações contrárias á negação da humanidade, de todos os grupos historicamente discriminados - negros, índios, homossexuais, mulheres, judeus, árabes, indianos de castas inferiorizadas.

Para todos os tipos de violências perpetradas contra seres humanos, por causa das suas 'diferenças', sejam essas violências reais ou simbólicas, torna-se necessário desenvolver ações afirmativas e positivas, que visem transformar idéias negativas e clichês sobre determinados grupos, trazendo á tona valores, costumes e contribuições que esses grupos deram á humanidade, para que o olhar sobre os mesmos mudem gradativa e incessantemente, ao longo do tempo.

Ação Afirmativa é um conceito novo, transformador, que tem como proposição revolucionar costumes, corrigindo distorções, através do conhecimento e de ações positivas, enriquecedoras e pacifistas.

Portanto, com sua atitude lúcida, solidária e positiva, o cidadão Chico Buarque demonstra ter uma visão bastante avançada, em relação ao processo de desconstrução de idéias racistas no nosso país, ao reconhecer, sem máscaras, que o seu pertencimento étnico é diverso e múltiplo.

Agora, resta saber, quando teremos uma adesão em massa, á luta anti-racista neste país.

Brasil! Mostre as suas caras!


Noêmia Duque · 17/7/2008 14:02

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