domingo, 20 de abril de 2008

Pândegos da África

"Já em Salvador as grandes atrações do Carnaval das últimas
décadas do século XIX foram os clubes negros, especialmente os Pândegos da África e a Embaixada Africana. Os desfiles desses clubes, embora seguissem o modelo das grandes sociedades carnavalescas — com carros alegóricos, fantasias e adereços —, em
muito lhes eram distintos.
"Na interpretação dos jornalistas os Pândegos da África promoviam
nas ruas um verdadeiro candomblé. Tematizando a África,
o clube desfilava com carros alegóricos que conduziam foliões
vestidos de reis, ministros e feiticeiros africanos. A multidão negra
tomava as ruas, cantando canções em língua iorubá ao som de
atabaques, os mesmos tambores usados nos cultos afro-brasileiros.
"Manoel Querino, professor, escritor e abolicionista negro, foi
membro da sua diretoria em 1900. Para ele, o desfile desse clube
era a reprodução de festejos que ainda aconteciam na África. Não
nos cabe aqui avaliar a veracidade da informação desse folião tão
ilustre, mais importante é assinalar a predisposição do clube em
reafirmar os vínculos culturais entre a Bahia e a África, apesar da
divulgação das teorias racistas que colocavam o continente africano
como o último na escala da evolução".

Fonte: Uma História do Negro no Brasil, Wlamyra R. de Albuquerque,
Walter Fraga Filho. Salvador: Centro de Estudos Afro-Orientais;
Brasília: Fundação Cultural Palmares, 2006. P. 232.

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