terça-feira, 8 de abril de 2008

Balanço de Brasa IX

Entre os dias 27 e 29 de março, participei do IX congresso da Associação de Estudos Brasileiros (Brasa IX) na Universidade de Tulane, em Nova Orleans, onde fiz uma apresentação sobre Manuel Querino: a seção biográfica do artigo "Manuel Querino: Um Pioneiro e Seu Tempo". Foi uma experiência muito proveitosa e, melhor ainda, me deixou mais convicta do que nunca da relevância e significância de Manuel Querino para os dias de hoje. No decorrer do congresso, vários painéis destacaram a necessidade de fornecer e produzir imagens positivas do negro no Brasil, desde os tempos da escravidão até hoje. Foi justamente o que Querino lutou para fazer durante a última fase de sua militância (seguindo as fases de republicano, abolicionista, líder operário e político) - a luta de um "imprescindível" do poema de Bertolt Brecht.*

A platéia foi pequena para o painel do qual participei, mas a resposta foi muito encorajadora. Focou evidente que a obra de Querino é interessante para pesquisadores de várias áreas, da história da arte à etnografia. Uma das perguntas que surgiram depois da apresentação merece mais reflexão: porque Querino foi "esquecido" e "excluído" da história oficial das pesquisas afro-brasileiras no Brasil, inclusive por Gilberto Freyre?

A resposta mais simples seria que foi vítima do silêncio e do desprezo por causa de sua cor. Mas a resposta é mais complexa: tomamos como nossas as palavras de Frederico Edelweiss: “Quantas vezes (Manuel Querino) deve ter ouvido a frase feita e ainda corriqueira: ‘este negro não se enxerga!’ As reivindicações a favor dos irmãos de raça haviam de trazer-lhe simpatia e desafetos; mais desafetos...” Em outras palavras, é mais um exemplo da "escotilha de fuga do mulato", que se transforma numa verdadeira armadilha.



*Há homens que lutam um dia, e são bons;
Há outros que lutam um ano, e são melhores;
Há aqueles que lutam muitos anos, e são muito bons;
Porém há os que lutam toda a vida
Estes são os imprescindíveis
-- Bertolt Brecht

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