domingo, 20 de abril de 2008

Os homens de cor preta na Historia

Em 1923, a Revista do Instituto Geográfico e Histórico da Bahia (no. 48, P. 353-363) publicou um artigo da autoria de Prof. Manoel Querino, titulado "Os homens de côr preta na Historia", no qual o autor fornece dados biográficos (em muitos casos, escassos, com apenas 3 linhas) de 38 afrodescendentes: médicos, militares, religiosos, revolucionários, bacharéis, músicos e educadores, além de um engenheiro (Emigdio Augusto de Mattos). Também cita os nomes de vários outros militares (tenentes e alferes) e educadores. Embora a maioria não tenha datas, quase todos são do século XIX.

Segue uma transcrição da primeira "mini-biografia" - a mais extensa - de Dr. Caetano Lopes de Moura (com português atualizado):

Contava dezoito anos de idade, quando se achou envolvido no movimento sedicioso de 1798. Era, então, professor de latim e conhecedor de outras disciplinas.
Por fugir à devassa que fora logo aberta, emigrou para o estrangeiro e conseguiu diplomar-se em medicina na Universidade de Coimbra. Entrando para o Corpo de Saúde do Exercito, militou na guerra da Península, como cirurgião-mor de Legião Portuguesa. Depois dirigiu-se à França, que lhe oferecia mais vasto campo às suas cogitações literárias e científicas, aí fixou residência e, finalmente, doutorou-se em medicina. Assim aparelhado para maiores empreendimentos, consagrou-se à clínica e dedicou os momentos de descanso ao estudo e aos trabalhos de gabinete. Nesse afã, compôs e traduziu do francês, do inglês e do alemão obras de valor, sobre história, ciência e literatura. Serviu na Armada francesa e fora médico particular de Napoleão Bonaparte, de quem escreveu importante biografia. Gozou de grande reputação como homem de letras.
O ilustre helenista Odorico Mendes disse a seu respeito: "O nosso ilustre compatriota é riquíssimo na linguagem". Velho, alquebrado e sem recursos, fora amparado pela munificência de D. Pedro II, que lhe concedeu modesta pensão que lhe proporcionou existência menos atribulada. Foi um baiano que honrou à terra natal, principalmente, no estrangeiro, onde se impôs à admiração dos espíritos mais eminentes do Velho Mundo, pelos seus conhecimentos literários e profunda ilustração. Essa circunstância ainda mais realçava o seu valor intelectual por quanto se tratava de um homem de cor, originário de um país ainda hoje mal julgado por povos que se dizem propugnadores do progresso, da ciência da arte e da literatura.
(Também fornece uma relação de 36 "trabalhos que deu à estampa, em original ou em versão").

Um artigo publicado em PDF na Internet, da autoria de Cláudio Veiga, questiona a cor do médico, escritor e tradutor, alegando que era "mulato" e não "negro". Quem sabe, estava tentando abrir a "escotilha de fuga" para mais um eminente homem de cor preta? (Segundo os critérios brasileiros, vários líderes negros norte-americanos, inclusive Booker T. Washington, seriam "mulatos".)

Um comentário:

Sabrina Gledhill disse...

Segue outra versão da vida de Dr. Caetano Lopes de Moura: Um brasileiro na corte de Napoleão que caracteriza o médico, autor e tradutor como "negro, filho de escravos".