quinta-feira, 20 de agosto de 2009

CINCO DÉCADAS DE OBARÀYÍ

Foto: Mario Cravo Neto

Livro bilíngüe, que será lançado no dia 27 de agosto, narra a trajetória
do babalorixá Balbino Daniel de Paula

Da força das antigas linhagens religiosas da Ilha de Itaparica até o reconhecimento público no Brasil e a reverência no exterior. A história de um dos grandes representantes da religiosidade afro-brasileira ganha as páginas do livro Obaràyí – Babalorixá Balbino Daniel de Paula. A obra, escrita pela jornalista Agnes Mariano, será lançada no Palácio da Aclamação, em Salvador, no dia 27 de agosto, quinta-feira, às 19h. A edição bilíngüe, em português e inglês, também é assinada pela jornalista Aline Queiroz, que empreendeu uma pesquisa sobre as festas do calendário religioso do candomblé. Idealizada e realizada pela Barabô Design Gráfico e Editora e com patrocínio da Agência Africa, Citéluz e Ministério da Cultura, através da Lei Rouanet, a publicação registra através de textos e de mais de mil imagens a riqueza e os detalhes de uma cultura essencialmente oral.

“É uma bênção de Olorum, Xangô e de todos os orixás poder contar a minha história. Saí de Ponta de Areia, de uma infância pobre, batalhei muito e hoje tenho orgulho de servir como inspiração para outras histórias de coragem e fé”, afirma Balbino Daniel de Paula, que acaba de completar cinco décadas de iniciação religiosa. O pré-lançamento da obra será em 24 de agosto, segunda-feira, às 11h, como parte da programação do Jubileu de Ouro – 50 Anos de Aganju, na sede do Terreiro Ilê Axé Opô Aganju, em Lauro de Freitas. No mesmo dia, haverá avant-premiere do filme O Jardim das Folhas Sagradas, de Póla Ribeiro, que conta com a participação do babalorixá.

“A história de Balbino tem a força das lendas. Ele tem plena consciência da importância da tradição que representa, mas assume essa responsabilidade de um jeito só seu. Uma coisa é certa, quem se aproxima dele, cresce”, afirma Agnes Mariano, que entrevistou mais de cem pessoas, inclusive o próprio Balbino, durante os sete anos em que empreendeu a pesquisa que daria origem ao texto sobre o babalorixá. Descobriu relatos de gente como o fotógrafo e etnólogo francês Pierre Verger, o cantor e ex-ministro da cultura Gilberto Gil, políticos, líderes religiosos, artistas, tantos ilustres e tantas pessoas simples em busca da orientação espiritual daquele que foi especialmente escolhido pelos orixás, entidades que representam as energias da natureza, para trazer o axé, a energia vital.

“Eu não fui lá pra consultá-lo nem nada, fui lá com Flora. Nessa ocasião, ele jogou pra ela, pra uma outra pessoa que estava conosco e pra mim. Ele disse que eu ia ser ministro. Como eu me tornei ministro de Xangô, do Opô Afonjá, depois disso, e agora, mais recentemente, ministro da Cultura, então eu achei que acabou tendo uma relevância”, conta Gilberto Gil em depoimento para a publicação.

A determinação e energia desse filho de Xangô Aganju encantou muitos dos que se aproximaram de Balbino desde os tempos de sua juventude. Em qualquer lugar que chegue, seja na Bahia, em cidades do continente africano ou europeu ou em Nova York, o líder religioso que há 36 anos criou o terreiro Ilê Axé Opô Aganju apresenta a mesma postura altiva de rei negro, com suas vestes exuberantes. A casa foi tombada pelo Instituto do Patrimônio Artístico e Cultural no ano de 2005.

“A cultura afro-brasileira precisa que exemplos como os de Pai Balbino conquistem cada vez mais visibilidade e sirvam como modelo para as novas gerações”, diz Aline Queiroz. Foi ela a responsável pela segunda parte do livro, que conta detalhes sobre o calendário de festas religiosas do Ilê Axé Opô Aganju, seus ritos e celebrações. Trata-se de uma maneira de apresentar ao leitor uma introdução ao universo ritualístico e ao cotidiano dos terreiros.

LIVRO PARA A COMUNIDADE

Tornar o legado de Balbino Daniel de Paula acessível à comunidade de baixa renda onde está localizado o Ilê Axé Opô Aganju, na Rua do Saketê, em Lauro de Freitas, os filhos-de-santo iniciados na casa receberão um exemplar da obra gratuitamente no dia do lançamento, no Palácio da Aclamação. A publicação também será distribuída para bibliotecas e escolas públicas. “Nosso objetivo é contribuir com a preservação da memória cultural e religiosa da Bahia, do Brasil e do mundo. Por isso, temos um cuidado especial em fazer com que o livro chegue às mãos das pessoas que participam da religião dos orixás diariamente”, afirma o diretor executivo da Barabô Design Gráfico e Editora, Mauro Rossi.

Para guiar o leitor por essa viagem pelo mundo de tradições do candomblé, o designer Dadá Jaques idealizou e desenvolveu um projeto gráfico especial para a publicação de 680 páginas, com enfoque especial para a riqueza de imagens. “Cada uma das fotografias utilizadas tem uma história, uma razão especial para estar ali”, explica Dadá Jaques. Em sintonia com a proposta da obra, os textos também trazem uma linguagem simples e acessível, quase como uma conversa com o leitor. “Queremos mostrar a fé, a beleza e a riqueza plástica e de significados dessas manifestações religiosas. Levar ao público esse conhecimento é também uma forma de incentivar o respeito a essa tradição ancestral”, explica Jaques.


FICHA TÉCNICA

Idealização e coordenação geral: Barabô Design Gráfico e Editora

Realização do evento de lançamento: Licia Fabio Produções Eventos e Barabô Design Gráfico e Editora

Patrocínio: Agência Africa, Citéluz e Ministério da Cultura – Lei Rouanet

Apoio: Associação Beneficente Ilê Axé Opô Aganju, Boa Luz Eco Parque-Hotel, Bomfim, Escritório de Advocacia Antonio José Marques Neto, Fundação Pierre Verger, Itamar Musse Antiquário, LA Pneus, Lícia Fábio Produções Eventos, Oxum Casa de Arte, Palácio de Oxossi e Terreiro Tuntum Olukotun

Coordenador executivo: Mauro Rossi

Textos: Agnes Mariano (Obaràyí – Babalorixá Balbino Daniel de Paula) e Aline Queiroz (Ilê Axé Opô Aganju)

Fotografias: Dadá Jaques, Haroldo Abrantes, Pierre Verger, Mauro Rossi, Marisa Vianna, Lázaro Roberto, Chrissie Wirths, Anísio Carvalho, Arlete Soares, Gerhald Haupt and Pat Binder e Marcel Gautherot

Projeto Gráfico: Barabô Design Gráfico e Editora

Direção de Arte: Dadá Jaques

Tradução: Sabrina Gledhill

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